Fibria retoma expansão de R$ 5,8 bilhões

A maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto parece ter dado a volta por cima. Após liquidar os compromissos restantes da dívida com bancos que foram contraparte em operações com derivativos cambiais e resultaram em perdas bilionárias, a Fibria desvencilhou-se de uma série de restrições a investimentos e uso do caixa, e retomou seus planos de expansão.

Com aval do conselho de administração, a companhia já está trabalhando no projeto de implantação da segunda linha de celulose em Três Lagoas (MS), com investimento estimado em R$ 5,8 bilhões e início de operação antecipado. Originalmente, os planos da Fibria previam iniciar a produção na segunda unidade sul-mato-grossense, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano, em 2015 ou 2016. Agora, a meta é ligar os equipamentos em 2014.

"Partidas as algemas [impostas pelo contrato de renegociação da dívida com bancos], voltamos a investir e aprovamos a antecipação da fábrica nova em Três Lagoas", diz ao Valor o presidente da Fibria, Carlos Aguiar. As amarras da companhia, resultado da fusão entre Aracruz (então presidida por Aguiar) e Votorantim Celulose e Papel (VCP), impediam até mesmo gastos com manutenção. Pelo contrato de renegociação com 13 bancos credores – a dívida decorrente do episódio com derivativos alcançou US$ 2,2 bilhões -, a empresa enfrentava restrições para venda de ativos (que só poderia ocorrer sob aprovação dos credores), execução de projetos de expansão, aportes em manutenção e formação de florestas, pagamento de dividendos, entre outros.

Essas limitações caíram em 28 de maio, quando a Fibria pagou antecipadamente os US$ 511 milhões em compromissos que ainda restavam. Assim, recuperou o fôlego de investidora e voltou a correr ao lado das concorrentes, que também trabalham em projetos de expansão que devem ganhar o mercado entre 2013 e 2015.

Marcelo Castelli, diretor de operações florestais, negócio papel, estratégia e suprimentos da Fibria, diz que dos R$ 5,8 bilhões que deverão ser investidos na fase 2 do Projeto Horizonte, R$ 1,8 bilhão serão aplicados na formação de florestas. Hoje, na região de Três Lagoas, a companhia conta com 30 mil hectares de florestas excedentes, que alimentarão a nova linha de produção. Além disso, está finalizando a contratação de outros 45 mil hectares arrendados e a compra de 2 milhões de m3 de madeira, que correspondem, em área, a cerca de 25 mil hectares. "Assim, já temos 70 mil hectares dos 75 mil de florestas que serão arrendados", informa. Os outros 75 mil hectares de florestas de eucalipto necessários para alimentar a operação contínua na segunda linha serão de áreas próprias da Fibria. "Já temos 30 mil hectares próprios e estamos negociando os outros 45 mil", afirma.

Neste ano, a companhia vai investir R$ 42 milhões na formação de florestas naquela região. No ano que vem, os aportes serão de R$ 400 milhões e vão atingir R$ 750 milhões em 2012. Em 2013, serão mais R$ 700 milhões. Nessa fase, a Fibria deverá iniciar os desembolsos relativos ao investimento industrial. Serão R$ 4 bilhões, cuja composição ainda não foi definida – na área florestal, os aportes serão bancados integralmente pelo caixa da companhia.

No pedido de licença prévia encaminhado ao Imasul, órgão competente no Estado de Mato Grosso do Sul, a Fibria informa que pretende implantar uma unidade fabril com capacidade de produção de 1,75 milhão de toneladas anuais de celulose de eucalipto, acima do que permite a tecnologia de ponta disponível atualmente. Conforme Aguiar, o objetivo é garantir permissão para futura expansão. "A tecnologia avança", ressalta. Assim, num primeiro momento, a Fibria elevará das atuais 1,3 milhão de toneladas/ano produzidas em Três Lagoas para 2,8 milhões de toneladas – podendo esbarrar na marca de 3 milhões de toneladas em pouco tempo.

A escolha pela expansão em Mato Grosso do Sul antes da implantação da segunda linha de celulose na Veracel, joint venture entre Fibria e Stora Enso, explica Aguiar, levou em conta fatores como a disponibilidade de florestas plantadas e a rapidez no processo de licenciamento. "Voltaremos a falar sobre a segunda linha da Veracel com nossa sócia em setembro ou outubro. Mas não há pressa." Enquanto a Fibria vai concentrar esforços no curto prazo para implementação da nova fábrica em Três Lagoas, sua sócia Stora Enso anda às voltas com o empreendimento de celulose que está tocando em sociedade com a chilena Arauco no Uruguai.

Entre analistas e investidores, havia forte aposta de que a Fibria retomaria seus planos de expansão a partir do sul da Bahia, onde está instalada a Veracel. Subsidiava essa análise o fato de o investimento, que deve girar em torno de R$ 5,5 bilhões, ser dividido entre as sócias. Conforme Aguiar, embora exista essa vantagem, a opção por iniciar o novo ciclo de investimentos pela região Centro-Oeste considerou sinergias que serão obtidas por se tratar de um projeto "brownfield" (expansão de unidade em operação) e o controle de 100% do negócio. "Em uma estimativa conservadora, poderemos chegar a US$ 300 milhões em economias", diz.

Também se esperava que a Fibria vendesse seus ativos de papel para que, então, anunciasse novos aportes em celulose. Aguiar diz que se trata de eventos independentes. "Se nos oferecerem um valor interessante por esses ativos, vamos avaliar. Mas a venda não é condição primordial para o projeto que estamos tocando agora", garante. A companhia tem uma fábrica de papéis especiais em Piracicaba (SP) e participação de 50% no Conpacel, consórcio com a Suzano Papel e Celulose que absorveu ativos da antiga Ripasa. Ambos os ativos estariam à venda.

Em setembro, quando completa um ano de existência, a Fibria terá muitas histórias para contar. Nesse período, desfez-se de um complexo industrial, o de Guaíba (RS), vendido à chilena CMPC, lançou dois bônus, fez duas operações de pré-pagamento de exportação, manejou os contratos de celulose em cenário de preços extremamente comprimidos – abaixo de US$ 500 a tonelada – e assistiu à entrada de forasteiros na indústria brasileira de base florestal. Ainda resta a reconquista do grau de investimento, que poderá vir entre o fim de 2011 e o começo do ano seguinte. Essa é a expectativa de Aguiar.

No fim deste segundo trimestre, a dívida bruta da Fibria estava em R$ 13,2 bilhões, com redução de R$ 2,9 bilhões ante o verificado um ano antes. O endividamento líquido da companhia, por sua vez, recuou 18% na mesma base de comparação, para R$ 10,8 bilhões. A melhora nessa linha do balanço e a geração de caixa mais robusta permitiram queda significativa no nível de alavancagem medido pela relação entre dívida líquida e Lajida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), de 7,2 vezes no segundo trimestre de 2009 para 4,7 vezes no mesmo intervalo deste ano.

De abril a junho, a companhia apurou Lajida de R$ 730 milhões, o equivalente a crescimento de 87% na comparação anual, beneficiada sobretudo pelo maior preço médio de venda da matéria-prima. No trimestre, a tonelada de celulose de fibra curta na Europa ficou em US$ 920 a tonelada (em junho), acima dos preços verificados no período pré-crise. A margem Lajida passou de 26% para 40% no segundo trimestre e a receita operacional líquida avançou 23%, para R$ 1,8 bilhão.

As vendas de celulose no segundo trimestre superaram os volumes produzidos e somaram 1,3 milhão de toneladas, 7% abaixo do verificado em igual intervalo de 2009, "por consequência exclusivamente da menor disponibilidade de produção", diante das paradas programadas para manutenção em Aracruz (ES), Três Lagoas (MS) e Veracel (BA). Além disso, os números do segundo trimestre de 2009 ainda refletiam a produção da unidade Guaíba, vendida para a CMPC. A Fibria registrou, no trimestre, lucro líquido de R$ 130 milhões, queda de 86% ante o verificado um ano antes. No semestre, o lucro líquido da companhia mostra recuo de 94%, para R$ 139 milhões.
 
(Stella Fontes | Valor)

 

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