Acordo entre GM e grupo PSA repercute na América do Sul

A similaridade dos automóveis vendidos na América do Sul com os da Europa faz com que o papel do continente ganhe importância no processo de sinergia entre a General Motors e o grupo francês PSA Peugeot Citroën, que se inicia a partir da aliança anunciada ontem. "América do Sul e Europa representam as regiões que apresentam as maiores oportunidades de sinergias para as duas companhias porque os veículos vendidos aqui são praticamente iguais aos dos mercados europeus", disse ontem ao Valor o presidente da PSA no Brasil e América do Sul, Carlos Gomes.

No cenário mundial, a parceria, por meio da qual a General Motors obteve 7% de participação do grupo francês, ao injetar US$ 1 bilhão, permite que a líder ganhe um pouco mais de vantagem numa disputa que vinha apertada com Volkswagen, que ficou no segundo lugar em 2011, seguida pela Toyota.

No Brasil, a GM, que fechou 2011 com a participação próxima de 20%, ganha uma parceira que obteve 5,2%, somando as marcas Peugeot e Citroën, que integram o mesmo grupo. Somadas as fatias, a aliança PSA e GM ficaria com mais de um quarto do mercado brasileiro. No ano passado, a Fiat foi novamente a líder, com 22,5%, seguida pela Volks (22,1%). A parceria também acirra a disputa entre as três maiores. A GM, que já é líder na região, vendeu 1,064 milhão de veículos na América do Sul no ano passado e o grupo PSA mais 326 mil no mesmo período.

Gomes diz que vai agora aguardar as instruções que surgirão nos próximos dias do grupo que será formado para elaborar os detalhes da sinergia. Haverá quatro executivos de cada lado encarregados dessa missão.

Esta não é a primeira vez que o executivo participa de uma aliança com a GM. "É o meu segundo casamento com a GM", diz. Gomes trabalhava como diretor comercial da Fiat em Portugal, seu país de origem, quando a companhia americana decidiu fazer uma aliança com a italiana, em 2000. Essa parceria fracassou e foi desfeita seis anos depois.
 
Um dos principais objetivos da extinta aliança Fiat-GM está novamente no topo dos objetivos da parceria que a americana faz agora com os franceses: a sinergia na área de compras. As compras mundiais dos dois novos parceiros somam US$ 125 bilhões, dos quais US$ 95 bilhões são consumidos apenas pela GM. Os novos parceiros anunciaram ontem que esperam alcançar uma economia de US$ 2 bilhões com a aliança nos próximos cinco anos.
 
Mas, enquanto no casamento com a Fiat as metas principais pareciam muito mais alinhadas com a intenção de enxugar custos, na nova parceria ganha igual importância o desenvolvimento de produtos. A pressão mundial por automóveis mais econômicos, menos poluentes e mais seguros tem obrigado a indústria a acelerar o processo de criação.
 
No Brasil, o grupo PSA, ainda tímido na área de desenvolvimento de produtos na região, poderá, nesse caso, se beneficiar de um avançado centro de criação que a General Motors tem em São Caetano do Sul (SP). Mas, segundo Gomes, ainda é muito cedo para responder a essa questão.
 
No mundo, o grupo PSA já tem entendimentos com várias marcas. Desenvolve carros pequenos junto com Toyota, motores a diesel com a Ford, veículos comerciais e elétricos com a Mitsubishi e os projetos de carros híbridos com a BMW. Esses acordos serão todos mantidos, lembra Carlos Gomes. "Mas a aliança com a GM é algo muito maior", afirma. O executivo diz, ainda, que não está previsto no acordo nenhuma possibilidade de aumento de participação da GM no futuro. Além disso, a família Peugeot continuará sendo a maior acionista do grupo PSA, o que, de certa forma, serve para garantir um pouco a identidade do grupo francês.
 
Embora as três marcas – Chevrolet, da GM, Peugeot e Citroen – atuem no segmento de carros pequenos no Brasil, a aliança não significará o fim da concorrência entre elas. "É impossível não atuar nesse segmento quando se está no mercado brasileiro", destaca Gomes. Mas o acordo prevê, para o futuro, sinergia também na criação de veículos. O foco será em carros pequenos e utilitários. Nos planos desse casamento, o primeiro veículo concebido nessa relação chegará ao mercado em 2016.
 
Embora a parceria tenha surgido como uma solução para a queda de vendas na Europa, que tanto um como outro enfrentam, não se pode perder de vista as estratégias de longo prazo. Quem está no topo do ranking, como a GM, precisa se preocupar, por exemplo, com os planos ambiciosos da Volks para ocupar o primeiro lugar em 2018. A estratégia da montadora alemã se sustenta basicamente no aumento de capacidade de produção, principalmente na China e no Brasil, onde está para ser anunciada a construção de uma nova fábrica.
 
Enquanto registrou lucro líquido de US$ 7,59 bilhões no mundo em 2001, na Europa a montadora americana teve prejuízo de US$ 747 milhões.

(Marli Olmos | Valor)

 

 

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