San Marino se associa à americana Navistar

Em 1991, aos 31 anos de idade e depois de onze anos como funcionário da Marcopolo, maior fabricante de carrocerias de ônibus do Brasil, Edson Tomiello decidiu virar empresário. Com o dinheiro da venda de um Chevette e um financiamento bancário, comprou duas máquinas de solda e fundou em Caxias do Sul (RS) a San Marino, uma pequena metalúrgica que fornecia componentes para a ex-empregadora e outros clientes como AGCO e Springer. Hoje ele é concorrente e sócio dos antigos patrões, fechou uma parceria com a americana Navistar e já planeja faturar R$ 1 bilhão por ano até 2015.
 
Tomiello, que desde criança carrega o apelido de "Trovão" graças à eloquência verbal, começou a fabricar carrocerias com a marca Neobus em 1999, quando a San Marino faturava R$ 6 milhões por ano, tinha 50 funcionários e percebeu que não conseguiria crescer como desejava produzindo apenas componentes. Alguns anos mais tarde, em 2007, a própria Marcopolo comprou 39% da empresa do antigo funcionário e fornecedor, depois aumentou a participação para 45% e neste ano vendeu uma fatia de 12% para a Navistar para facilitar a associação da coligada com os americanos.
 
Agora, com a nova configuração societária, os projetos do empresário, que chegou a trabalhar como auxiliar de pedreiro com o pai antes de ingressar na Marcopolo e de se formar em administração de empresas em 1985, são ainda mais ambiciosos. Após apurar receita bruta de R$ 500 milhões em 2011, ele projeta faturar R$ 600 milhões em 2012 e pretende inaugurar, até outubro, sua segunda unidade industrial, desta vez em Três Rios (RJ), com investimento de R$ 90 milhões. Também planeja colocar em operação, em 2013, uma fábrica no México com a Navistar
 
Segundo Tomiello, a associação com a Navistar tem como objetivo a produção de ônibus completos (carrocerias e chassis) para os mercados da América do Norte e da América do Sul com a marca Neostar. Para fechar a parceria, que incluiu a transferência de tecnologia para a fábrica de Caxias do Sul, onde as primeiras unidades da linha de micro-ônibus já estão sendo fabricadas, os americanos também arremataram 35% da holding pessoal do empresário, que controla 53% da San Marino, mas o valor da operação não foi revelado.
 
De Caxias, os ônibus completos Neostar irão para o mercado brasileiro e sul-americano, explicou Tomiello. No ano que vem, a fábrica prevista para o México deverá receber carrocerias da linha rodoviária parcialmente desmontadas da unidade gaúcha para completar a produção com os chassis da própria Navistar e motores da MWM (controlada da sócia americana) e vendê-los no mercado local, nos Estados Unidos e países do norte da América do Sul, como a Colômbia. O tamanho da nova fábrica e o investimento necessário à implantação ainda não foram definidos.
 
Já a unidade do Rio estava programada antes da associação com a Navistar, diz o empresário. A fábrica, construída com recursos próprios e financiamentos de longo prazo, terá de mil a 1,2 mil funcionários, será especializada na produção de carrocerias de ônibus urbanos com a marca Neobus (colocadas sobre os chassis de montadoras como MAN, Mercedes Benz, Volvo e Scania entregues pelos clientes) e poderá produzir 4 mil unidades por ano, capacidade semelhante à de Caxias do Sul.
 
Com a inauguração da unidade fluminense, conforme Tomiello, a fábrica do Rio Grande do Sul, que emprega 2,3 mil pessoas, será focada em produtos de maior valor agregado, como as carrocerias para os ônibus articulados destinados aos sistemas de corredores BRT e os novos modelos rodoviários que serão lançados em junho, ambos com a marca Neobus. Na linha Neostar, de veículos completos, Caxias tem capacidade para produzir mais mil unidades por ano, mas em 2012 o volume deverá ficar entre 500 e 600.
 
No ano passado a San Marino produziu 3.863 carrocerias, com queda de 1,6% sobre 2010, conforme a Fabus, que reúne os fabricantes brasileiros do setor. O desempenho levou a empresa a perder a terceira posição no ranking da entidade para a Comil, de Erechim (RS), que produziu 4.118 unidades. A primeira é a Marcopolo, com 14.635 carrocerias (incluindo a controlada Ciferal, do Rio de Janeiro), seguida pela Induscar (9.610). O volume total do país alcançou 35.531, 9% a mais do que em 2010.

Mas a queda de volume e a perda do terceiro lugar no ranking, que considera o número de unidades produzidas, não tira o sono de Tomiello. Segundo ele, apesar disso o faturamento bruto da San Marino cresceu 23% sobre 2010 devido ao aumento das vendas de modelos BRT e rodoviários leves, usados por empresas de fretamento, que têm preços maiores do que as linhas de urbanos tradicionais.
 
As exportações são menos de 10% da receita, mas neste ano devem chegar a 15% com a introdução da linha de rodoviários, desenvolvida por dois anos com investimentos de R$ 40 milhões. A empresa encerrou 2011 com lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) de R$ 50 milhões.

(Sérgio Ruck Bueno | Valor)
 

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