Resistência à oferta da Redecard

A definição do preço a ser pago pelo Itaú Unibanco na oferta para fechamento de capital da Redecard começa a ganhar contornos mais tensos, sinalizando que o banco pode ter que desembolsar mais do que os R$ 12 bilhões inicialmente previstos se quiser concluir a operação.
 
Na sexta-feira, apenas três dias após o anúncio da operação por parte do Itaú, o conselho da credenciadora de cartões de crédito e débito aprovou a lista de três instituições que poderão elaborar o laudo de avaliação que servirá de referência para a operação.
 
Em assembleia da Redecard, ainda a ser convocada, os acionistas poderão escolher entre o Bank of America Merrill Lynch (BofA), o Credit Suisse e o Rothschild & Sons. As duas primeiras instituições já têm uma cobertura sistemática das ações da Redecard. O preço-alvo definido pelo BofA para os próximos 12 meses é de R$ 34,5 por ação, enquanto o Credit Suisse prevê um preço justo de R$ 35.

As avaliações estão alinhadas com os R$ 35 por ação propostos pelo Itaú – prêmio de 9,2% em relação ao pregão do dia 6, anterior ao anúncio da oferta -, sinalizando que o laudo não deve trazer grandes surpresas em relação ao valor estimado pela controladora. Conforme esclarecido pelo banco, o preço de R$ 35 não inclui os dividendos de cerca de R$ 1,10 que serão pagos em março. Em meio às incertezas, a cotação da ação na bolsa gira em torno do preço proposto pelo Itaú mais os proventos – ontem fechou a R$ 36,20.
 
Ao mesmo tempo, alguns investidores começam a mostrar insatisfação em relação ao preço. A Vontobel, uma gestora de recursos americana que tem cerca de R$ 80 milhões investidos em Redecard – representantes de 0,7% do capital em circulação -, afirmou ao Valor que não vai aderir à oferta.
 
Segundo Sudhir Roc-Sennett, gestor da Vontobel, que administra US$ 20 bilhões, o preço justo para a oferta seria de R$ 55. Isso porque, apesar de o prêmio embutido na proposta, o valor implica uma relação entre preço e lucro de 16 vezes, bastante abaixo do múltiplo de 30 vezes observado na abertura de capital em 2007.
 
"Entendemos que o ambiente competitivo mudou, com a abertura da concorrência entre credenciadoras de cartões, mas acreditamos que há espaço para buscar o múltiplo de preço e lucro próximo de 20 vezes, que está embutido nesses R$ 55", afirmou o gestor.
 
Questionado sobre a adesão de outros fundos à oferta, Roc-Sennett não quis citar nomes, mas ressaltou: "Os fundos de longo prazo com o mesmo perfil que o nosso provavelmente têm essa mesma visão". Para concluir o fechamento de capital, o Itaú precisa que acionistas representantes de pelo menos dois terços das ações em circulação aceitem a oferta.
 
Como a empresa tem uma base acionária dispersa, o posicionamento da Lazard Asset, que detém 10% do capital total e quase 20% dos papéis em circulação, será decisivo para a aceitação do valor. Sozinha, a gestora pode solicitar um novo laudo, caso não concorde com a primeira avaliação. A Lazard não quis se pronunciar.
 
Um gestor de fundo brasileiro com grande fatia de Redecard, disse estar certo de que haverá "uma boa briga" em torno da oferta.

(Valor)

 

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