Os fundos de private equity em evidência

No primeiro semestre, os investimentos de private equity (fundos que compram participação em empresas) no Brasil estiveram presentes em 42% das transações de fusões e aquisições. E, nos próximos anos, esses fundos estão capitalizados para injetar cerca de US$ 15 bilhões em nossa economia. Empresas dos mais diversos setores ganham e vão ganhar fôlego impulsionadas por essa fonte de recursos.

No entanto, os investidores desse tipo de fundo aportam mais do que dinheiro. Eles levam para as companhias também conhecimento de negócios, melhores práticas de governança, profissionalização e a cultura de planejamento de médio e longo prazos.

No Brasil, o mercado de private equity tem sido estimulado por uma combinação de fatores. A sofisticação e a liquidez do nosso mercado de capitais – que registrou 181 IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial) e follow-ons nos últimos cinco anos – e os novos modelos de financiamento e de alternativas de desinvestimento para os fundos de private equity são alguns dos impulsionadores de negócios.

Mas não é somente em economias em expansão que os fundos de private equity têm assumido uma posição de relevância. Em países desenvolvidos, eles têm desempenhado um papel importante na recuperação dos desdobramentos da crise financeira global, iniciada em 2008.

Embora existam significativas diferenças sociais, econômicas e de perspectivas de mercado, dentre outras, a atuação destacada dos investidores de private equity é uma característica comum. Os resultados de uma pesquisa sobre investimentos de private equity publicada recentemente pela PwC evidenciam a importância desses fundos nas duas realidades.

Resultados. Antes da crise internacional de 2008/2009, a indústria de private equity, nos países desenvolvidos, era caracterizada por transações fortemente alavancadas. Com a desaceleração da economia, a prioridade dos investidores passou a ser o desempenho operacional das empresas neste novo contexto. No Brasil, dada a característica dos investimentos sem alavancagem financeira, o foco sempre esteve no aspecto operacional, aproveitando-se também fortemente no crescimento e nas oportunidades de consolidação de setores.

Os resultados das pesquisas realizadas pela PwC em anos anteriores indicavam que as empresas investidas estavam fortemente concentradas no corte e na otimização de custos e este foi o direcionador da indústria nos países desenvolvidos durante o período de 2008 a 2010: sobrevivência no momento de crise.

Atualmente a percepção é muito mais completa. O contexto atual demonstra que as empresas investidas profissionalizaram-se e tiveram desempenho superior ao esperado. Além disto, elas têm hoje uma estratégia muito clara da necessidade de crescimento e de perpetuidade de suas operações.

A expansão dos negócios é o principal objetivo dos investidores e das empresas investidas (portfolio companies), que voltam a considerar aquisições e consolidações. O período de permanência nos investimentos (holding periods) está maior.

Alavancagem. Os resultados da atual pesquisa revelam, no entanto, que a alavancagem financeira continua sendo uma preocupação, pois ainda há muitas dívidas nos balanços e haverá a necessidade de rolagem – sendo que parte significativa de perdas ainda não está reconhecida. Mas também já verificamos a volta das alternativas associadas a estruturas incorporando dívidas no mercado internacional – mesmo que em montantes menores e menores graus de alavancagem.

A capacidade de atrair e reter talentos é outro importante diferencial numa época em que há uma generalizada escassez de pessoal qualificado em todos os setores (e economias), assim como absorver a expertise financeira do investidor que chega com os recursos de private equity.

E por fim, mas não menos importante, é fundamental ter em prática os princípios de governança corporativa, que em períodos de crise ou bonança é a ferramenta de controle e valorização das empresas.

Estes pontos de atenção detectados na pesquisa da PwC são aplicáveis em qualquer economia. Seja no Brasil, onde o investidor de private equity tem um papel importante na consolidação do País num momento em que há enorme necessidade de investimentos em diversos setores, seja nos mercados desenvolvidos, como a Inglaterra, que necessitam desse tipo de investimento para retornar ao patamar de atividade econômica pré-crise.

(*Alexandre Pierantoni – O Estado de S.Paulo)
(* Sócio da pwc-brasil e especialista em fusões e aquisições e fundos de private equity)

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