Com instabilidade dos mercados, empresas privilegiam liquidez

Entre as 229 principais companhias abertas do país, apenas 50 possuem uma posição de caixa superior à dívida bruta.
 
Pela teoria econômica, é mais interessante que a empresa possua dívida maior que a posição de caixa. Um dos motivos para isso é que o custo da dívida seria menor que o retorno exigido pelos sócios. Ao reduzir seu custo médio do capital, a empresa valeria mais quando avaliada pelo método do fluxo de caixa descontado, porque a taxa de desconto seria menor.
 
Ainda assim, algumas preferem manter o caixa maior que a dívida. O maior exemplo no mundo talvez seja o da Apple, maior companhia por valor de mercado, que tinha em março US$ 30 bilhões no caixa e zero de endividamento.
 
No Brasil, isso ocorre principalmente com empresas pré-operacionais que levantaram recursos em aberturas de capital recentes, como as petrolíferas HRT, OGX e QGEP. Mas também há algumas empresas operacionais que apresentam a mesma situação.
 
A Ambev, que tinha posição líquida de caixa de R$ 4,1 bilhões ao fim de dezembro, ficou com caixa superior à dívida pela primeira vez em setembro de 2010. "A gente vem carregando uma posição de caixa que dá uma liquidez, uma fortaleza aos nossos planos futuros. A maioria das empresas listadas no Brasil vem carregando um pouquinho mais de caixa para ter essa flexibilidade, dada a incerteza dos mercados financeiros", diz o vice-presidente financeiro e de relação com investidores da Ambev, Nelson Jamel.
 
No caso da BM&FBovespa, o que explica a elevada posição líquida de caixa é sua condição de contraparte central das operações realizadas na bolsa, diz Eduardo Guardia, diretor financeiro da companhia. Além das garantias depositadas pelos investidores nas câmaras de compensação, o caixa da própria bolsa serve como uma garantia adicional para as transações. "Qualquer bolsa que administra uma câmara de compensação tem que ter caixa mais alto. E isso vai continuar assim", diz o executivo.
 
A Multiplus, empresa que administra programas de fidelidade, é outra que tem caixa líquido elevado, de R$ 889 milhões ao fim de 2011. No ano passado, o resultado financeiro da empresa foi positivo em R$ 95 milhões, com peso relevante no lucro líquido total de R$ 274 milhões.
 
"Uma prática que já utilizamos no passado e que pode ser estimulada é a compra antecipada de recompensas (por exemplo, passagens aéreas) com uma taxa de desconto. Isso nos traz uma melhor rentabilidade do caixa", diz Eduardo Gouveia, presidente da Multiplus, ao falar sobre as alternativas de destino do dinheiro disponível. "Outra forma é investirmos, como estamos fazendo, na montagem de uma nova empresa para prestação de serviços de fidelização a terceiros", explicou.

(Valor)

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