Preço alto não inibe demanda no setor imobiliário

O crescente nível de financiamento imobiliário no Brasil é sustentado pelos sólidos fundamentos da economia, conforme afirmam especialistas do setor.

Números não faltam para comprovar. A taxa de desemprego em julho, por exemplo, atingiu o menor valor para um mês de julho desde o início da série histórica. O rendimento real habitual também atingiu recorde para o mês, a R$ 1.612,90 por trabalhador.

Emprego em expansão e juros controlados são os ingredientes essenciais na compra de imóveis.

De janeiro a julho, o crédito imobiliário mostra dados robustos, com o montante financiado alcançando R$ 43,645 bilhões, valor 50,9% superior ao visto um ano antes, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

O número de unidades financiadas chegou a 275,4 mil imóveis, alta de 21,2% na mesma base de comparação.

"Hoje o mercado está favorável ao consumidor, porque anos atrás a taxa de juros era maior. Atualmente pode-se comprar um imóvel com juros de 8% a 12% ao ano", ponderou Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Segundo Celso Petrucci, economista-chefe do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP), por mais que a economia brasileira sofra os efeitos psicológicos negativos da crise da dívida na Zona do Euro e da debilidade fiscal nos Estados Unidos, o desempenho real está forte.

"Mesmo com crescimento menor, nossa economia vai indo bem", disse Petrucci, destacando que a taxa de juros de financiamento não sofreu aumento neste ano, ao contrário da taxa básica de juros (Selic), erroneamente relacionada ao crédito imobiliário.

A crescente concorrência entre as instituições financeiras, por sua vez, também é elemento favorável ao consumidor, além de contribuir para a expansão dos financiamentos.

"Antes a Caixa Econômica Federal era quase exclusiva no mercado. A briga entre os bancos que atuam no financiamento deixou a concessão de crédito mais flexível. Hoje já é possível financiar 100% de um imóvel", relatou Oliveira.

Já a demanda recebe reforço de uma nova classe C, resultante da migração das classes D e E. "A demanda é forte para aquisição do primeiro imóvel. Existe a falsa impressão de que há muito investidor comprando imóvel, mas a maior parte é de pessoas buscando o primeiro imóvel, na faixa de 25 a 35 anos", conta Petrucci.

Preços

É consenso entre os especialistas que o preço do imóvel vem apresentando altas excessivas. "Saiu de uma normalidade, mas a previsão é de que esse aumento seja atenuado em 2011", considerou Petrucci.

Já Marco Aurélio Luz, presidente da Associação dos Mutuários de São Paulo e Adjacências (Amspa), é mais enfático em sua opinião. "Tem que recuar, já passou do limite, não há justificativa para esse preço. Até colocam a demanda como justificativa, mas aí poderiam reduzir para vender mais", disse.

Mesmo com preços elevados, Luz afirma que o índice de inadimplência entre os mutuários está equilibrado, graças à estabilidade econômica do País.

O executivo faz apenas um alerta sobre as diferentes taxas que corrigem os contratos. Para aqueles que possuem imóvel na planta, ainda em fase de construção, os contratos são corrigidos pelo Índice Nacional de Custo da Construção-M (INCC-M). No ano, esse índice acumula variação de 6,31% e, nos últimos 12 meses, a taxa registrada é de 7,71%.

A correção pelo INCC acaba sendo superior à correção pela taxa referencial (TR), que ocorre após a entrega das chaves, quando o financiamento passa a ser bancário e não mais com a construtora. No ano, a TR acumula variação de 0,88% e, nos últimos 12 meses, a taxa registrada é de 1,15%.

(Micheli Rueda l Brasil Econômico)

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