Receita da Lupatech pode dobrar com San Antonio

A incorporação da San Antonio Brasil (SABR) pode dobrar o faturamento da Lupatech. Da carteira de pedidos de R$ 1,6 bilhão da empresa a ser incorporada, cerca de R$ 500 milhões devem se converter em receita nos próximos 12 meses. Em 2010, o faturamento da Lupatech foi de R$ 581,6 milhões.
 
A informação foi dada ontem pelo presidente da Lupatech, Alexandre Monteiro, em teleconferência para a apresentação do plano de reestruturação da empresa, anunciado em 28 de dezembro.
 
O plano inclui a incorporação da SABR, empresa que fornece serviços para o setor de petróleo e gás, detida pela GP Investments, e um aumento de capital de até R$ 700 milhões.
 
Desse montante, pelo menos R$ 350 milhões estão assegurados. Petros e BNDESPar – segunda e terceira maior acionistas da Lupatech, com 15% e 11,5% de participação, respectivamente – entrarão com R$ 300 milhões.
 
Outros R$ 50 milhões em dinheiro serão aportados pela GP Investments, que integralizará também mais R$ 50 milhões em ações referentes à incorporação da SABR. O valor total atribuído à San Antonio foi de R$ 150 milhões, sendo R$ 100 milhões em dívidas.
 
Monteiro confirmou que o BNDES estaria menos disposto que os demais acionistas a fazer um aporte em dinheiro. De acordo com ele, se a injeção de capital de R$ 350 milhões for atingida com a participação de Petros, GP e demais acionistas, o braço de investimentos do banco de fomento pode subscrever papéis na chamada de capital por meio da conversão de debêntures.
 
Essa conversão se daria no valor de R$ 4 por ação estabelecido para o aumento de capital, garantiu Monteiro, sem explicar como se dará a negociação sobre a cláusula da escritura de emissão das debêntures, que prevê um preço mínimo de R$ 17,50 para a troca.
 
Para ter mais informações sobre a saúde financeira da SABR – que é uma empresa de capital fechado -, os analistas terão de aguardar cerca de 45 dias, quando deve ser concluído o acordo vinculante com a Lupatech.

Por ora, a apresentação de concentrou nos aspectos operacionais da incorporação que, segundo Monteiro, dará origem à maior empresa regional de equipamentos e serviços para o setor de petróleo e gás, com condições de competir com as estrangeiras que hoje dominam o mercado nacional.

Questionado sobre as sinergias da operação, Monteiro preferiu não citar números. "Ainda não temos um número fechado. Mas, para dar o passo que demos, examinamos esse potencial. As sinergias são qualitativas e bastante palpáveis", afirmou.
 
Entre as reduções de custos da incorporação, o executivo mencionou durante a apresentação a possibilidade de venda de uma das bases em Macaé, onde operam tanto Lupatech quanto a SABR. Além disso, há sobreposições nas áreas de suporte e administrativa, o que abre espaço para diluição das despesas fixas.
 
Bastante aguardado pelo mercado, o plano de capitalização foi visto com algum alívio pelos analistas. Uma operação de "resgate" da empresa se mostrava inevitável desde a divulgação do balanço do terceiro trimestre, que escancarou que a companhia estava à beira de um calote – com dívidas de R$ 1,2 bilhão, o caixa da Lupatech era de apenas R$ 30 milhões.
 
Porém, se a injeção de capital de pelo menos R$ 350 milhões garante a solvência, a empresa ainda terá que se provar em termos de execução e resultados.
 
Evidência disso é que, à espera de mais detalhes sobre a operação, as ações da Lupatech reagiram de forma praticamente neutra ao plano de reestruturação.
 
Desde o dia 28, quando a capitalização foi anunciada, os papéis acumulam alta de 5%, e fecharam o pregão de ontem cotados a R$ 4,52.
 
Até que a data do aumento de capital seja estabelecida, a ação deve girar em torno dos R$ 4, afirmou a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA, em relatório. "Uma vez que a capitalização se concretize, a entrega do plano de negócios balizará o desempenho das ações, já que o endividamento permanecerá elevado", acrescentou.
 
Já os títulos de dívida da companhia reagiram em forte alta, com consequente redução do retorno. A avaliação que a operação, se concretizada, reduz o risco de calote no curto prazo, fez com que os bônus perpétuos (sem data de vencimento da empresa) apresentassem valorização de 11,4% desde o anúncio da reestruturação.
 
Em relação ao dia 23 de novembro, data em que os papéis de dívida atingiram a mínima histórica, cotados a 39,938 centavos de dólar e pagando um retorno de 25,35% ao investidor que se dispusse a adquiri-los, a alta acumulada é de 96%. Quem adquiriu os mesmos bônus no mercado ontem pagou 76,375 centavos, o equivalente a um retorno de 12,96%.
 
Durante a teleconferência, o presidente da Lupatech negou qualquer intenção de aproveitar os recursos do aumento de capital para uma recompra dos papéis – que somam US$ 275 milhões – no mercado.

(Natalia Viri | Valor)

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