País terá uma fábrica nova por ano até 2015

Entre 2012 e 2015, pelo menos quatro novas fábricas de celulose, todas com capacidade de produção em torno de 1,5 milhão de toneladas anuais, devem entrar em operação no país. A oferta adicional vem em bom momento, diante do crescimento projetado para o consumo mundial, especialmente de celulose de fibra curta (especialidade dos produtores nacionais), e deverá gerar pressão "natural" sobre as cotações da matéria-prima, em razão da escala das unidades. Contudo, no longo prazo, esse ritmo de expansão traz mais danos do que benefícios. "O setor tem uma tendência a destruir valor. Assim, o cronograma dos investimentos tem de ser muito bem analisado", afirma o vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da finlandesa Pöyry para América Latina, Carlos Alberto Farinha e Silva.

Segundo estudo da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), até 2020 os investimentos do setor deverão alcançar a marca de US$ 20 bilhões. No segmento de celulose branqueada de eucalipto, já confirmados, há quatro projetos em andamento – um da Eldorado Brasil, dois da Suzano Papel e Celulose e um da Fibria – com entrada em operação a cada ano entre 2012 e 2015. Além desses empreendimentos, Cenibra, Stora Enso (sócia da Fibria na Veracel), CMPC (chilena que comprou a unidade Guaíba da Fibria), Klabin e novamente Suzano e Fibria têm planos de novas fábricas ou ampliação de capacidade até 2020. "O modelo de uma nova fábrica por ano não é sustentado. Naturalmente haverá algum projeto que escorregue no tempo", acrescenta Farinha e Silva.

Num primeiro momento, a absorção da matéria-produzida pelas fábricas previstas até 2015 será facilitada pelo aperto na relação entre oferta e demanda que marca em 2010 o mercado de celulose, e contribuiu, junto com o câmbio, para aumentos sucessivos nos preços internacionais da fibra. Até 2025, segundo dados da Pöyry, o consumo mundial de celulose deverá crescer 1,5% ao ano, para 516 milhões de toneladas – em 2008, foram 358 milhões de toneladas. Especificamente a fibra curta deverá crescer a taxas de 3% ao ano, puxada principalmente pela celulose de eucalipto, que tem o Brasil como maior produtor mundial.

Além disso, já estão entrando em operação grandes máquinas de papel na China, com capacidade entre 1 milhão e 1,5 milhão de toneladas anuais, que têm consumido preferencialmente a celulose nacional. Em 2008, os países asiáticos foram responsáveis pelo consumo de 35% da celulose de mercado produzida mundialmente. Em 2025, a expectativa é a de que respondam por 50% – somente a China deverá importar 12 milhões de toneladas por ano.

"O cenário é realmente positivo, mas existem restrições para o desenvolvimento", alerta Farinha e Silva. Alcançado o ponto de equilíbrio entre oferta e consumo, há risco de grandes excedentes no mercado global, o que pressionaria ainda mais os preços da celulose. E esse cenário pode ser acelerado caso não haja disciplina na construção de novas fábricas. "Haverá uma ligeira pressão nos preços, entre 2014 e 2015, por conta dos novos projetos. É preciso que antes o mercado se restabeleça para que então, aos poucos, a oferta cresça."

A restrição na oferta de madeira também deve entrar na pauta das produtoras de celulose, conforme o especialista. "Hoje a capacidade industrial está indo mais rápido do que as florestas. Isso não é bom no médio e longo prazos", destaca.

(Stella Fontes | Valor)

 

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