O salto da Mallory

A disputa no mercado de produtos eletroportáteis, que inclui ventilador, ferro de passar e cafeteira, entre outros, sempre foi acirrada, no melhor estilo briga de foice. Tanto isso é verdade que várias empresas de grande porte, como a americana General Electric e a francesa Moulinex, decidiram repassar suas operações nessa área para competidores de menor porte. Sorte do empresário catalão Àngel Riudalbás, 38 anos, sócio e CEO do grupo Taurus, de origem espanhola. Foi graças a esses movimentos que ele se tornou um dos principais grupos mundiais desse setor, com uma receita anual de US$ 700 milhões. Nos últimos anos, a companhia fez várias aquisições. A lista inclui a indiana Inalsa, a sul-africana Mellerware e as espanholas Monix e Turmix, além da distribuidora Big, situada no Marrocos. Mas foi em 2002, com a compra da brasileira Mallory, pertencente à Moulinex, que a Taurus conseguiu dar um de seus saltos mais expressivos.

Com faturamento estimado em R$ 300 milhões para este ano, a Mallory representa cerca de 25% das vendas globais do grupo. Mas Riudalbás quer mais. No início de novembro, ele esteve no Brasil para a festa de inauguração da segunda fábrica da empresa no distrito industrial de Maranguape, cidade da região metropolitana de Fortaleza. Com isso, será possível ampliar, em 65%, a capacidade produtiva atual a partir de 2012. Mais: vai investir US$ 30 milhões, no período 2011-2013, em ações de marketing e na ampliação da linha de produtos. “Queremos nos posicionar entre as três maiores marcas do Brasil”, disse à DINHEIRO o CEO do grupo catalão. Com um portfólio formado por 150 produtos, entre ferro de passar, batedeira, ventilador e pranchas para alisar cabelo, a Mallory se transformou em uma competidora aguerrida em um segmento liderado por marcas como Arno, da francesa SEB, Walita, da Philips, e a sueca Electrolux. 
 
Essa competição deve ficar ainda mais acirrada a partir de agora. Além da maior capacidade produtiva, Riudalbás conta com outros trunfos para crescer por aqui. Neste mês, a companhia coloca no mercado brasileiro a marca Taurus, composta por ferramentas elétricas e até aparelho de som. A Taurus  responde por 60% da receita mundial do grupo catalão e é destinada aos consumidores das classes A e B. Trata-se de um público que ainda não consta no radar da Mallory no Brasil. Mas a ambição do empresário catalão pode ser prejudicada por uma coincidência infeliz. É que sua grife premium, a Taurus, é homônima da empresa gaúcha que fabrica revólveres, o que poderia provocar um impacto negativo nas vendas. “Como as mulheres são as maiores compradoras de eletroportáteis, a possível associação entre as duas marcas tem pouca chance de existir”, afirma Luis Eduardo Dix, especialista em consumo. “Isso não deve influir no desempenho da empresa catalã no Brasil.”

O avanço do grupo Taurus no Brasil coincide com dois movimentos distintos, mas que são complementares entre si. A recessão na zona do euro fez com que a companhia buscasse oportunidades em outras regiões. Por outro lado, a economia brasileira e alguns elementos têm influenciado as vendas do setor. Entre eles está o crescimento do contingente de mulheres no mercado de trabalho. Hoje elas representam a maior parcela da força produtiva. Além disso, o  número de brasileiros que moram sozinhos passou de quatro milhões para sete milhões na última década. Esses fatores devem continuar favorecendo as vendas de eletroportáteis, como mostra recente pesquisa do IBGE que indica aumento de 4,6% na produção desses produtos, ante elevação de 0,4% na de linha branca e queda de 6% na de eletrônicos no acumulado janeiro-setembro, em relação a igual período de 2010. “Neste momento, o Brasil é uma de nossas maiores apostas em termos globais”, diz Riudalbás.

(Rafael Freire l Isto É Dinheiro)

+ posts

Share this post