O pontapé inicial para a Bolsa

Incorporadora de Natal vai entrar no Bovespa Mais no início de 2013 e não descarta abrir seu capital.

Queremos deixar a bola na marca do pênalti para, assim que surgir a oportunidade, marcarmos o gol.” É dessa maneira que o potiguar Silvio Bezerra, presidente da Ecocil Incorporadora, define a entrada da empresa de Natal no Bovespa Mais, segmento da bolsa voltado para as companhias que desejam chegar gradativamente ao mercado acionário. A estreia deve acontecer no primeiro trimestre de 2013 e pode ser considerada como o pontapé inicial para uma oferta pública de ações. “O importante é estarmos preparados, caso apareça a oportunidade”, diz Bezerra.

Enquanto o mercado não silva o apito, a Ecocil, com um faturamento previsto de R$ 150 milhões neste ano, trabalha para atender a todas as exigências da BM&F Bovespa e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “Estamos bem avançados no processo, com divulgação de resultados e melhora na governança e transparência”, diz o executivo. Segundo ele, a empresa conta com um conselho de administração e passa por auditorias e avaliações semestrais, o que melhora a transparência do negócio e dá mais segurança ao investidor. “Criamos, também, um programa interno de gerenciamento de risco corporativo”, afirma Bezerra. “O próximo passo é a contratação de uma consultoria para auxiliar nos últimos detalhes antes de chegarmos à bolsa.”
 
José Nicolau Pompeo, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), avalia que o Bovespa Mais é uma porta de entrada para a bolsa, mas a empresa tem de provar ter credibilidade e competência para captar dinheiro. “A empresa precisa ter histórico, mostrar rentabilidade e estar consolidada para ter sucesso na bolsa”, afirma Pompeo. Na construção civil, o desafio é ainda maior. O setor demonstrou grande volatilidade ao longo deste ano. O Índice Imobiliário (Imob) da BM&FBovespa subiu 19,3% no primeiro trimestre, caiu 14% no trimestre seguinte e voltou a se recuperar, avançando 20% nos três meses terminados em setembro.

Karina Freitas, analista da corretora Concórdia, acredita que a volatilidade deve diminuir daqui para a frente. “Ao longo do primeiro semestre, as empresas reduziram seus lançamentos para girar o estoque e fizeram captações para diminuir a alavancagem, por isso elas devem estar em condições melhores no quarto trimestre”, diz ela. Construtoras como a Ecocil, que se concentram em uma só região, têm melhores perspectivas, pois conhecem bem as necessidades e as oportunidades locais. Para se diferenciar da concorrência, Bezerra colocou, literalmente, o time em campo.

Aos 44 anos, o executivo é um apaixonado pelo ABC Futebol Clube, de Natal, time da série B do Campeonato Brasileiro. Ele uniu a paixão nos campos “à estratégia nos negócios” ao lançar um empreendimento voltado para os torcedores do clube. Pouco antes de uma partida entre o ABC e o Vitória da Bahia, em 11 de abril, a planta de um apartamento cobriu o gramado do estádio Maria Lamas Farachi, em Natal, mais conhecido como Frasqueirão. A ideia era atrair a atenção dos milhares de torcedores do Alvinegro presentes. O placar final da partida ficou em um magro 1 x 1, mas Bezerra comemorou. “Vendemos, no dia seguinte, 172 unidades, das 400 disponíveis”, diz.

Naquele mês, a construtora faturou R$ 40 milhões, o melhor faturamento da sua história, segundo Bezerra. Para Fernando Pinto Ferreira, da consultoria Pluri Capital, vincular estratégias comerciais a eventos esportivos é uma tendência mundial. Estudo da consultoria mostra que a participação desse setor na economia deve crescer 22% nos próximos cinco anos, passando de 1,6% para 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2011 e 2016, quando acontece a Olimpíada no Rio de Janeiro. Não por acaso, Bezerra pretende vincular mais e mais sua construtora a esse negócio. “Quero conquistar clientes que sejam tão fiéis como torcedores”, diz ele.

(Isto é Dinheiro)

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