Pernambucanas volta ao Rio de Janeiro 20 anos depois

Rede que levou suas lojas na cidade à falência no início dos anos 1990 quer superar diferenças familiares, revela ao Brasil Econômico o herdeiro Frederico Lundgren.

Por conta de dívidas e desentendimentos entre os herdeiros, a operação da Pernambucanas no Rio de Janeiro faliu nos anos 1990 e, desde então, a família controladora não havia entrado em acordo para retomar este importante mercado, onde chegou a ter 70 lojas.

Mas após tantos anos, os primos Anita Harley e Frederico Lundgren, principais acionistas da companhia, decidiram fazer uma trégua. "Depois de uma desgastante disputa familiar, queremos recuperar nossas posições no Rio de Janeiro", disse Frederico Lundgren, em entrevista exclusiva ao Brasil Econômico.

O empresário admite que a família, hoje na quinta geração, ainda tem desacordos, mas decidiu por trilhar uma nova rota de crescimento. Em 2012, além do Rio de Janeiro, as prioridades serão fortalecer presença em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Norte de Goiás.

Atualmente, a varejista possui 280 lojas, distribuídas por sete estados. A previsão é fechar o ano com faturamento de R$ 4,2 bilhões, alta de 16,6% em relação a 2010.

Instabilidade

A expansão da rede tem se mostrado inconstante nos últimos tempos, variando de seis a 11 o número de unidades inauguradas por ano. "Mas temos capacidade de abrir de 15 a 20 unidades apenas trabalhando com recursos próprios", afirmou Lundgren. Para adotar este ritmo, a companhia precisa desembolsar cerca de R$ 30 milhões em investimentos.

Apesar das brigas internas, o empresário diz que a Pernambucanas está sólida e que, de tempos em tempos, é assediada pelos concorrentes. O empresário revela que a Renner já tentou comprar a companhia, mas esbarrou em desavenças familiares. Com a crise econômica de 2008, desistiu de vez.

Recentemente, a gestão da varejista passou por mudanças. Durante muitos anos, Lundgren revezou a presidência com sua prima Anita Harley.

A cada 24 meses, um deles sentava-se à cadeira de principal executivo da empresa. Mas em junho deste ano chegou-se ao acordo que Lundgren ficaria apenas no conselho e Anita passaria a ocupar a presidência sem a necessidade do revezamento.

Jeito antigo

Com 103 anos de operação, a companhia é conhecida no mercado como conservadora. E este estilo se reflete na concessão de crédito.

Na Pernambucanas, as exigências são mais rigorosas que as dos concorrentes, disse Lundgren. Este é um dos motivos pelos quais o empresário não se mostrou tão animado com as medidas de estímulo ao crédito divulgadas pelo governo na semana passada.

"Crédito barato todo mundo quer, mas é necessário por limites para não ter aumento da inadimplência, o que já estamos sentindo nos últimos meses", disse Lundgren.

Outra característica de seu conservadorismo é o formato adotado, o único no varejo a misturar cama, mesa e banho, com vestuário e eletroeletrônicos.

"Com o aumento da concorrência e com o surgimento de redes cada vez mais especializadas, o formato adotado pela Pernambucanas é questionável", disse Eugênio Foganholo, da Mixxer, consultoria especializada em varejo.

Enquanto o varejo atual busca o formato multicanal, ou seja, estar à disposição do cliente no maior número de pontos de venda possíveis, a Pernambucanas surpreendeu o mercado ao desistir do comércio eletrônico, em 2009.

A operação estava no ar há três anos, mas após ter sofrido uma série de golpes virtuais, a companhia decidiu encerrar as atividades do site, dizem executivos ligados à companhia.

(Ruy Barata Neto e Cintia Esteves l Brasil Econômico)

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