Novo modelo de negócio agrícola ganha espaço no país

A Libero, uma empresa fundada por agricultores do Brasil central, abocanhou em pouco mais de um ano de existência uma boa parcela de um mercado dominado por grandes tradings multinacionais.

E por propiciar uma maior participação dos agricultores nos lucros da cadeia produtora, o novo modelo de negócio (um híbrido de trading, cooperativa e agente financeiro) deve crescer mais nos próximos anos, prevê o principal executivo da companhia.

"A Libero acredita na participação do produtor na cadeia do agronegócio no mundo, fornecemos a governos, incluindo a China, indústrias diretamente e também para as tradings, com muito gosto, elas são parte do nosso negócio", afirmou Adrian Moguel y Anza, em entrevista à Reuters durante o Congresso Brasileiro do Algodão.

Cerca de 30 por cento das vendas feitas pela Libero são para as tradings, mas a maior parte é realizada diretamente para o comprador final.

A Libero não paga a mais pelas commodities compradas dos seus acionistas (os produtores). Ela paga preços de mercado. Mas a vantagem é que posteriormente eles podem receber os dividendos da empresa.

"Não queremos ser uma mini Dreyfus, uma Cargill, queremos ser Libero, um modelo de negócio que divide lucros com os produtores", salientou Anza.

Outra forma de maximizar os ganhos para os produtores é a ausência dos corretores no processo de negociação.

"Quando compramos, não pagamos comissão. Compramos diretamente do produtor, não tem corretor no processo… Imagine 1 por cento (de corretagem) sobre 300 milhões de dólares, são 3 milhões de dólares", destacou.

Fundada em março de 2010 por 30 produtores brasileiros, com sede na Holanda e escritório em Genebra (Suíça), a empresa já comercializou cerca de 10 por cento das 800 mil toneladas de algodão em pluma que o país prevê exportar na temporada 2011/12.

Considerando algodão, soja e milho, a companhia negociou 140 mil toneladas, sendo a maior parte da pluma (80 mil toneladas), até porque os fundadores da companhia são principalmente cotonicultores, que respondem por 75 por cento da produção brasileira.

Os produtores acionistas da Libero ainda comercializam a maior parte da produção pelo processo tradicional, por meio de tradings e corretores, o que mostra o potencial da companhia.

Atuando somente há três meses nos mercados de grãos, o volume comercializado de soja e milho pela Libero foi de 60 mil toneladas, que deve subir para 500 mil toneladas no próximo ano, acrescentou Anza, até 2008 vice-presidente para a América Latina da francesa Louis Dreyfus, que também tem uma participação minoritária e indireta na Libero.

Anza não informa os investimentos realizados na Libero, mas destacou que o patrimônio da companhia aumentou, entre captação de recursos e retenção de lucro, cinco vezes em um ano.

"Estamos mais focados no retorno sobre o capital, o objetivo é de 15 por cento anual. Em volume vai depender da oportunidade, às vezes teremos menores margens com maiores volumes, outras menores volumes com margens maiores."

O executivo admitiu que há similaridades da Libero com as cooperativas, tradicionais instituições do agronegócio com forte atuação no Sul do país. "Fazemos um serviço similar, mas a grande vantagem da Libero é que somos uma pequena companhia global, estamos na Europa, captamos a juros suíços, trabalhamos com bancos suíços…", afirmou Anza.

Com foco maior em negociações para exportação, a Libero também realiza financiamentos e capta recursos para seus acionistas, a grande maioria produtores de Mato Grosso, embora conte também com agricultores do oeste da Bahia, Mato Grosso do Sul e Goiás.

(Reuters)
 

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