Vicunha anuncia que produzirá tecidos para jeans na Argentina

Na esteira da visita da presidente Dilma Rousseff a Buenos Aires, segunda-feira passada, a Vicunha anunciou sua decisão de produzir tecidos para jeans (denim) em três fábricas localizadas na província argentina de San Juan, no Norte do país. Segundo informou a empresa brasileira, foi assinado um acordo que prevê a possibilidade de compra das firmas locais Tintorería Ullum, Tejeduría Galicia e Tejeduría Panamá, após realizar uma auditoria que finalizará em meados deste ano.

A meta da Vicunha é investir até US$40 milhões na aquisição das três fábricas e, também, na implementação de reformas para modernizar e aumentar a capacidade de produção.

Em declarações à imprensa argentina, o diretor de operações da Vicunha, Pablo Jedwabny, assegurou que "as fábricas estão produzindo 300 mil metros por mês. Em abril, passaríamos a 500 mil e se usarmos a opção (de compra) poderíamos chegar aos 2 milhões em dois anos e 400 postos de trabalho diretos".

Com o desembarque da Vicunha, as empresas brasileiros passarão a controlar 75% do mercado argentino de denim. A Alpargatas, comprada pela Alpartagas São Paulo, lidera o mercado, junto com a Tavex-Santista. O terceiro lugar será disputado entre a Santana e a Vicunha, que até a assinatura do acordo com as fábricas de San Juan exportava grandes volumes para a Argentina.

Segundo analistas locais, muitas empresas decidem se instalar na Argentina para driblar a ofensiva protecionista do governo Kirchner, que nos últimos anos reforçou sua estratégia de limitar as importações para favorecer a produção local.

– O investimento da Vicunha é consequência da estratégia comercial do governo Kirchner – opinou Mariano Kestelboim, economista da Fundação ProTejer.

O setor de têxteis já foi alvo das barreiras implementadas pela Argentina e isso levou as empresas brasileiras a produzirem no país. Segundo dados da empresa de consultoria Abeceb.com, no ano passado cerca de 13,5% das exportações brasileiras para o mercado argentino foram afetadas por medidas protecionistas como processos antidumping e licenças não automáticas. Apesar disso, a Argentina fechou o ano com um déficit de US$ 4 bilhões em seu comércio com o Brasil e este ano o desequilíbrio poderia chegar a US$ 5,6 bilhões.

A forte presença das empresas brasileiras no mercado argentino é vista com preocupação por alguns setores da sociedade. O Brasil continua sendo o país que mais investe na economia argentina. De acordo com a Abeceb.com, no ano passado os investimentos brasileiros alcançaram US$ 5,3 bilhões, superando a China, que ficou em US$ 5 bilhões e os Estados Unidos, que chegaram a US$ 1,1 bilhão.

Em editorial publicado nesta quarta-feira, o jornal "La Nación" questionou o "desequilíbrio com o Brasil" e, sobretudo, a falta de um plano do governo Kirchner para reverter esta situação.

– Permanece uma tendência que se aprofundou após a crise de 2001 e 2002 e aumentou durante o governo de Néstor Kirchner. Trata-se da progressiva desnacionalização da indústria argentina, plasmada na venda de ativos nacionais a empresas do Brasil", assegurou o diário argentino.

Segundo o "La Nación", "a Argentina está em desvantagem em relação ao Brasil, em consequência das políticas de curto prazo e da falta de uma política. Longe de impulsionar os empresários nacionais, como fizeram Fernando Henrique Cardoso e Lula no Brasil, o kirchnerismo se caracterizou por aumentar o tamanho do Estado cada vez que foi possível fazê-lo".

O jornal enumerou as operações mais importantes dos últimos anos, entre elas a venda do Banco Patagônia para o Banco do Brasil e a fabricante de cimento Loma Negra para o grupo Camargo Corrêa.

(Janaína Figueiredo l O Globo)

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