Principal compra 60% da Claritas

Depois de 12 anos no Brasil no negócio de previdência privada, por meio de uma sociedade com o Banco do Brasil na Brasilprev, a americana Principal Financial Group decidiu ampliar sua atuação para o mercado de gestão de recursos. Ontem, anunciou a compra de 60% do capital da Claritas Administração de Recursos, a gestora independente fundada em 1999 que reúne hoje patrimônio de R$ 3,1 bilhões, distribuídos entre fundos de investimentos, estruturados e o braço de gestão de fortunas. O valor da transação não foi revelado.

Para a Principal, que está na América Latina com gestão local de recursos no Chile e no México, faltava uma aliança estratégica no mercado brasileiro, afirma o principal executivo da Principal na região, Fernando Torres. "Esses são os três países mais importantes da América Latina, com 95% do mercado", diz. Ele lembra que a estabilidade e o crescimento econômico da região têm chamado a atenção de investidores estrangeiros.

No Chile, conta, há um interesse crescente entre investidores institucionais e "family offices" por estratégias de América Latina. "A parceria (com a Claritas) será um diferencial importante para a Principal, são poucos os concorrentes da região com expertise em Brasil", destaca.

Da mesma forma, lembra, instituições brasileiras têm procurado avançar para outros mercados da América Latina. O caso mais recente foi o da compra da corretora chilena Celfin Capital pelo BTG Pactual. Sem contar Brasil, a América Latina reúne US$ 490 bilhões em fundos de investimento e de pensão. Já o mercado brasileiro de fundos tem RS 1,8 trilhão em ativos sob gestão.
 
Apesar do volume pequeno de recursos relativamente ao mercado global – os Estados Unidos, por exemplo, administram US$ 11 trilhões -, a América Latina é a região que mais avança. Levantamento da consultoria McKinsey aponta que, entre 2006 e 2009, a indústria latino-americana de asset management cresceu a uma taxa média de 15% ao ano.

Projeções do banco de custódia americano State Street, conforme mostrou reportagem do "Financial Times" publicada na quarta-feira no Valor, mostram que os ativos na região, considerando Brasil, México, Chile, Colômbia e Peru, deverão duplicar nos próximos cinco anos, aproximando-se dos US$ 5 trilhões.

Sócio da área de serviços financeiros da KPMG, Marco André Almeida diz que a consultoria tem sido procurada por muitas instituições estrangeiras interessadas em entrar no Brasil via associação ou aquisição. "A crise adiou os planos, mas o interesse sempre existiu", diz. Segundo ele, as empresas estão de olho no potencial de crescimento do país, muito maior que o de economias maduras.

A aquisição do controle da Claritas pela Principal não deve significar mudança no dia a dia da gestora. Em geral, diz Almeida, a compra está condicionada à permanência dos gestores. Na Claritas, os sócios-fundadores Carlos Ambrósio, Marcelo Karvelis e Helder Soares vão continuar na companhia, com 40% do capital, e à frente da gestão. O time de gestão e o histórico de performance de longo prazo da Claritas chamaram a atenção da Principal, diz Torres. Um dos mais antigos e maiores fundos da casa, com R$ 270 milhões, o Claritas Long Short superou o CDI em todos os anos desde o início, em 2002.

Do lado da asset, a aliança com a Principal vai acelerar seu crescimento, com a ampliação da oferta de produtos e o acesso a investidores estrangeiros graças à presença global do grupo americano, destaca Ambrósio. "A Principal tem a mesma linha de atuação da Claritas, é uma gestora de recursos que busca oferecer produtos com maior valor agregado", ressalta. E o investidor brasileiro, continua, vem se sofisticando e buscando a diversificação. Ele cita o aumento da demanda por ativos imobiliários e de crédito. O próximo passo é a renda variável, diz. "O juro baixo vai forçar o investidor a buscar produtos mais sofisticados", acrescenta Torres, da Principal.

(Alessandra Bellotto | Valor)

+ posts

Share this post