Máquina de Vendas faz nova fusão e deixa Sul para 2012

A fusão da pernambucana Eletro Shopping com a Máquina de Vendas, anunciada ontem, obrigará o grupo varejista a montar um plano de integração da nova operação. E isso deve levar o grupo a postergar para 2012 os planos de aquisição de redes varejistas em outras praças, especialmente no Sul do país, região em que a rival, Magazine Luiza, acaba de entrar com a compra dos pontos do Baú da Felicidade.

O comando da Máquina de Vendas, criada em 2010 com a união das redes Insinuante e Ricardo Eletro, mantém de pé o projeto de buscar ativos nessa região e no Estado de São Paulo. Mas consultores estimam que a unificação das estruturas da Eletro Shopping com a Máquina de Vendas, especialmente em termos logísticos e de distribuição e dos sistemas de tecnologia da informação, deve levar de oito a nove meses.

"Não temos pressa. Queremos muito entrar no sul, e há redes bem interessantes por lá. A não ser que algo muito bom apareça, temos que pensar em consolidar o que já temos", disse ontem Luiz Carlos Batista, presidente do conselho de administração da Máquina de Vendas.

No acordo assinado na madrugada de terça-feira, num flat no Itaim, entre Richard Saunders, 39 anos, fundador da Eletro Shopping, e o comando da Máquina de Vendas, foi criada uma nova empresa, a Máquina de Vendas Nordeste. Ela será presidida por Saunders e o controle se dividirá, com 51% da Máquina de Vendas Brasil e 49% de uma holding a ser criada por Richard (provavelmente terá o nome de Grupo Saunders).

As empresas não comentam, mas pessoas próximas à negociação afirmam que o acordo com a Eletro Shopping envolveu de R$ 150 milhões a R$ 160 milhões. O Valor apurou que os recursos devem sair do caixa da Máquina de Vendas, que recebeu neste ano um aporte de R$ 500 milhões do banco HSBC, escolhido para ser o parceiro da rede na área financeira.

As sinergias com a operação ainda não foram calculadas, mas a Máquina de Vendas estima que em 70% das cidades onde a Eletro Shopping está não há pontos da Insinuante. O negócio deve passar pela avaliação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). "Calculamos que a participação de mercado da Eletro Shopping e da Máquina de Vendas, nas cidades onde ambas atuam, chega a 25% no máximo", disse Saunders.

"A análise do Cade deve ser distrital, com uma avaliação por cidade. Mas o negócio não deve ser barrado. No máximo podem ter que vender algumas lojas", afirma Claudio Felisoni, coordenador do Provar/USP.

Com o negócio, a Máquina de Vendas recupera o posto de segunda maior rede de eletromóveis do país – perdido em junho para o Magazine Luiza. A sociedade fechada com a rede pernambucana leva o grupo a somar 900 lojas em 23 Estados, receita de R$ 6,5 bilhões (para o ano, estimam R$ 7,2 bilhões) e 24 mil empregados. O Magazine Luiza soma hoje 725 unidades, receita de R$ 6,1 bilhões após a compra do Baú (analistas estimam R$ 7 bilhões em 2011) e 23 mil funcionários.

Enquanto a concorrente Magazine Luiza cresce por meio da compra do controle das redes, a Máquina de Vendas adquire 51% de uma nova empresa e mantém os antigos donos na operação. Para isso, vão sendo criados vários braços regionais do grupo (já existe a Máquina de Vendas Centro-Norte, comandada pela City Lar), que operam de forma integrada, mas com autonomia para decisões operacionais do dia a dia.

"Foram três meses de negociação mais intensa e um ano de longo namoro", conta Saunders, que criou a Eletro Shopping aos 22 anos. O empresário conta que foi assediado por fundos de investimentos e não chegou a conversar com outras redes interessadas.

"Acabamos nos acertando porque nesse modelo da Máquina de Vendas eu não saio do negócio. Continuamos à frente de tudo", afirma Saunders, que começou a trabalhar vendendo camarão no Recife. "Nós precisávamos de escala para brigar com gente como Casas Bahia e o Magazine Luiza. E sou muito novo ainda, quero fazer muita coisa".

(Adriana Mattos | Valor)

+ posts

Share this post