Faber-Castell investe e tenta solução com sócios

A valorização da moeda brasileira e a concorrência dos produtos chineses estão no centro das preocupações do conde Anton Wolfgang von Faber-Castell, presidente da empresa e integrante da nona geração da família que deu nome à marca. É das três fábricas brasileiras que saem 80% dos 2 bilhões de lápis vendidos pela companhia por ano. Os itens produzidos no país são exportados para 70 países. Enquanto trabalha para manter a rentabilidade, o conde ainda precisa lidar com um problema interno – um processo judicial movido pelas quatro famílias brasileiras que detêm 30,95% do capital.

Para resolver o primeiro problema, o conde aposta na redução de custos. A Faber-Castell vai investir R$ 100 milhões ao longo dos próximos três anos para modernizar as fábricas de São Carlos (SP), Prata (MG) e Manaus (AM). "O Brasil tem que se tornar mais competitivo, principalmente frente aos produtos chineses", disse o presidente da empresa, que veio ao Brasil para festejar os 250 anos da Faber-Castell.

O relacionamento com os sócios não é das mais confortáveis. No início da semana, a Maracaju Administradora de Bens, que representa os proprietários brasileiros, propôs uma ação judicial contra a família alemã que controla a Faber-Castell. Os sócios pedem que a Justiça torne sem efeito as eleições para o conselho fiscal da companhia.

O conselho, que tem a função de fiscalizar os atos da administração, foi criado por uma solicitação da própria Maracaju, em assembleia de junho deste ano. Acontece que nenhum assento ficou com as famílias brasileiras. "Em um abuso de poder, o controlador elegeu os três membros", afirma o advogado Renato Ochman, que representa a família no processo.

O advogado diz que os brasileiros questionam há cerca de 2 anos a falta de transparência do conde alemão na condução dos negócios. Já o controlador considera que a atitude ofensiva dos brasileiros é uma reação à decisão dele de não renovar o acordo de acionistas de 1992. A rescisão pode ser feita por qualquer uma das partes desde que cumprido um prazo, que, nesse caso, vence em janeiro de 2012.

"Talvez meu filho no futuro entre na empresa e eu não quero assinar um acordo de longo prazo. Não vemos necessidade disso. Nós acreditamos que temos uma excelente base para continuar a trabalhar juntos, sem o acordo de acionistas", insiste o conde.

O foco da briga seria uma cláusula que determina que, caso haja conflito entre os sócios, um teria preferência na compra da parte do outro a valores acima do de mercado. Ochman nega que haja uma pressão dos brasileiros para vender sua parte de forma vantajosa. "A Maracaju não tem porque gerar impasse proposital. Hoje está descartada a possibilidade de venda". Caso haja interesse, o conde não descarta a compra. "Naturalmente há essa possibilidade", diz e emenda: "A questão do valor é chave, tem que satisfazer a ambos".

A Faber-Castell tem dificuldade de exportar a partir do Brasil, mas há o mercado interno. "Nossa posição no Brasil é muito interessante e temos uma excelente base para crescer", afirma o conde. Um terço do faturamento da Faber-Castell vem da operação brasileira e a estimativa para 2011 é crescer de 7% a 8%.

"A Faber-Castell tem um grande número de produtos que as pessoas não conhecem ainda. Por enquanto ela é muito conhecida como marca escolar", considera. Para disseminar os mil produtos da marca no país, a empresa aposta no conceito shop in shop, em que os itens são expostos em grandes lojas organizados por segmentos e faixas etárias. A intenção é que aos atuais 150 pontos do tipo somem-se outros 50 até o final do ano.

Além dos chineses, a Faber-Castell também terá que lidar com a francesa Bic, que já anunciou o desejo de concorrer em pé de igualdade no mercado de lápis de cor.

"Estamos acostumados à concorrência. Brasil é como uma palavra mágica, todo mundo quer investir aqui, mas não é fácil construir uma empresa de lápis", afirma o conde.

(Luciana Seabra l Valor)

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