Por matéria-prima, Amyris vai ampliar aposta em parcerias

A Amyris, multinacional de biotecnologia com sede na Califórnia, planeja investir perto de US$ 5 bilhões no Brasil até 2020, junto com parceiros locais, como parte de uma estratégia para garantir o suprimento de matéria-prima num mercado que ora destina mais cana-de-açúcar para produzir álcool combustível, ora para açúcar, dependendo das condições de mercado.

"Lidar com uma indústria que muda a produção de açúcar para energia, e vice-versa, será sempre um problema", afirmou o presidente mundial da Amyris, John Melo, ao Valor. Esse é um desafios enfrentados por uma companhia de alta tecnologia que começa a construir no Brasil, a partir do zero, uma plataforma comercial para fabricar produtos como lubrificantes, combustíveis de aviação e insumos químicos para cosméticos e perfumes, entre outros.

Nas ultimas semanas, os preços do álcool combustível entraram em trajetória de alta em parte porque, em meses anteriores, usinas brasileiras decidiram priorizar a produção de açúcar, cujas cotações eram – e ainda são – muita atrativas. Para suprir a demanda interna, o Brasil chegou até a importar álcool dos Estados Unidos, e a associação que representa o segmento no país, a Unica, conclamou seus associados a produzirem mais combustível de cana.

"Precisamos construir uma indústria de energia de biomassa, algo que algumas companhias no Brasil já estão fazendo, para assegurar o acesso à cana-de-açúcar no longo prazo", afirmou Melo, da Amyris. "Vemos empresas como Cosan, São Martinho, Guarani e Coopersucar como ”amigos” com quem dividimos o interesse comum de criar o máximo valor da cana-de-açúcar."

A Amyris busca escala e baixos custos no Brasil numa aposta de que é viável usar cana-de-açúcar para substituir em escala comercial um maior número derivados de petróleo. A empresa foi fundada em 2003 por alguns professores da Universidade da Califórnia em Berkeley e, no ano passado, tornou-se uma das primeiras da geração de combustíveis alternativos a abrir o capital em bolsa nos Estados Unidos. A Amyris desenvolveu leveduras que, em vez de transformar cana em álcool, produzem hidrocarbonetos.

O modelo de negócio da Amyris é formar parcerias com empresas do segmento de álcool e açúcar, montando fábricas que produzem insumos químicos e biocombustíveis ao lado de usinas já existentes que hoje são dedicadas ao álcool e açúcar. A vantagem desse sistema, diz a Amyris, é cortar os custos dos investimentos. Segundo Melo, o conjunto de investimentos deverá chegar a valores entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões até 2020, incluindo dinheiro empregado pela Amyris e suas parceiras.

Em Pradópolis, interior de São Paulo, a empresa formou uma parceria com a usina São Martinho, com investimentos de US$ 50 milhões e início das operações previsto para 2012. Antes disso, a Amyris começa a produzir em Piracicaba, também em São Paulo, por meio de um contrato de produção assinado com a belga Biomin. Nesta semana, foi anunciado um acordo com a Paraíso Bioenergia para produzir em Brotas, outra cidade do interior paulista. A empresa também tem parcerias com Cosan, Bunge, Guarani e São Martinho para ter acesso a até 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar esmagada por ano.

Num primeiro momento, a Amyris está se dedicando a alguns segmentos mais rentáveis de produtos químicos, como os caros insumos usados na produção de cosméticos de alto luxo. Num passo seguinte, quando tiver mais escala e os custos de produção forem menores, a empresa vai entrar no mercado de biocombustíveis, como biodiesel e bioquerosene de avião, e de química geral.

(Alex Ribeiro | Valor)

+ posts

Share this post