Vale estuda vender participação na empresa de cabotagem Log-In

A Vale estuda se desfazer das ações que detém na Log-In, empresa da área de navegação de cabotagem na qual a mineradora tem 31,31% do capital. Essa participação equivale a cerca de R$ 190 milhões considerando-se o valor de mercado da empresa ontem, de R$ 604,4 milhões. A decisão sobre uma possível venda dessa participação acionária ainda não foi tomada, mas a análise coincide com o projeto da Vale de criar uma nova empresa para o setor de logística.

Ainda não há definição sobre a saída da Vale da Log-In, mas uma pessoa a par afirmou que o tema vem sendo avaliado. Até ontem, a ação da Log-In acumulou perda de 36,63% no ano, bem acima da queda do Ibovespa no período, de 23,33%. Executivo da área de navegação disse que a ideia da Vale sempre foi estruturar a Log-In, construir os navios necessários à sua operação, e vender sua participação acionária. "Não é o [o negócio principal] da Vale."

O estatuto da Log-In permite que a Vale venda sua participação sem necessidade de fazer uma oferta pública de ações (OPA). Pelo estatuto, a OPA só seria necessária se algum acionista adquirir mais de 35% das ações da companhia.

Além da Vale, os outros sócios com maiores participações são Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), com 12,80%; Fama Investimentos, com 14,7%; e Eton Park Management, com 8,35%. Outros acionistas detêm 26,20%. Há ainda 6,64% de ações em Tesouraria.

Segundo um executivo que conhece a empresa, antes da crise financeira de 2008, a Log-In chegou a contratar o banco Credit Suisse para buscar um comprador. Outra pessoa disse que naquela ocasião sua empresa foi procurada por bancos oferecendo a participação da Vale na Log-In. A dificuldade na transação estaria no alto preço pedido.

Até o momento, não há banco contratado para fazer uma potencial operação de venda da empresa. Mas um executivo do setor afirmou que a Vale continua interessada em vender a Log-In. A Vale, por meio de sua assessoria, disse que não comenta rumores de mercado.

Entre pessoas que acompanham a empresa há quem entenda que a Log-In não tem um projeto claro e que até agora não cumpriu parte dos propósitos originais para os quais foi criada e que incluíam crescimento via aquisições.

Em relação às críticas do mercado ao projeto da Log-In, a mineradora afirmou por e-mail que "a Log-In é um projeto de longo prazo e a Vale, como acionista, acredita em seu plano de negócios. Desde sua criação, a Log-In fez um trabalho de preparação de mercado. Este ano a empresa começou a entregar suas primeiras encomendas. Em mais um ano, a empresa encerra sua fase pré-operacional, conforme previsão original, com a entrega total dos novos navios. A Vale acredita na capacidade da Log-In de gerar valor para seus acionistas".

Vital Lopes, presidente da Log-In, disse que a empresa vem fazendo o que se espera dela. "Desde o início a Log-In era um projeto que passava pela construção de uma frota", disse.

O plano da Log-In inclui a construção de cinco navios de contêineres, dos quais o primeiro deles já entrou em operação e o segundo vai se tornar operacional ainda este ano, além de dois navios graneleiros, previstos para começarem a operar em 2012.

Um executivo do setor avaliou que a Log-In errou ao encomendar os navios em momento em que os preços estavam no pico do mercado, afirmando que hoje esses mesmos navios valem 30%, 40% menos.

Para Lopes, o comentário é "maldoso": "Pagamos o preço do mercado à época", disse.

Um dos fatores que contribuíram para as margens apertadas que vem sendo apresentadas pela Log-In foram os navios antigos alugados para começar a operar, que tiveram paradas não programadas, problema que será resolvido com a configuração da frota, projeto que estará concluído em 2014.

Mesmo assim, o mercado tem cobrado resultados do ponto de vista da rentabilidade.

Recentemente, a empresa encerrou contrato de venda dos serviços ferroviários do chamado Trem Expresso que tinha com a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), da Vale. Lopes explicou que a empresa não conseguiu gerar valor a esse contrato porque o transporte via caminhão mostrou-se mais agressivo.

Quando a Log-In foi criada, em 2007, os analistas tinham grandes expectativas em relação ao crescimento da empresa no negócio de cabotagem. Eles acreditavam que a companhia, que captou R$ 848,2 milhões na abertura de capital, poderia capturar um pedaço do mercado de logística dominado por caminhões. Estima-se que a partir de 1,5 mil quilômetros é mais vantajoso para as empresas usar o serviço de navios para transportar mercadorias do que as rodovias, mas abaixo dessa distância é difícil competir com o caminhão.

A competição tem sido mais acirrada, porém, do que a empresa provavelmente previu. E suas margens operacionais são menores do que os analistas estimavam. Segundo analistas, a Log-In ainda não conseguiu convencer o cliente de que a cabotagem pode ser uma alternativa. Isso estaria associado, sobretudo, ao fato de o transporte rodoviário ainda sair mais em conta em curtas distâncias.

Lopes discorda: "À frente vamos ter maior rentabilidade, que é o projeto que o investidor comprou". Segundo ele, entre 2007 e 2010 a taxa de crescimento da Log-In na cabotagem foi de 28% ao ano.

(Francisco Góes, Vera Saavedra Durão e Denise Carvalho l Valor)
 

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