Suíço Julius Baer mira emergentes

Com o crescimento praticamente estagnado nos países europeus e a crise da dívida soberana que assola as economias da zona do euro, o banco Julius Baer, líder no segmento de private banking na Suíça, pretende aumentar a participação nos mercados emergentes, que hoje respondem por 33% dos ativos totais de clientes, que somavam 258 bilhões de francos suíços – o equivalente a US$ 282 bilhões. "Em 2005, quando decidimos buscar oportunidades nesses países, um em cada oito clientes do grupo era de mercados emergentes. Hoje é um em cada três e até 2015 praticamente a metade dos clientes deverá vir desses países", afirma Boris Collardi, presidente do Julius Baer, em recente passagem pelo Brasil.
 
A ampliação das operações no Brasil faz parte dessa estratégia. No ano passado, o banco suíço adquiriu 30% da GPS (Global Portfolio Strategists), uma "multi family office", que faz a gestão de fortunas para várias famílias. "O Brasil é um mercado muito promissor, que ainda está em um estágio inicial", afirma Collardi.
 
Com presença na Ásia e no Oriente Médio, há dois anos o Julius Baer passou a focar o mercado da América Latina, onde tem presença em Peru, Chile, Uruguai, Bahamas e Brasil. A região já responde por 10% a 15% do total de ativos de clientes do banco.
 
A crise na Europa, na avaliação do executivo, trouxe impacto negativo para o balanço dos bancos suíços. Em primeiro lugar, porque a depreciação do euro e do dólar reduziu o valor dos ativos e das receitas, ao mesmo tempo em que tiveram um aumento dos custos com a valorização do franco suíço. O Julius Baer, por exemplo, registrou uma queda de 27% no lucro líquido do ano passado, que somou 258 milhões de francos suíços (US$ 280,58 milhões). "Cerca de dois terços dos ativos de nossos clientes estão em dólar e euro", destaca Collardi.
 
Em segundo lugar, a crise impactou a confiança dos investidores e trouxe um aumento da aversão ao risco, que acabou resultando em uma diminuição do volume de transações financeiras. "Os investidores estão mais conservadores e vemos menos alocações em investimentos de longo prazo", destaca.
 
Além disso, as maiores exigências dos reguladores, como o requerimento de mais capital, trouxeram mudanças para as empresas de serviços financeiros, o que deve resultar em consolidação desse setor na Europa. "As instituições financeiras devem se concentrar em sua atividade principal, e qualquer coisa que estiver fora disso, elas devem se desfazer", diz Collardi.
 
No caso do segmento de private banking, os custos são crescentes, o que deve forçar uma consolidação das instituições menores.
 
O executivo não vê risco, por enquanto, de outro país europeu ser resgatado, como ocorreu com a Grécia, embora a situação na Espanha e na Itália exija atenção.
 
O cenário de maior volatilidade, segundo Collardi, pode trazer oportunidades para investidores no curto prazo, principalmente no mercado de câmbio. Na estratégia em moedas, o Julius Baer tem apostado na valorização da divisa chinesa, o renminbi, no longo prazo. "Há uma valorização das moedas asiáticas e divisas como o dólar e o euro devem continuar depreciadas até o início da recuperação dessas economias."
 
Olhando para o longo prazo, Collardi vê mais oportunidades no mercado de ações do que em renda fixa, principalmente em empresas que têm exposição a mercados emergentes.
 
No caso das commodities, no curto prazo ainda deve haver volatilidade nos preços. "Mas olhando para os fundamentos de longo prazo, devemos ver maior demanda por água, agricultura, novas fontes de energia e também por produtos e serviços ligados à saúde em função do envelhecimento da população", diz Collardi.
 
Depois da crise financeira, as autoridades financeiras têm ampliado a regulação para evitar a evasão fiscal. Os Estados Unidos estão em negociação com o governo suíço para alcançar um acordo sobre a investigação de 11 instituições financeiras suíças, incluindo o Julius Baer, que estão sendo acusadas de ajudar clientes americanos na sonegação de impostos. "Estamos confiantes de fechar um acordo com os Estados Unidos no segundo semestre ", acredita Collardi.

(Silvia Rosa | Valor)
 

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