Oi pode investir até R$ 5 bilhões em 2011, diz Falco em Nova York

NOVA YORK – Depois de apertar o cinto neste ano para reduzir os seus níveis de endividamento, a Oi se prepara para retomar os investimentos e dar os primeiros passos em sua estratégia de internacionalização, com possíveis aquisições ou associações com empresas na América do Sul e na África. "A Oi está de volta ao jogo grande", afirmou ao Valor o presidente da companhia, Luiz Eduardo Falco, que ontem fez uma apresentação no Oi Investors Day 2010, em Nova York – apresentação feita a investidores e analistas no Hotel Plaza de Nova York, na qual os executivos da empresa responderam a perguntas sobre o seu desempenho e estratégia.

O total de investimentos deverá ficar entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões em 2011, segundo informação apurada pelo Valor, que a companhia não quis comentar. Se confirmado esse número, será um salto importante em relação ao volume de pouco mais de R$ 3 bilhões previstos para este ano.

A Oi freou os investimentos em 2010 para reduzir os níveis de endividamento, que haviam subido de forma significativa em decorrência de passivos judiciais ocultos ligados à Brasil Telecom comunicados ao mercado no ano anterior. De 2009 para cá, o endividamento líquido caiu de 2,4 para 1,9 vezes o Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Lajida), uma medida do fluxo de caixa da empresa.

O indicador deve cair mais um pouco, para 1,8, no começo do ano que vem, quando se espera que a Portugal Telecom faça um aporte de cerca de R$ 8,5 bilhões na Oi para comprar 22,4% do capital da companhia. Até 2012, o indicador deverá chegar mais perto de 1,5, nível considerado adequado pela Oi.

O ajuste feito em 2010 envolveu corte de investimentos na ampliação da base de clientes – o que fez com que a Oi perdesse algum terreno para os concorrentes mais agressivos, como a TIM, embora a empresa tenha conquistado nesse período uma importante fatia, de 18%, na telefonia móvel na Grande São Paulo. O mote da Oi foi ampliar a rentabilidade de sua base de clientes.

Agora, avisa Falco, será retomada a estratégia de crescimento tanto dos investimentos quanto da base de clientes. A Oi perdeu terreno no seu mercado mais tradicional, que inclui Nordeste e o Rio de Janeiro, mas acha que tem grandes chances de retomá-lo porque é onde tem uma participação dominante. Os planos incluem crescer em áreas geográficas relativamente novas para a companhia, como São Paulo e as regiões Sul e Centro-Oeste, e investir sobretudo em banda larga.

A Oi vislumbra um imenso mercado inexplorado na classe C, e seu crescimento dependerá da criação de produtos baratos para essa faixa de renda. Falco aposta que, se a empresa conseguir formatar um pacote de R$ 50 para internet e telefone fixo, poderá crescer bastante nesse mercado consumidor.

"A entrada da Portugal Telecom na Oi abre uma oportunidade para impulsionar a internacionalização da empresa", reafirma Falco. O mercado de telefonia de Portugal é relativamente maduro, com poucas oportunidades de expansão, e a Portugal Telecom tem basicamente a alternativa de internacionalização para crescer.

Não há nada definido ainda, mas Falco vê boas chances de criar operações ou adquirir empresas na África em conjunto com os portugueses, com cada empresa entrando com uma participação de 50% nos negócios. "Na África, os negócios serão com a Portugal Telecom, onde eles já têm experiência", afirmou ao Valor um acionista da empresa. A Portugal Telecom já atua em países como a África do Sul e o Marrocos.

Até fim de janeiro, deverá ser fechado o acordo de acionistas da Portugal Telecom com a Oi. Não há qualquer informação oficial ainda, mas a expectativa dos analistas do mercado é que os portugueses tenham assentos no conselho de administração e seja criada uma política de distribuição de dividendos.

Outra frente na internacionalização da Oi será na América do Sul. A direção da tele acha que há espaço para comprar ou se associar a empresas locais ou nacionais, espremidas com a concorrência das duas gigantes multinacionais que atuam na região: os espanhóis da Telefónica e os mexicanos da Telmex, que opera no Brasil por meio da Claro.

Quando questionado se a Entel do Chile estaria entre as possibilidades de negociação, Falco afirmou que esse é um exemplo de empresa que enfrenta a concorrência de duas multinacionais, mas ressaltou que não há qualquer tipo de negociação em andamento. De concreto, diz, houve apenas sondagens do governo de Bogotá, na Colômbia, para que a Oi participe do leilão de privatização de sua empresa local. Não foi tomada decisão a respeito do assunto.

Na América do Sul, afirma o representante de um acionista da Oi, provavelmente a empresa contará com o apoio da linha de financiamento do BNDES para incentivar a internacionalização das companhias brasileiras. "É uma linha muito interessante", comentou o acionista.

Convidado a fazer uma apresentação sobre o BNDES e o ambiente macroeconômico, o presidente do órgão financeiro, Luciano Coutinho, disse ontem que a internacionalização das empresas brasileiras deverá continuar a ser uma das prioridades do banco no governo Dilma Rousseff, embora não tenha comentado eventual apoio aos planos da Oi. Coutinho, que é cotado para continuar no cargo, afirma que até agora não conversou sobre o assunto com a presidente eleita.

(Alex Ribeiro | Valor)

 

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