Sá Cavalcante decide ter mais shoppings

O Grupo Sá Cavalcante, tradicional construtora brasileira fundada na região Nordeste, está num processo de reestruturação de seus negócios para tentar fazer, em três anos, o que não conseguiu fazer em mais de uma década de operação. O comando da empresa, liderado pela família de mesmo nome, entende que é preciso ampliar o tamanho da operação de shopping centers dentro do grupo – tímida em relação às empresas de capital aberto do setor.
 
A percepção é que o negócio já poderia estar muito maior do que está hoje – são três empreendimentos em funcionamento – e para isso, ajustes no comando e novas captações de recursos foram feitas nos últimos meses. "Não é hora de se desfazer de nada, mas de criarmos uma escala maior no negócio de shoppings, com possibilidade de acordos com fundos ou outras empresas, e até uma abertura de capital mais para frente ", diz Walter de Sá Cavalcante, vice-presidente do grupo.
 
É uma postura que reflete medidas tomadas pelo comando nos últimos anos. A empresa teve que vender o seu shopping mais importante em 2010 e percebeu, em 2011, que da forma como estava cuidando do negócio não conseguiria se tornar um consolidador nesse mercado. Dona de três empreendimentos hoje (dois no Espírito Santo e um no Maranhão), o grupo vendeu o Shopping Tijuca há um ano e meio, por R$ 800 milhões para a BRMalls (que teria aproveitado um entrevero entre os sócios para fazer a sua proposta). Como eram só dois empreendimentos na carteira naquele ano, restou-lhe apenas o shopping Praia da Costa, em Vila Velha (ES).
 
"Na época, nas conversas com BRMalls, tivemos uma noção de como nós e de como eles trabalhavam. Eles [BRMalls] negociaram quase tudo com uma equipe interna. Nós vínhamos com advogados, consultores. Tivemos uma ideia de como precisávamos estar melhor preparados daqui para frente", disse Walter, filho do fundador.

A percepção ganhou força no ano passado, quando a companhia começou a tomar medidas para reorganizar a sua estrutura, e ao mesmo tempo, precisava inaugurar dois shoppings – Mestre Álvaro, em Serra (ES), e Shopping da Ilha, em São Luís (MA). "Atrasamos as aberturas em 15, 20 dias. O fato é que tivemos que trocar o pneu com o carro andando", lembra ele.
 
As mudanças mencionadas por Sá Cavalcante fazem parte de um processo de ajustes internos ainda em andamento. "Para criarmos uma empresa de shoppings maior, precisávamos mudar a linha de frente e trazer paixão para o negócio. Começamos trocando diretores". Seis das 13 diretorias que existem no grupo hoje foram criadas, em parte para atender melhor a área de shoppings. A última contratação de peso foi há um mês, de Rodrigo Roman (Ex- Racional), para uma função que até então não existia, de diretor de construção de shoppings. "Revisamos a política de remuneração, trouxemos pessoal de banco, da BRMalls e da PDG. Para contratar, precisamos mostrar que levávamos o projeto de shoppings a sério".
 
Com a equipe pronta, buscaram novos recursos para expansão e começaram a colocar novos projetos na rua. Com três shoppings no portfólio hoje, a empresa está com outros três projetos em construção, para inaugurações a partir de 2013, e três projetos para iniciar a construção em dois ou três anos. Ou seja, serão nove shoppings (em construção ou prontos) até o ano de 2016, calcula a companhia. Um deles, o Shopping Plaza Guarulhos, é o primeiro empreendimento do grupo no Sudeste (esse projeto é comentado desde 2009).
 
Em processo de construção estão Shopping Moxuara, em Cariacica (ES); Shopping Rio Poty, em Teresina; e Shopping Montserrat, em Laranjeiras (ES). E para iniciar a construção estão Shopping Metrópole, em Ananindeua (PA); Shopping Ilha Mall, em Vitória; e o Shopping Plaza Guarulhos.
 
Para que isso avance, a empresa tem fechado operações de financiamento no mercado. A empresa fez uma emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) com o Bradesco em 2011 no valor de R$ 100 milhões, para a operação de shoppings. Neste mês, a companhia deve fechar a primeira emissão pública de debêntures no valor de R$ 350 milhões. A aquisição de terrenos é feita normalmente com caixa próprio. "Calculamos que em um ano e meio, a contratação de dívida deve ficar ineficiente se comparada a outra operação, como entrada de um fundo ou a venda até de uma participação minoritária da parte de shoppings da empresa", disse Sá Cavalcante. "Com base nisso podemos pensar em uma associação e até IPO, se acharmos que faz sentido" e completa: "Mas antes, precisamos ganhar musculatura e é o que estamos fazendo agora".

(Adriana Mattos | Valor)

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