Regulação trava a venda da STP

Os principais grupos de concessão de rodovias tentam, desde meados do ano passado, vender uma parte significativa da Serviços e Tecnologias de Pagamento (STP), dona dos meios de captura Sem Parar e Via Fácil – usados em pedágios e estacionamentos. Se antes a ideia de se tornar um sócio era encarada como uma grande oportunidade, pelo potencial de crescimento e diversificação da empresa, hoje traz incertezas, principalmente devido às novas regulamentações no segmento, como a quebra de monopólio da STP. Por conta disso, potenciais compradores da empresa, avaliada ao todo em R$ 2 bilhões, já começam a desistir do negócio.
 
A operação chamou a atenção do mercado porque, além do expressivo valor da transação, envolvia grandes grupos de capital aberto: CCR, OHL Brasil e EcoRodovias, entre os vendedores, e Redecard e Cielo, dentre os interessados na compra. Além das operadores de cartão, estão entre possíveis novos sócios companhias estrangeiras e fundos de private equity, como os da gestora Advent International.
 
Antes, os envolvidos diziam que chegariam a um acordo sobre a transação até novembro de 2011. Após quatro meses do prazo, as negociações estagnaram. Questões regulatórias acerca do pagamento eletrônico de pedágio estão tirando o interesse dos possíveis compradores – como foi o caso da Advent, que não tem mais interesse na transação.
 
Dentre as tais questões regulatórias está a decisão do governo do Estado de São Paulo, divulgada há cerca de uma semana, de fazer mudanças no sistema que podem facilitar a entrada de novos concorrentes no segmento. A cobrança eletrônica de pedágio nas rodovias paulistas passará a operar em uma nova rádio-frequência (915 Mhz). O sistema atual, da STP, adota a frequência de 5,8 GHz.
 
A comercialização do novo tag (dispositivo de captura dentro do veículo) será feita por empresas privadas, de acordo com o governo paulista. A intenção é que no futuro haja várias operadoras desse tipo de pagamento, e que o usuário escolha uma delas – como os serviços de telefonia. "Esses movimentos do Estado diminuíram o interesse pelos ativos da STP", resume um analista que prefere não se identificar.

A entrada de mais concorrentes no segmento mexe com os interesses da STP, que deteve por 12 anos o monopólio no Estado de São Paulo e hoje é investigada pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça. A empresa é suspeita de cartel, abuso de posição dominante, preços abusivos e criação de dificuldades ao desenvolvimento da concorrência. Há seis meses, o governo estadual autorizou uma concorrente a operar: a DBTrans, que atua nos Estados do Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.
 
"As negociações estão no ”freezer” porque houve uma divergência na negociação e não foi possível superá-la", afirma uma fonte envolvida na operação. Os grupos de concessões rodoviárias não devem sair do negócio e o novo investidor deverá ter de 40% a 60% das ações da STP. A busca por um investidor será retomada até o fim do semestre, declarou Marcelino Rafart de Seras, presidente da EcoRodovias, em reunião com analistas de mercado nesta semana.
 
Antes dos temores sobre a empresa, a negociação estava aquecida e o interesse tinha basicamente dois motivos. O primeiro era o crescimento orgânico do negócio. Ao final de dezembro, por exemplo, o número de usuários do STP expandiu 26,4% em relação a dezembro de 2010, alcançando 3,24 mil tag”s. Na mesma comparação, a receita subiu 32% e o lucro, 45%. Os sistemas do STP estão presentes em 94% da malha rodoviária pedagiada e em 111 estacionamentos. Mais de 60% do total da receita de pedágio da CCR, por exemplo, é arrecadada por meio do STP.
 
Além do crescimento já observado e das perspectivas para os próximos anos, a ideia dos acionistas do STP era expandir a área de atuação da empresa. Em entrevista ao Valor há seis meses, Pedro Donda, presidente da STP, disse que a intenção era transformar o sistema em uma espécie de cartão de crédito para pagamento em lojas de conveniência, postos de gasolina e até fretes de caminhoneiros.
 
Para isso, a companhia buscava o conhecimento de uma empresa ligada ao serviço de crédito. Além disso, contar com esse tipo de companhia no negócio poderia fazer com que parte do risco do novo serviço de crédito fosse transferido às instituições financeiras controladoras de Redecard (Itaú) e Cielo (Banco do Brasil e Bradesco). Por esses motivos, segundo especialistas e analistas do setor, a entrada de qualquer uma dessas duas companhias como investidor estratégico da STP "faz sentido".

(Fábio Pupo, Aline Lima e Vinícius Pinheiro | Valor)

 

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