Sem PanAmericano, Silvio Santos deve apostar na Jequiti

A venda do Banco PanAmericano ao BTG Pactual encerra um episódio turbulento na carreira do empresário e apresentador Silvio Santos. Embora os comunicados à imprensa, divulgados na noite de ontem (31/1), não detalhem o destino da dívida do banco – avaliada em 4 bilhões de reais -, Silvio afirmou a jornalistas que não deve mais nada. Se isto for verdade, ele estará livre para tocar seus outros negócios, que haviam servido de garantia ao empréstimo de 2,5 bilhões de reais para tapar o rombo do banco. Sem o PanAmericano, que respondia pela maior parcela do faturamento, o grupo precisa agora apostar em outras frentes, e a mais promissora é a Jequiti Cosméticos. Isto porque, sorrisos à parte, Silvio ainda precisa trabalhar muito para reverter a difícil situação de algumas de suas principais companhias.

De acordo com Osmar Camilo, analista-chefe da corretora Socopa, a Jequiti seria a menina dos olhos do grupo agora. O primeiro motivo é seu potencial de mercado – a estimativa é que as vendas da marca tenham atingindo 380 milhões de reais em 2010 (em 2009, o faturamento bruto da companhia foi de 218,4 milhões de reais, cifra 191% acima do registrado no ano anterior).

Boa imagem

Outro ponto favorável à Jequiti foi a estratégia de Silvio Santos, na época da criação da empresa, de atrelar sua imagem à do SBT, sua rede de televisão. A emissora sempre foi uma forte aliada do empresário e apresentador na divulgação de todos os produtos vendidos pelo grupo.

“Alinhar as imagens das empresas do grupo ao banco seria a alternativa mais viável no passado, já que instituições financeiras tendem a estar associadas à credibilidade”, afirma Evaldo Alves, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas. “A longo prazo, não ter feito isso foi uma decisão mais que acertada de Silvio, já que o responsável pela imagem do grupo é o SBT e não o banco”.

Os planos previstos para a Jequiti incluíam o investimento em fábricas próprias e dois novos centros de distribuição – um em Porto Alegre e outro no Nordeste. Uma das fábricas seria construída em Osasco, na Grande São Paulo. A outra, ainda sem endereço definido, responderia pelo fornecimento de 80% dos produtos da marca.

O economista acredita que havia uma independência financeira das demais empresas do grupo em relação ao Panamericano e que, por isso, o desempenho das demais empresas não deverá ser abalado com a venda. “O banco não estava financiando recursos para o grupo, mesmo porque, se estivesse, duvido que as empresas serviriam de garantia”.

Empresas no vermelho

Se a Jequiti surge como a principal opção para o crescimento do grupo, em outras áreas, o apresentador ainda terá muito trabalho pela frente. Isto porque parte de suas empresas apresenta prejuízos que precisam ser sanados.

Em 2009, por exemplo, a divisão de comércio e serviços do grupo – da qual a Baú Crediário faz parte – teve um prejuízo de 23,4 milhões de reais. Quando a crise do PanAmericano veio à tona, a rede varejista foi posta à venda. O principal problema é que os potenciais compradores não se interessaram pela marca, mas apenas pelas 128 lojas da rede – algo que desagradou Silvio.

A Elektra, de origem mexicana, e a rede paranaense MM Mercado Móveis chegaram a admitir que estavam negociando a aquisição do Baú Crediário. Outro nome que surgiu no noticiário foi o da Casas Bahia, que não se manifestou publicamente.

Construção

Outra grande empresa do grupo é a Sisan, focada em empreendimentos imobiliários. No ano retrasado, a construtora apresentou um prejuízo de 23,7 milhões de reais. A empresa, porém, pode ter uma carta na manga que lhe renderia bons resultados no futuro.

Trata-se dos investimentos em projetos de residências populares. Um deles é um megacondomínio, ainda em construção, com 10.000 casas destinadas aos consumidores da classe C e D. Com valor geral de vendas estimado em 1,2 bilhão de reais, o projeto ficará próximo à cidade de São Paulo.

Já a divisão de comunicações, capitaneada pelo SBT, teve uma receita líquida de 735 milhões de reais em 2009. “O valor dos investimentos no canal de televisão é intrínseco, já que é por lá que a imagem do grupo todo é construída”, diz Alves. “E é por isso que o caso PanAmericano deve manchar por pouco tempo as demais empresas do grupo”.

As fraudes descobertas no PanAmericano são apenas o mais emblemático dos problemas enfrentados pelo empresário e apresentador. A eclosão do caso expôs um emaranhado de laços familiares e profissionais, capaz de minar a competitividade de qualquer companhia. No lugar de executivos contratados no mercado, parentes e amigos estavam (e ainda estão) à frente de postos estratégicos – como Rafael Palladino, ex-presidente do PanAmericano e primo da esposa de Silvio. O apresentador já conseguiu se livrar de uma dívida avaliada em 4 bilhões de reais. Resta, agora, se livrar dos velhos vícios de gestão para que o grupo se fortaleça – e não dependa apenas da Jequiti.

(Tatiana Vaz l EXAME.com)

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