O templo de Salomão

O empresário curitibano Salomão Soifer, 77 anos, entrou no elevador de seu escritório, no bairro Batel, um dos endereços mais nobres da capital paranaense, quando foi interpelado por uma funcionária que limpava os espelhos do equipamento. “Faz tempo que o senhor trabalha aqui?”, perguntou a funcionária. “Um pouco, só 40 anos”, respondeu de forma bem-humorada Salomão, como gosta de ser chamado. Salomão, um apaixonado torcedor do Coritiba, mas que jogou futebol como juvenil no rival Atlético Paranaense, gosta de conversar.

E ele tem muita coisa para contar, pois já atuou como relojoeiro, corretor imobiliário, advogado e dono de hospital psiquiátrico. Começou a trabalhar com oito anos como carregador de malas na estação de trem de Curitiba. Nessa época, ganhava uma comissão dos donos de hotéis por cliente que levava até eles. Com o dinheiro economizado, comprou seu primeiro patinete. “Foi o meu primeiro ativo”, lembra Salomão, em entrevista à DINHEIRO.

Hoje, o grupo Soifer, fundado por ele em 1960, é um conglomerado com interesses  em shopping centers, logística, turismo, reciclagem e hipismo. Em 2010,  o Soifer , que emprega 2,5 mil funcionários, faturou R$ 510 milhões. A mais nova tacada de Salomão é a construção do Pátio Batel, um shopping center com 20,4 mil metros quadrados de área para ser alugados para lojistas. Trata-se de um investimento de R$ 280 milhões, o maior já realizado pelo grupo. Quando for inaugurado, em setembro de 2012, abrigará 200 lojas. “Venho economizando há 10 anos para construir esse shopping", diz o empresário, que visita diariamente o canteiro de obras.
 
Parte dos recursos a ser investidos no novo shopping vem da recente venda de participação do Grupo Soifer no Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), o segundo maior do País, atrás apenas do Porto de Santos. O fundo de private equity americano Advent International comprou uma participação de 50% do terminal dos grupos nacionais TUC, Pattac e Soifer, além dos espanhóis TCB e Galigrain, no ano passado. O negócio foi estimado em R$ 750 milhões. O grupo de Salomão, que detinha 33% do TCP, reduziu sua fatia para 24%.

Dono de quatro shopping centers, Salomão teve a ideia de investir na área no final dos anos 1970. Na época, ele visitou São Paulo com sua mulher e vários casais de amigos. Ao chegar ao aeroporto, as mulheres pediram que os maridos levassem as malas ao hotel para que pudessem visitar o shopping Iguatemi. Salomão ficou com aquilo na cabeça. Em vez de ir a um jogo de futebol, resolveu conhecer o “tal Iguatemi”.
 
A conclusão do empresário foi de que tantas lojas juntas só poderia ser um bom negócio. Pelas três décadas seguintes, ele resolveu investir na área. Em 1983, ele inaugurou o shopping Mueller, o primeiro de Curitiba. Foi também pioneiro ao incorporar o shopping Rio Sul, no Rio de Janeiro. Em 1995, construiu o shopping Mueller de Joinville. Há três anos, foi a vez de estrear na região metropolitana de Curitiba, com o shopping São José, em São José dos Pinhais.

Salomão, no entanto, não se concentrou apenas nesse ramo. Ele criou a Cataratas do Iguaçu S.A. para administrar o Parque Nacional do Iguaçu em 2000. No ano passado, ganhou a concessão para cuidar do Parque Nacional de Fernando de Noronha. O empresário também fundou a Pavese, empresa do setor de reciclagem de lixo, que venceu licitação para atuar em Curitiba – a concorrência ainda é contestada na Justiça pelas empresas derrotadas.
 
Mas nada dá mais prazer a Salomão do que o Haras Springfield, uma propriedade rural de mais de 100 hectares na cidade de Tijuca, no Paraná. Lá, ele cria cerca de 40 cavalos puro-sangue inglês. “Entrei nessa porque eu gosto”, diz Salomão. “Como negócio, o turfe é ruim.” Perto de chegar aos 80 anos, Salomão não pensa ainda em se aposentar. E como bom empreendedor já deve estar pensando qual o próximo negócio a apostar.

(Sérgio Spagnuolo l Isto é Dinheiro)

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