Gerdau prepara nova oferta de ações

O grupo Gerdau prepara uma captação por meio de emissão de ações de aproximadamente R$ 2 bilhões, segundo apurou o Valor. A transação, de acordo com fontes próximas, seria para capitalizar a empresa. A Gerdau, por meio da assessoria de imprensa, nega a emissão.

Tomaram conta do mercado na semana passada rumores de que a companhia estaria levantando os recursos para comprar as fatias de Camargo Corrêa e Votorantim na Usiminas. Os boatos foram negados por fontes próximas, que disseram que a emissão seria mesmo para capitalizar a Gerdau, em uma operação normal para uma empresa desse porte. Sua assessoria de imprensa disse também que os rumores sobre a compra da Usiminas são improcedentes.

A Camargo Corrêa e a Votorantim têm, juntas, 12,9% do capital total e 26% do capital votante da Usiminas. Pelo valor da Usiminas na sexta-feira, os 12,9% correspondem a R$ 3 bilhões.

Não é de hoje que a Camargo Corrêa tem demonstrado interesse em vender participações em negócios considerados não prioritários, de forma a concentrar seus esforços nas áreas de cimento, energia, construção pesada e concessões de rodovias. Por isso, por exemplo, vendeu fatia de 11,4% na Itaúsa, por cerca de US$ 1,6 bilhão, para o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, transação anunciada em novembro de 2010.

A Camargo Correa e a Votorantim teriam contratado, segundo apurou o Valor, dois bancos de investimento para negociar a venda da participação na Usiminas há pouco mais de seis meses. Mas, por enquanto, o negócio não estaria fechado. O sócio japonês Nippon Steel, que tem 13,8% do capital total e 27,8% do capital votante da Usiminas, tem direito de preferência na compra das ações. Poderia até abrir mão desse direito, se gostasse do novo comprador.

Os japoneses veem a Gerdau com bons olhos, mas vinham ponderando, no entanto, que não queriam deixar de ser os majoritários no capital votante. A compra da Usiminas pela Gerdau iria também ao encontro dos objetivos do governo, de criar uma grande multinacional verde-amarela do aço.

Com a operação, que envolveria a Gerdau Açominas, controlada da Gerdau, e suas minas e jazidas de minérios de ferro, a Nippon poderia perder a posição de maior acionista. O terremoto, seguido de tsunami e acidente nuclear no Japão, pode emperrar mais as negociações, pois, no momento, a Nippon Steel tem mais com o que se preocupar. Além disso, antes do terremoto, a japonesa, quarta maior siderúrgica do mundo, anunciou a fusão, em outubro de 2012, com a Sumitomo, no que poderá criar empresa com valor de mercado de US$ 35 bilhões e dar bastante trabalho.

Seriam as negociações da Gerdau para a compra de fatia da Usiminas que teriam levado a CSN a reagir e a comprar papéis ordinários (com direito a voto) e preferenciais (sem direito a voto) classe A da Usiminas. A fatia da CSN na Usiminas nas duas ações passou os 5%. No ano, as ações com direito a voto da Usiminas subiram 37%, as preferenciais da classe A, 10%, contra queda de 3,5% no índice Bovespa.

Em fato relevante de 27 de janeiro, a CSN deixou claras suas intenções: "A companhia está avaliando alternativas estratégicas com relação a seus investimentos na Usiminas, incluindo possíveis aquisições adicionais de ações (…) que poderiam levar a alterações na composição do controle ou na estrutura administrativa da Usiminas".

Para barrar a investida da CSN, a Usiminas reformulou seu acordo de acionistas. Em 18 de fevereiro, divulgou que tirou do grupo diretivo, a partir de 2016, o CEU, clube de empregados da siderúrgica, considerado elemento frágil no novo acordo. "Havia muitas especulações em torno da participação de outras empresas na Usiminas e também de que acionistas iam vender participações. O que os controladores fizeram foi um novo acordo, que mostra a presença forte deles até 2031 no capital da empresa", disse, na época da divulgação do comunicado, o diretor-presidente da Usiminas, Wilson Brumer.

As especulações do mercado sobre uma possível negociação entre Usiminas e Gerdau se intensificaram a partir do dia 3 de março. Naquela data, a Gerdau divulgou seus resultados do último trimestre de 2010 e informou que, diante das perspectivas do mercado internacional de commodities, em particular para o minério de ferro, o conselho determinou que a diretoria aprofundasse estudos para avaliar diversas opções estratégicas. A partir de então, as ações de Gerdau e Usiminas passaram a ter fortes oscilações na bolsa. Em função disso, no dia 15 de março, a Usiminas divulgou carta-resposta à questionamento da BM&FBovespa sobre se tinha conhecimento de algum fato que justificasse os aumentos de volumes com suas ações na semana anterior. A Usiminas disse que não e apenas relembrou o anúncio do dia 18 de fevereiro.

A última oferta de ações da Gerdau foi em abril de 2008 – a Gerdau captou R$ 2,9 bilhões e a Metalúrgica Gerdau, R$ 1,5 bilhão. A composição acionária atual da Gerdau indica que há espaço para emissão de papéis. A controladora Metalúrgica possui 74,8% das ordinárias e 25,9% das preferenciais da Gerdau, ou 42,2% do capital total. Logo, tem espaço, sem perder controle, para fazer uma emissão, provavelmente obedecendo a proporção de duas ordinárias e uma preferencial que mantém hoje. A Gerdau tem valor de mercado de cerca de R$ 30 bilhões.

(Cristiane Perini Lucchesi, Ana Paula Ragazzi e Ivo Ribeiro | Valor)

+ posts

Share this post