BRF e Marfrig confirmam troca de ativos

A Marfrig e a BRF – Brasil Foods sacramentaram ontem o acordo para a troca de ativos entre as duas empresas. Conforme anunciado em dezembro, a Marfrig ficará com o bloco de ativos que a BRF teve de colocar à venda como condição imposta para sua criação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em julho do ano passado. Em troca, a BRF receberá da Marfrig os ativos relacionados à marca Paty na Argentina.
 
Além dos ativos trocados, a Marfrig pagará R$ 350 milhões à BRF. O montante é superior aos R$ 200 milhões inicialmente informados pelas duas companhias. A diferença explica-se, em grande parte, pela unidade de suínos de Diamantino (MT), da Marfrig, retirada do acordo final. Conforme apurou o Valor, as empresas excluíram a planta mato-grossense da operação ante às preocupações com possíveis restrições do Cade, que ainda deve aprovar o acordo assinado ontem. Pelo entendimento do órgão antitruste, a BRF não deve aumentar sua capacidade por meio de aquisições.

Dos R$ 350 milhões acordados, a Marfrig fará um pagamento inicial de R$ 100 milhões entre os meses de junho e outubro deste ano. Os R$ 250 milhões restantes serão pago em 72 parcelas mensais, com juros de mercado.
 
Outra diferença entre o acordo anunciado em dezembro e o contrato firmado ontem diz respeito a um frigorífico da Marfrig na Argentina, que passaria às mãos da BRF. De acordo com fato relevante enviado pelas empresas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a BRF ficará apenas com as atividades de alimentos processados da Quickfood, empresa que detém a marca Paty e cujos ativos foram adquiridos pela Marfrig em 2007. No caso da Quickfood, a Marfrig "obrigou-se a adotar todas as medidas necessárias para segregar a atividades de alimentos processados da atividade de frigoríficos".
 
Pelos termos do acordo, a BRF vai transferir para a Marfrig as marcas Rezende, Wilson, Texas, Tekitos, Patitas, Escolha Saudável, Light Ellegant, Fiesta, Freski, Confiança, Doriana e Delicatal. O acordo também a transferência de dez unidades de alimentos processados, duas unidades de abates de suínos, duas unidades de abates de aves, quatro fábricas de ração, 12 granjas de matrizes de frangos, dois incubatórios de aves e oito centros de distribuição. A Marfrig ficará ainda com a participação acionária detida pela Sadia na Excelsior Alimentos, de 64,57%, e todos os contratos com produtores integrados, o que garantirá à Marfrig a manutenção dos mesmos níveis de fornecimento praticados com a BRF.
 
O acordo prevê, ainda, o arrendamento, pela Marfrig, de unidade de suínos na cidade de Carambeí (PR), por meio de um contrato com opção de compra. Caso queira exercer o direito de aquisição, a Marfrig terá de desembolsar mais R$ 188 milhões.
 
Com os ativos que pertenciam à BRF, a Marfrig deve dobrar a capacidade de produção da Seara Brasil, sua unidade de aves e suíno. Além disso, vai elevar sua fatia no mercado brasileiro de industrializados de carne, que passará de 9% para 21%, criando um concorrente de peso para a BRF, em linha com as expectativas do Cade. O negócio, que deve ser concluído até 1º de junho, vai agregar R$ 1,7 bilhão por ano ao faturamento líquido da Marfrig, conforme informou ao Valor em dezembro o presidente empresa, Marcos Molina.
 
A BRF, por sua vez, passa a ser líder em hambúrguer na Argentina, com a aquisição da marca Paty. Nesse processo, a BRF assumiu a participação (90,05%) que a Marfrig detinha na Quickfood. Com o negócio, a BRF amplia sua participação na Argentina, país em que a companhia realizou aquisições no ano passado, tanto nos mercados de frango quanto no de margarinas e molhos. A BRF pretende transformar o país vizinho em uma plataforma de exportação de aves e suínos nos próximos cinco a dez anos.
 
Ontem, as ações das duas companhias encerraram o pregão na BM&FBovespa em baixa. Os papéis da Marfrig caíram 2,39%, a R$ 11,42. Já os da BRF fecharam a R$ 37,31, retração de 2,28%.

(Luiz Henrique Mendes e Ana Luísa Westphalen | Valor)

 

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