Oi já concentra dívidas na Brasil Telecom

A reorganização societária do grupo Oi ainda depende de aprovação de acionistas em diversas assembleias convocadas para a manhã do dia 27, próxima segunda-feira. Mas a administração do grupo de telefonia já atua como se ela estivesse garantida.
 
Essa é a quarta tentativa da Oi de simplificar sua estrutura societária. Mas dessa vez, ao que tudo indica, apenas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – e não os minoritários – podem barrar ou adiar o desfecho da operação (veja mais nesta página).
 
A mudança na forma de gestão da Oi pode ser notada pela concentração de emissões de novas dívidas na Brasil Telecom (BrT), única empresa do grupo que permanecerá com capital aberto após a pretendida reestruturação. Conforme o Valor apurou, a administração pensa na "nova Oi" para fazer seu planejamento desde que a reorganização foi anunciada.
 
O dinheiro captado está sendo usado para refinanciar dívidas da própria Brasil Telecom e também de suas controladoras.

Foram realizadas quatro operações desde julho, para levantar um total de quase R$ 8 bilhões no mercado de dívida – sendo que o valor pode chegar a R$ 8,6 bilhões a depender da demanda para a última delas, uma emissão de debêntures que ainda está em andamento.
 
Essas captações devem mais do que dobrar o endividamento bruto da Brasil Telecom, que em setembro era de R$ 6,35 bilhões (valor que já inclui R$ 1 bilhão, levantados em julho, dentro dos R$ 8 bilhões citados acima). A dívida líquida da BrT era de R$ 4,7 bilhões e sua relação com o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), de apenas 1,5 vez.
 
O aumento das captações não eleva o endividamento líquido da empresa, uma vez que o dinheiro captado fica no seu caixa – restando como custo apenas a diferença entre os juros dos empréstimos e a taxa de aplicação no mercado.
 
Assim, se a reestruturação societária sair conforme planejado pelos controladores e pela administração, a empresa estará apenas antecipando dívidas que passarão a ser dela mesma, quando incorporar suas atuais controladoras.
 
Mas alguns minoritários contrários à reorganização questionam o que a Brasil Telecom fará com tanto dinheiro captado caso as mudanças societárias não sejam aprovadas.
 
Atualmente, a BrT já tem excesso de caixa e empresta R$ 1,6 bilhão para a controladora direta Telemar Norte Leste (TMAR).
 
O prospecto da emissão pública de R$ 2 bilhões em debêntures da Brasil Telecom, que está em andamento, diz que R$ 1,5 bilhão do valor a ser captado devem ser usados para quitar uma dívida da Tele Norte Leste Participações (TNL), do mesmo valor, que vence em maio.
 
Até o anúncio da reorganização, em 24 de maio, as dívidas financeiras do grupo se concentravam na TMAR, que tinha dívida bruta de R$ 25,4 bilhões em setembro e dívida líquida de R$ 20,76 bilhões, equivalente a 4,4 vezes o Ebitda (com base nos dados apenas da empresa, e não do consolidado).
 
A TNL, que controla tanto a TMAR quando a BrT, tinha dívida bruta pequena, de R$ 1,8 bilhão.
 
De forma consolidada – somando as dívidas e eliminando operações entre as companhias -, a dívida bruta do grupo era de R$ 27,7 bilhões em setembro. Com R$ 11,5 bilhões em caixa (também de forma consolidada), a dívida líquida da Oi era bem menor, de R$ 16,2 bilhões, equivalendo 1,8 vez o Ebitda.
 
A Oi decidiu realizar essas captações de dívida para aproveitar o bom momento do mercado para essas operações, segundo o Valor apurou. Foram três emissões de debêntures e uma emissão de bônus no mercado externo.
 
A meta do grupo é trocar dívida mais cara e curta por papéis de longo prazo e com custo mais barato. Há alguns anos, segundo uma fonte próxima, o prazo médio da dívida consolidada da Oi era de dois anos, com custo de 125% da variação do CDI. Hoje o prazo subiu para quatro anos e meio, com custo de 96% do CDI.

(Fernando Torres | Valor)

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