O Brasil no horizonte

O País recebe US$ 27 bilhões de investimento estrangeiro direto no primeiro semestre deste ano. Saiba para onde está indo esse dinheiro de longo prazo.

O presidente da rede americana de hotéis Host Hotels & Resorts, W. Edward Walter, anunciou aos seus acionistas que estava entusiasmado com um dos mais recentes projetos do grupo. Há poucas semanas, a Host tornou público que investirá US$ 72 milhões na construção de dois novos hotéis no Rio de Janeiro, que serão administrados pela francesa Accor. “O Brasil é um mercado com economia forte, um tremendo potencial de crescimento, além de um número limitado de leitos”, justificou Walter. Ele não está sozinho. Apesar das ressalvas que o País recebeu pela sua dificuldade em retomar um PIB mais robusto, o mercado brasileiro continua sendo um “queridinho” para o capital estrangeiro.

“Não há como fugir, somos rota de investimentos”, diz Robertson Emerenciano, do escritório Emerenciano Baggio e Associados, de São Paulo, que tem como clientes diversos investidores internacionais interessados em aplicar em infraestrutura. Emerenciano observa um movimento paradoxal quando se compara o afã dos estrangeiros por fincar bandeira aqui, com o ânimo dos empresários locais. Enquanto as empresas nacionais colocam o pé no freio para investir, as estrangeiras se entusiasmam com atributos brasileiros, cada vez mais escassos no mundo: renda crescente, amplo mercado interno, e muita demanda reprimida. Não por acaso, o Brasil é o quinto destino preferido dos investidores internacionais, segundo as Nações Unidas (ONU).
 
Assim como a Host, que já tinha um hotel com a bandeira JW Marriott no Rio, os americanos têm aumentado sua presença no Brasil, num momento em que os Estados Unidos enfrentam dificuldades para recuperar a sua economia. Um dos caminhos eleitos é a compra de ativos brasileiros. Segundo levantamento da consultoria KPMG, as companhias americanas foram responsáveis por 102 operações de fusões e aquisições no primeiro semestre deste ano no Brasil, 60% a mais do que no mesmo período do ano passado. De acordo com dados divulgados pelo Banco Central, na terça-feira 24, os Estados Unidos já representam 15,6% dos investimentos feitos no País, entre janeiro e junho deste ano. Em 2011, sua participação foi de 12,8%. Ao todo, o Brasil recebeu US$ 27 bilhões do Exterior no primeiro semestre.
 
Curiosamente, o setor industrial, que deve crescer abaixo do PIB em 2012, é o principal alvo: 47,7% do capital estrangeiro foi destinado à indústria. “Vivemos um momento de correção da economia, mas os investidores têm uma visão muito positiva do Brasil para os próximos dez anos”, diz David Bunce, sócio da KPMG. A filial brasileira da Panasonic, por exemplo, levantou recursos com a matriz japonesa para construir sua terceira fábrica no País, no município de Extrema, em Minas Gerais. A nova unidade, que começou a ser construída em fevereiro, com investimento de US$ 100 milhões, produzirá refrigeradores e máquinas de lavar. “Reforçamos o compromisso com o desenvolvimento do País”, diz Ichiu Shinohara, vice-presidente da Panasonic do Brasil. Outra companhia que está fortalecendo os laços com o País é a alemã SAP.
 
A empresa de tecnologia investe US$ 25 milhões na expansão de seu laboratório em São Leopoldo (RS). A unidade desenvolve softwares de gestão e presta serviços de suporte para as Américas. “Há boas oportunidades de crescimento em mobilidade, computação em nuvem e banco de dados”, diz Luís César Verdi, vice-presidente de vendas de inovação para a América Latina. Um dado que chama a atenção no levantamento do BC é o aumento dos investimentos estrangeiros no valor de até US$ 500 milhões, enquanto os projetos acima de US$ 1 bilhão caíram. No ano passado, as operações bilionárias somavam 27,3% do total, caindo no primeiro semestre deste ano para apenas 9,2%. Ainda é cedo para determinar se é uma tendência firme, mas os especialistas acreditam que uma possibilidade é o aumento de investimentos de empresas de médio porte, que podem estar chegando para atuar como fornecedores de empresas de grande porte.

“Isso aconteceu com a indústria automobilística nos anos 1990, quando várias montadoras se instalaram no País, atraindo seus parceiros”, diz Emerenciano. “Agora é a cadeia de óleo e gás que vive algo semelhante, principalmente com a política de conteúdo nacional.” As oportunidades geradas pelos eventos esportivos também são fatores que colocam o Brasil no horizonte dos estrangeiros. O Grupo Barraqueiros, por exemplo, maior companhia de transporte de passageiros de Portugal, está investindo US$ 125 milhões no País. Trata-se do primeiro movimento de internacionalização da empresa. “Prevíamos explorar oportunidades apenas no Ceará, mas logo decidimos que temos de avaliar todo o mercado brasileiro”, disse Humberto Pedrosa, presidente do Grupo Barraqueiros, em entrevista à imprensa portuguesa.
 
Estão em sua mira as operações do metrô de Fortaleza e de Salvador. Mas, ainda que os ventos continuem favoráveis aos estrangeiros, o País pode não repetir o resultado de 2011, quando o capital externo somou quase US$ 70 bilhões. Segundo Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais (Sobeet), até o final do ano o mercado brasileiro receberá US$ 50 bilhões. “Ainda é um volume interessante, mas teremos uma queda”, diz Lima. Vale lembrar que o presidente da Sobeet também estimou uma cifra de US$ 50 bilhões no começo de 2011 e errou feio. Será que vai errar de novo?

(Carla Jimenez e Luís Artur Nogueira | Isto é)

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