Grupo de investidores compra marca e retoma produção

No inicio de 2008 a Recrusul era, pelo menos à primeira vista, um pacote pouco atraente. A empresa recém havia saído, em abril do ano anterior, de um período de 18 meses sem produzir um único implemento rodoviário sequer e carregava uma dívida de quase R$ 82 milhões. Desse total, R$ 50 milhões correspondiam a passivos tributários e o restante a débitos trabalhistas, bancários e com fornecedores incluídos no plano de recuperação judicial acertado com os credores em dezembro de 2006.

Mesmo assim, um grupo de dez investidores decidiu apostar no negócio e arrematou o controle da operação que pertencia a Valayr Hélio Wosiack por R$ 4 milhões em abril daquele ano. Entre eles estavam o atual diretor-presidente, Ricardo Mottin Jr, um engenheiro mecânico que em abril de 2007 já havia sido contratado como gestor da empresa pelo antigo controlador, e o economista, bacharel em ciências da computação e analista do mercado de capitais Bernardo Flores, hoje diretor financeiro e de relações com investidores.

Tanto Mottin Jr quanto Flores já tinham experiência em reestruturações de empresas. O diretor presidente tem 17,23% das ações ordinárias por intermédio da Master Assessoria, enquanto o diretor de relações com investidores detém 17% via Portocapital, uma empresa de investimentos. O grupo de controladores inclui ainda o gaúcho Ari Hilgert e o baiano Francisco Asclépio Aguiar, além de investidores paulistas, mas nenhum desses ocupa funções administrativas. No caso das ações preferenciais, 52% estão no "free float".

Além do aporte na aquisição do controle, os novos sócios colocaram R$ 23 milhões na Recrusul em dois aumentos de capital, no fim de 2008 e de 2009. As operações, somadas a um deságio de pouco mais de R$ 22 milhões nos passivos tributários corrigidos, por conta da adesão, no fim de 2009, ao Refis 4, permitiram a reversão do patrimônio líquido negativo de R$ 43 milhões no fim de 2007 para R$ 1,1 milhão positivos em 31 de março deste ano.

A aprovação do plano de recuperação judicial também garantiu fôlego à empresa, pois parcelou os débitos com bancos e fornecedores em oito anos (as duas primeiras parcelas foram pagas em dezembro de 2008 e dezembro de 2009) e também alongou o pagamento dos passivos trabalhistas, sempre com juros de 6% ao ano, sem correção. No fim do primeiro trimestre, o montante das dívidas era de R$ 22,6 milhões, contra os quase R$ 32 milhões originais.

No ano passado a empresa teve prejuízo consolidado de R$ 7,5 milhões, ante o lucro de R$ 900 mil em 2008, influenciado pela contabilização de um passivo tributário de R$ 17 milhões da controlada Refrisa decorrente da adesão ao Refis 4. "A controladora teve lucro de R$ 20,2 milhões", lembra Flores. No primeiro trimestre, o lucro consolidado foi de R$ 16 mil, ante R$ 2,7 milhões de lucro no mesmo período de 2009, quando o resultado foi turbinado pela reversão de R$ 5 milhões em provisões da mesma Refrisa. A empresa fabricava carrocerias em São Paulo, foi reativada no início do ano passado e hoje apenas presta serviços para a controladora.

(Valor)
 

 

 

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