Holcim avalia nova fábrica para ir além do Sudeste

A fabricante suíça de cimento Holcim está em busca de áreas no país para ampliar sua atuação para além da região Sudeste. Com duas fábricas em Minas Gerais e uma no interior do Rio, a empresa estuda construir uma nova unidade ou se associar com uma companhia já constituída no Sul, Centro-Oeste ou Nordeste. A Holcim diz ter minas de calcário, base para a fabricação de cimento, ainda não exploradas nas três regiões.
 
Em entrevista ao Valor, o presidente da cimenteira no Brasil, Otmar Hübscher, disse que tem viajado para prospectar locais para esse novo empreendimento. A empresa, que está entre as líderes mundiais em cimento, concreto e agregado, prevê que a demanda por cimento no Brasil continuará acelerada pelo menos pelas próximas duas décadas e por isso deseja ampliar sua capacidade de produção.

Hoje, a direção da companhia diz que esta entre a quinta e sexta posição no ranking das maiores cimenteiras do país. No ranking de vendas globais do grupo – presente em mais de 70 países – o Brasil tem participação de 2% a 3%.
 
Em agosto, a empresa anunciou um investimento para expandir a fábrica da cidade mineira de Barroso. A meta é que a nova linha de produção esteja funcionando em 2014. Previstas para começarem em janeiro, as obras dependem da licença ambiental. A expectativa da empresa é que agora em março o documento saia e que as obras comecem em seguida. A construtora mineira Mendes Junior estará a cargo das obras. O investimento chega a US$ 800 milhões.
 
O projeto em estudo em outras regiões, poderá ser tocado "depois ou juntamente com as obras em Barroso", disse o executivo suíço, que está há pouco mais de um ano no comando da empresa no Brasil.

"Estamos analisando novas fábricas no Sul, Centro-Oeste e Nordeste. Pode ser uma fábrica nova ou junto com um sócio", disse Hübscher, na fábrica de Pedro Leopoldo, cidade próxima a Belo Horizonte. Além dessa e a de Barroso, a Holcim tem fábrica em Cantagalo (RJ). As três estão instaladas próximas a jazidas de calcário da empresa. "Fábricas só podem existir perto de jazidas de calcário. Temos jazidas ainda não exploradas no Sul, Centro-Oeste e Nordeste."
 
No site do Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão vinculado ao Ministério de Minas de Energia, a empresa aparece como tendo obtido concessões de lavra de calcário fora da região Sudeste nos municípios de Itaperuçu e Rio Branco do Sul, ambos no Paraná. Há ainda outra autorização de pesquisa em Rio Branco do Sul. No Nordeste, há uma requisição para exploração de calcário em Mossoró (RN), mas o status atual do processo é ”disponibilidade”, o que sugere que a área não estaria em uso pela Holcim. De acordo com o site, não há concessões ou autorização de lavra de calcário em outros Estados fora do Sudeste.

Hübscher se recusou a informar quais Estados considera atuar alegando que poderia levar a uma movimentação na concorrência e porque poderia criar expectativas nos funcionários. A empresa, que está no Brasil desde 1951, só vende para a região Sudeste.
 
Os planos para o Brasil se baseiam em previsões bastante otimistas do grupo. Na última década, diz Hübscher, a empresa canalizou seus investimentos na Ásia, em especial para Índia e China. "Agora acreditamos que a próxima década será mais para o Brasil. É a principal economia no Hemisfério Ocidental, com um potencial de crescimento importante. Os EUA têm 300 milhões e depois vem o Brasil com 200 milhões. A diferença é que nem EUA nem Europa crescem como o Brasil", diz o executivo, que antes de se mudar para o Brasil atuou na Argentina, Chile, Equador, Colômbia e Venezuela.
 
"Como o Brasil entrou numa década de crescimento contínuo e estável, a necessidade de infraestrutura é enorme. O país será reconstruído, como enorme demanda para construção civil e, como consequência, por concreto", diz.

A capacidade instalada no Brasil já está sendo praticamente toda utilizada. "Por isso precisamos em 2014 da nova capacidade." É quando a empresa planeja pôr em funcionamento a nova linha de produção de Barroso, com um moinho de cimento que a Holcim diz será o maior do mundo. Com a ampliação, a capacidade anual de produção da unidade subirá de 1,2 milhão de toneladas para 3,6 milhões de toneladas. A capacidade no Brasil passará de 5,3 milhões para 7,9 milhões de toneladas.

O que vier a ser produzido a mais em Barroso, no entanto, continuará atendendo somente ao Sudeste. "Nós estamos nos preparando para atender a uma demanda crescente aqui no Sudeste e depois, num segundo passo, a outras regiões do país" conta o presidente.

A empresa faturou R$ 1,32 bilhão em 2010. A receita de 2011 deve sair nos próximos dias. Em todo mundo, a empresa registrou faturamento líquido de 20,7 bilhões de francos suíços (R$ 39,3 bilhões) em 2011, 4,2% a menos do que no ano anterior.
 
No Brasil, a Holcim tem contratos de fornecimento para obras dos setores que, para a empresa, são hoje os principais puxadores do crescimento da venda cimento no Brasil: Copa e Olimpíadas, petróleo e gás e moradia. Concreto da Holcim está sendo usado na reforma do Maracanã e do Mineirão. A empresa é também até o momento, segundo Hübscher, única fornecedora para as obras do Porto do Açu, no Rio, do grupo de Eike Batista. Para a Petrobras, a multinacional é a principal fornecedora de materiais cimentícios, seja para poços petroleiros, seja para ancoragem de plataforma. E na área de moradia, é parceira da Direcional – uma das maiores executoras do Minha Casa Minha Vida. "Estamos participando e aproveitando dessa boa conjuntura."

(Marcos de Moura e Souza | Valor)

 

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