Taesa, que prepara oferta de ações, lidera altas da bolsa no ano

O melhor investimento da BM&FBovespa neste ano, com alta de 91,5%, a Taesa, braço de transmissão do grupo mineiro Cemig, ainda pode reservar ganhos para quem quiser se arriscar no papel, segundo analistas do setor de energia.
 
Amanhã, a empresa divulga os resultados do primeiro trimestre. O balanço não deve apresentar muitas surpresas, já que a empresa vem mostrando números estáveis — foram R$ 72,9 milhões de lucro líquido no quarto trimestre de 2011 e R$ 72,8 milhões entre janeiro e março do mesmo ano.
 
Além do ganho da ação, a empresa tem outro indicador que surpreende: o que mede a eficiência operacional. Da receita líquida em 2011, 90% se traduziu em lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).
 
Para Thomas Chang, analista de energia da corretora UM Investimentos, esse desempenho é um misto da característica do segmento de transmissão com a gestão da Cemig.
 
“A Cemig tem uma gestão exemplar e é muito agressiva na comparação com outras do setor elétrico”, avalia o especialista. “Ela tem um bom histórico de aquisições.”
 
Para efeito de comparação, a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), concorrente da Taesa,   fechou 2011 com um indicador Ebitda/receita líquida (também conhecido no jargão do mercado como margem Ebitda) de 50,3%.
 
A Transmissão Paulista, controlada pela colombiana ISA, faz parte do principal índice da bolsa, o Ibovespa, enquanto a Taesa não integra nenhum.
 
As companhias transmissoras de energia têm, em sua maioria, resultados estáveis e previsíveis. As receitas, por exemplo, dependem exclusivamente da manutenção da rede, não sendo influenciadas por variações de demanda e produção de energia. “Se ela mantiver 100% das linhas em funcionamento, o balanço não muda”, explica Chang.
 
A Taesa ainda se beneficia do modelo dos contratos que conquistou nos leilões de transmissão. A maioria foi assinada antes de 2004, quando houve mudanças no marco regulatório.
 
Como lembra Marcos Severine, analista do Itaú BBA, ela não corre riscos de ser prejudicada, por exemplo, pela revisão tarifária da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que vem pesando sobre as ações de distribuidoras, como a AES Eletropaulo.
 
Até ontem, a valorização das units da subsidiária da Cemig (que agrupam duas ações preferenciais e uma ordinária) era de 91,5% no ano, a maior da bolsa, sem considerar companhias não operacionais ou que tenham passivo a descoberto, com patrimônio líquido negativo.
 
A reação dos papéis começou depois que sua controladora anunciou que faria uma oferta subsequente de ações no mercado, para dar conta das exigências do Nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa. De acordo com a regra, são necessários 25% de ações à disposição do mercado em geral excluindo o bloco de controle, o chamado “free float”.
 
O problema é que, em 2009, quando a italiana Terna foi adquirida pela Cemig e pelo Fundo de Investimento Coliseu, do Banco Modal, os novos administradores do negócio tentaram retirar todas as units de circulação, mas falharam. Depois disso, eles detinham, juntos, 95,3% do capital social, deixando 4,7% para outros investidores.
 
Por conta da diminuição no nível de “free float”,  a Taesa foi penalizada pelos investidores e o preço de seus ativos caiu na época. Sua liquidez também foi reduzida, o que obrigou a Cemig a acenar com a nova emissão de papéis.
 
Desde então, o investimento voltou ao foco e suas cotações batem recordes históricos praticamente todos os dias.  Mas mesmo com o retorno já elevado, Chang e Severine veem espaço para quem ainda quer apostar nos papéis. Severine calcula em R$ 78 o preço-alvo para as units ao fim deste ano. “Com essa volatilidade toda do mercado, certamente o papel vai continuar subindo. Querem gestão excelente com previsibilidade, proteção de inflação e dividendos também, e a Taesa tem tudo isso”, diz o especialista.
 
Chang concorda com a manutenção da alta, principalmente levando em conta o histórico agressivo de aquisições. Depois que a Cemig perdeu a concorrência para arrematar parte da estatal Energias de Portugal, já vinha pensando em comprar linhas de transmissão chilenas, o que impulsionaria o faturamento da Taesa.
 
Como a própria mineira tem perspectiva de levantar até R$ 2 bilhões na oferta subsequente de ações, que será primária, ou seja, os recursos iriam direto para a companhia, a possibilidade para realizar aquisições estaria aberta.
 
(Renato Rostás | Valor)

 

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