Ferrous busca sócio para projeto de US$ 5,5 bi

Depois de interromper um processo de abertura de capital na Bolsa de Londres, em meados do ano, a mineradora Ferrous Resources Brasil está em busca de um sócio estratégico para desenvolver projeto de mineração integrado avaliado em US$ 5,5 bilhões. A empresa, que tem como acionistas fundos de investimento estrangeiros e empresários brasileiros, contratou, na semana passada, o Deustche Bank para coordenar a operação. Paralelamente, o comando da Ferrous escolheu o banco Santander para captar recursos da ordem de US$ 2 bilhões no mercado para desenvolver o negócio.

A decisão de contratar os dois bancos para executar nova estratégia para o projeto – que será desenvolvido em duas etapas incluindo mina, mineroduto e porto -, foi tomada pela nova direção do conselho de administração da empresa. O conselho sofreu mudanças no início de julho devido a desistência da direção da Ferrous de fazer a abertura de capital. O presidente do conselho Gordon Toll, engenheiro australiano e sócio fundador da Ferrous, decidiu deixar o cargo insatisfeito com a suspensão da operação. A companhia pretendia captar U$ 400 milhões com a colocação de ações. Ele foi substituído no cargo pelo brasileiro Jório Dauster, embaixador e ex-presidente-executivo da Vale.

Dauster, em entrevista ao Valor, falou das razões que levaram a Ferrous a desistir da oferta de papéis no mercado londrino. "Não fracassamos no IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês), a questão é que não fizemos. Após a preparação da documentação para a operação, antes mesmo de realizarmos o road show começaram os problemas na Grécia e a volatilidade dos mercados ficou muito alta. Por prudência, resolvemos abortar a operação."

O objetivo agora é ter um parceiro estratégico até o fim do ano, afirmou o novo presidente do conselho. Esta semana, o banco alemão deve dar início aos contatos com dezenas de grandes empresas mundiais de mineração e de siderurgia que conhecem a empresa. O banco, segundo Dauster, vai enviar correspondência para os potenciais interessados em se associar com a Ferrous contendo todas as informações sobre a empresa e o andamento do projeto de investimento. "Vamos aguardar as respostas para saber se eles estariam dispostos a vir ao Brasil para uma competição, com apresentação de propostas para a sociedade."

A Ferrous não exige que o futuro parceiro tenha perfil de mineradora. O interessado pode ser da área de ferrosos, uma trader (como a Sumitomo, grupo japonês que comprou a Usiminas) ou uma grande siderúrgica, como as chinesas que estão em busca de minério para garantir suprimento. Os valores da oferta também podem variar muito, dependendo se o interessado quer ser minoritário ou controlador. A Ferrous pretende fixar apenas um piso para a proposta comercial.

O valor de mercado da Ferrous é avaliado hoje, por bancos e consultorias, na faixa de US$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões. A companhia é vista ainda como "empresa de papel". Mas com as licenças ambientais de mina, mineroduto e porto aprovados até o fim do ano, pode subir para US$ 8 bilhões.

Já o Santander vai buscar funding para garantir recursos para financiar as obras do projeto da Ferrous. O BNDES também será visitado pela empresa. "O BNDES já emprestou R$ 5 bilhões para a EBX (empresa de Eike Batista)", lembrou Mozart Litwinski, principal-executivo da Ferrous. A meta da empresa, segundo ele, é captar US$ 2 bilhões para investir na primeira fase do empreendimento, avaliado em US$ 3 bilhões.

"Depois de gastarmos US$ 700 milhões de um total de recursos de US$ 1,2 bilhões captados pela empresa em 2007, quando desenhou seu plano de negócios, a Ferrous ainda tem um caixa de US$ 500 milhões. Temos de ter linhas de crédito para financiar a aquisição de máquinas e equipamentos para as obras, que pretendemos começar em 2011. A primeira etapa do projeto deve entrar em operação em 2013", adiantou Litwinski.

A empresa é dona de quatro minas no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Agora está negociando a aquisição, por R$ 80 milhões, da faixa de terra que passa pelo caminho do mineroduto de 404 quilômetros que vai construir a partir da região das minas até o terminal portuário de Presidente Kennedy, no Espírito Santo. As empresas Ausenco/Sandwell estão desenvolvendo o projeto conceitual do porto, por onde será exportado o minério.

Até 2013 a empresa pretende atingir a produção de 25 milhões de toneladas de minério de ferro extraídas da mina de Viga, em Congonhas. As quatro minas – Santanense, Esperança, Viga Norte e Viga – têm reservas de 4,5 bilhões de toneladas de minério certificadas pela JORC, disse Litwinski. Na segunda etapa do projeto, a Ferrous vai investir US$ 2,5 bilhões para dobrar a produção de minério, atingindo 50 milhões de toneladas anuais em 2016, somando minério de todas as suas minas.

A mina de Viga já conta com licença prévia ambiental e até o fim do ano deve ter licença de instalação. O mineroduto tem outorga de água do Rio Paraopebas fornecida pelo governo de Minas Gerais. A audiência pública para licenciamento do porto está marcada para 16 de setembro.

A Ferrous tem sede em Belo Horizonte e é controlada por seis grandes fundos – Harbinger Capital, TPG Axon, Kew Capital, Sentient Group, Vasari Capital e Passport Capital – e pelos empresários brasileiros Iracy Parreiras e Ronaro Correa. Eles respondem por mais de 50% do capital da mineradora. "Hoje temos um conselho de administração onde estão representados 75% dos acionistas. Antes das mudanças não tinha nem 20%, pois havia uma concentração de poder nas mãos de Toll", informou Dauster.

A diretoria executiva da companhia é formada por Litwinski, engenheiro metalúrgico e ex-diretor da Vale e da CSN. Além da presidência executiva da companhia, ele passou a ocupar um assento no conselho por indicação de Dauster, com quem trabalhou na Vale. Antonio Rigotto é o diretor-executivo de Operações e Andre Simão, diretor-executivo de Finanças.

(Vera Saavedra Durão | Valor)

 

 

 

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