A HP quer voltar a sorrir

Em entrevista exclusiva à DINHEIRO, o VP global da HP admite erros em 2011, mas diz que a empresa está de volta aos trilhos e que o Brasil é peça fundamental nessa retomada.

Na gelada sala de reunião com vista para a Ponte Estaiada, em São Paulo, o irreverente presidente da HP no Brasil, Oscar Clarke, conversa animadamente com o tcheco Jan Zadak, vice-presidente de vendas globais da companhia americana, que esteve pela primeira vez no País, em meados de dezembro.“As perguntas fáceis respondo eu, as difíceis eu deixo contigo”, disse Clarke a Jan, em meio a uma risada. A julgar pelo clima de descontração entre os executivos, quase não parece que o ano de 2011 foi um dos mais problemáticos na conturbada história recente da gigante fundada em uma pequena garagem por dois estudantes em 1939.

“Tivemos um ano difícil, cometemos erros e confundimos o mercado”, afirma Zadak, agora em tom sério. Ele se refere às sucessivas estratégias equivocadas perpetradas pelos últimos CEOs – em especial, pelo alemão Leo Apoetheker, que ficou apenas dez meses à frente da HP e foi demitido em setembro. Em seu lugar entrou Meg Whitman, ex-presidenta do eBay e candidata derrotada ao governo da Califórnia, em 2010. Sétima pessoa a comandar a HP em 12 anos e a quarta, nos últimos dois, Meg tem a dura missão de apagar as derrapadas dos seus antecessores, recolocar a empresa na rota da inovação e recuperar seu valor de mercado.
 
Atualmente, a empresa está avaliada em cerca de US$ 52 bilhões, pouco mais da metade do valor registrado em fevereiro do ano passado. Em contraste com a ambição de seus antecessores, que fizeram mais de 100 aquisições bilionárias desde 2006, Meg indicou que a HP irá focar no desenvolvimento interno dos seus negócios, que incluem computadores, servidores, impressoras, softwares diversos e prestação de serviços para corporações de todos os tamanhos. “Estamos sempre abertos a aquisições, mas é pouco provável que façamos uma compra de grande escala no curto prazo”, diz Zadak.
 
Em vez disso, a prioridade para 2012 é reconstruir a imagem de uma empresa danificada pela má gestão, pelas compras desastradas e pelo pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento. “Com Meg estamos de volta aos trilhos”, diz Zadak. Uma das primeiras medidas tomadas pela executiva foi a de não separar a divisão de computadores, como havia sido aventado por Apoetheker. “Foi feito um longo e minucioso estudo envolvendo todos os principais países e chegou-se à conclusão de que essa separação fazia pouco sentido”, afirma Clarke.
 
O principal motivo que levou a empresa a permanecer no segmento de PCs é que assim ela segue como a maior consumidora mundial de chips, discos rígidos e outros componentes utilizados em várias de suas outras linhas de produtos, como servidores corporativos e impressoras. Ou seja, essa separação enfraqueceria a companhia do ponto de vista de negociação com fornecedores, o que minaria divisões mais rentáveis da HP. Com US$ 127 bilhões de receita e mais de 324 mil funcionários, nove mil deles apenas no Brasil, a HP é a segunda maior empresa de tecnologia do mundo em faturamento, atrás da sul-coreana Samsung.
 
Zadak afirma que os mercados emergentes são prioridade para a empresa. Os países do Bric já representam 12% da receita global da companhia e o Brasil ocupa posição de destaque dentro do bloco. “As oportunidades  estão acontecendo em países como o Brasil e estamos fazendo investimentos substanciais para seguir crescendo”, afirma Zadak. Em 2011, a subsidiária brasileira ganhou, pela segunda vez consecutiva, o prêmio de melhor unidade HP nas Américas, desbancando até a matriz americana. “A hora do Brasil é agora”, diz Clarke. “O lugar para investir é aqui.”

(Bruno Galo l Isto É Dinheiro)

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