Oferta da Cosan por fatia da ALL atrai outros vendedores

Pode não ser tão fácil o ingresso da Cosan no bloco de controle da ALL – América Latina Logística. O Valor apurou que pelo menos um dos sócios que compõem o grupo de controle da concessionária também tem interesse de se desfazer de sua participação. E sem o alinhamento de todos os acionistas desse bloco, a operação poderá não ser concluída.
 
O grupo Cosan fez esta semana proposta para comprar ações de três integrantes desse bloco: Riccardo Arduini, conselheiro da ALL, sua esposa Julia Dora Arduini, e GMI (Global Markets Investments, que representa o presidente do conselho de administração, Wilson de Lara).
 
O ponto é que pelo acordo de acionistas assinado, esses sócios estão impedidos de vender suas ações até 2013. Para se desfazerem dos papéis antes do término desse prazo, os integrantes desse grupo possuem duas opções. Ou pedem o desligamento do acordo e vendem os papéis já fora do bloco de controle – opção que não é a do interesse da Cosan. Ou conseguem a autorização dos outros signatários do acordo que têm direito de preferência na compra e poder para aprovar ou não o ingresso de um novo sócio no acordo.

Fazem parte do bloco de controle da ALL o BNDESPar, braço de participações do BNDES; o fundo BRZ ALL, que tem como cotistas Funcef, Petros, Postalis, Forluz e Valia; além da Previ, Funcef, e os acionistas que concordaram em vender parte de suas participações.
 
A oferta da Cosan pela participação de 49,1% do bloco de controle (ou 5,6% do capital total) foi de R$ 896,542 milhões. A companhia está oferecendo R$ 23 por ação da ALL – esse valor representa mais que o dobro do fechamento de ontem do mercado. A esse preço, apurou o Valor, não apenas os Arduini e GMI teriam interesse em vender suas ações.
 
A forma como a proposta da Cosan foi feita teria incomodado os demais acionistas do bloco. Arduini e GMI informaram os outros sócios do bloco de controle na sexta-feira, véspera de Carnaval, o que teria gerado um estresse.
 
O interesse da Cosan em fazer parte do controle da ALL é antigo. Há pouco mais de três anos, a companhia tentou ingressar no controle da empresa – naquela época, o fundo de participações GP Investimentos saiu do controle da ALL, em uma operação em que a sua gestora, BRZ, montou o BRZ ALL, que tem os fundos de pensão como seus cotistas.
 
A negociação para o ingresso na ALL ocorreu apenas entre o grupo Cosan e os acionistas vendedores. Os demais sócios não participaram dessas discussões. Em teleconferência com analistas na quarta-feira, o grupo informou que ainda não havia conversado com os outros integrantes do bloco.
 
Essa conversa, conforme apurou o Valor, deverá ocorrer a partir da próxima semana, mas não há, ainda, um encontro agendado. O governo federal tem acompanhado com interesse o ingresso do grupo Cosan como sócia na concessionária ferroviária. A empresa poderá fazer uma injeção de recursos na concessionária, promovendo a expansão da malha ferroviária e da infraestrutura portuária da companhia, que tem atuação no Brasil e na Argentina.
 
Nesta semana, durante o anúncio da oferta, a Cosan informou que não tem interesse em elevar sua proposta para obter controle da companhia. Com essa atual oferta, a empresa deverá pleitear assentos no conselho de administração do grupo para participar ativamente da gestão da companhia. O grupo tem como estratégia avançar no setor de infraestrutura.
 
Ontem, as ações da ALL fecharam novamente em queda, dessa vez de 5,35%, para R$ 10,25. E as da Cosan tiveram alta de 0,71%. No mercado, houve críticas ao fato de o anúncio ter sido feito sem que a operação esteja, de fato, confirmada.
 
"A incerteza sempre é prejudicial ao comportamento das cotações", afirmou um analista. Havia informações, inclusive, de que alguns fundos de pensão já haviam entrado em contato com possíveis compradores de suas fatias.
 
Os acionistas que estão como controladores da ALL possuem cerca de 38% da companhia, embora apenas 10% das ações estejam vinculadas ao acordo. Os mais de 60% restantes estão em circulação no mercado.
 
Além disso, apesar do acerto entre os acionistas para vender as ações, os outros signatários têm direito de aceitar ou não um novo integrante para o bloco de controle. Essa medida visa manter o alinhamento de interesses e estratégias entre eles. Nesse caso, vão querer saber em detalhes os planos da Cosan que justificam o interesse de ingressar na ALL pagando um prêmio bastante elevado na operação.
 
A Cosan vê a ALL como um investimento estratégico de longo prazo, considerando os potenciais projetos de investimentos em infraestrutura no país para o agronegócios. Procurados, executivos da Cosan e acionistas da ALL não foram encontrados para comentar o assunto.

(Ana Paula Ragazzi e Mônica Scaramuzzo | Valor)
 

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