Brasil atrai interesse da News Corp., diz Murdoch

A evolução dos negócios de mídia impressa e digital, e de TV por assinatura no Brasil está atraindo a atenção dos mercados globais do setor. "Todos ao redor do mundo veem como o Brasil está crescendo e como esse bom desempenho coloca o país como um dos grandes mercados hoje. Para nosso negócio de televisão, o país também está ganhando importância." A afirmação foi feita ao Valor por James Murdoch – provável sucessor de Rupert na News Corp., um império de mídia de US$ 37 bilhões de faturamento – em sua primeira apresentação pública desde que foi promovido pelo pai, Rupert, a vice-presidente de operações da companhia, no fim de março.

James Murdoch participou do 26º Annual Spring Seminar, realizado pela Arthur W. Page Society, na semana passada, em Nova York. O tema do encontro, que reuniu cerca de 300 executivos de grandes empresas, agências de comunicação e relações públicas no Trump Soho, em Manhattan, era "Como cultivar a reputação em um mundo complexo". A ideia era debater um novo modelo de comunicação corporativa que consiga dar o recado com eficácia, levando em conta as novas mídias e sistemas de informação, como blogs, Facebook e Twitter.

Ter um discurso coerente com a prática corporativa, por exemplo, foi um dos conceitos mencionados por participantes do encontro.

Para resumir o que era realmente importante aos comunicadores nestes novos tempos, Roger Bolton, consultor sênior da RBC Consulting, afirmou: "Você tem que ser quem você diz que é."

No caso da News Corp., três palavras caracterizam a visão da empresa, explica Murdoch: ser digital, global e diversa.

A nova realidade digital – mais ágil e transparente – mudou a natureza da gestão da comunicação nas empresas e organizações de toda sorte. "O resultado disso é que a área de comunicação precisa, cada vez mais, sentar-se às mesas mais importantes das corporações", afirmou Murdoch. "Os desvios da verdade (dentro das empresas) vão ser descobertos pelos clientes cada vez mais rápida e assertivamente, e precisamos estar preparados."

Sobre ser global, Murdoch afirmou que metade do negócio da companhia está fora da América: "Índia e Brasil, por exemplo, estão se juntando rapidamente e em grande escala aos nossos clientes digitais. Ser relevante para esses clientes vai definir, de várias formas, o nosso futuro como empresa."

No Reino Unido, a BSkyB – British Sky Broadcasting – alcança 10 milhões de residências com sua TV digital, ou 35% das famílias do Reino Unido. Mas em mercados mais novos, como Alemanha, Itália e Índia, onde as transmissões digitais começaram mais recentemente, a empresa já tem 25 milhões de clientes. "Em seis anos de operação já temos 30% do mercado na Índia."

Murdoch informou que os jornais do grupo na Europa também têm obtido bons resultados. Segundo ele, a empresa vende hoje mais assinaturas eletrônicas do "Times" do que o "Financial Times" vende em cópias impressas no Reino Unido. "Pela primeira vez, em décadas, nossa massa de assinantes pagantes está aumentando", afirmou, sem citar números.

Ao mesmo tempo, voltando à questão da diversidade de produtos, Murdoch lembrou que os jornais eletrônicos do grupo agora competem com os canais de televisão a cabo – Sky News e "The Times", de Londres, estão a apenas dois botões de distância no mesmo smartphone – e isso está transformando o negócio do jornalismo. "A natureza global de nosso negócio hoje é totalmente diferente do que era uma década atrás", afirmou.

Nesse novo ambiente, confiança e reputação importam mais que nunca. São conceitos que devem, na visão do executivo da News Corp., estar integrados à estratégia da empresa num nível mais profundo. "Pequenos erros de julgamento podem ter um impacto enorme", disse Murdoch. Em última instância, a bússola que ajuda a fazer essa leitura será sempre o cliente.

Num universo mais exigente e em que as mentiras são descobertas com maior facilidade, foi interessante notar que o executivo citou como exemplo de "construção de imagem e reputação" uma campanha realizada no Reino Unido entre os funcionários da News Corp. que permitisse ao grupo dobrar de tamanho sem consumir mais energia com isso, nem emitir mais carbono. A campanha foi bem-sucedida e isso foi percebido pelos clientes, segundo ele. Mas Murdoch não foi tão convincente ao responder a uma pergunta de um dos participantes do encontro, que quis saber como a News Corp. combinava o discurso da reputação à manutenção da linha editorial do Fox News, o canal de televisão a cabo americano, com "linha editorial tendenciosa, assumidamente republicana e altamente conversadora". O executivo desconversou e procurou elogiar o empreendedorismo da News Corp. ao lançar essa "opção inovadora de entretenimento" que veio para concorrer com a CNN, ampliando, assim, a diversidade do portfólio.

"É o grande desafio da comunicação, aquilo que você fala sobre seus princípios deve ter consistência com a forma como você produz o conteúdo, deve haver coerência entre o que eu falo e como eu me comporto", comentou Eraldo Carneiro, vice-presidente do conselho deliberativo da Associação brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje).

(Marilia de Camargo Cesar | Valor)

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