BM&F e Santander apostam no carbono

Wedekin, da BM&FBovespa: "Temos de estruturá-los e fazê-los decolar".
 
O mercado financeiro de crédito de carbono praticamente não existe no Brasil, mas já há duas bolsas interessadas em desenvolvê-lo. A BM&FBovespa anuncia hoje uma parceria com o banco Santander para começar a estruturar produtos referenciados em crédito de carbono, previstos para estar prontos no ano que vem. Paralelamente, a Bolsa Verde do Rio de Janeiro, ou BVRio, pretende transacionar os primeiros contratos de crédito de carbono em janeiro de 2013.
 
Ainda não há definição dos tipos de produtos que serão criados pelo Santander e pela BM&F, mas a expectativa é que eles possam ser negociados também internacionalmente em bolsas parceiras. "Reconhecemos uma lacuna de mercado e temos potencial para nos tornarmos o maior mercado de carbono da América Latina", disse Roberto Campos, diretor de tesouraria do Santander. O banco espanhol também será o "market maker" desses ativos, responsável por tentar dar liquidez a eles no início. As propostas de produtos precisam ser aprovadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda.
 
O crédito de carbono é uma espécie de commodity que padroniza as emissões de gases que geram o efeito estufa. Em ambiente de bolsa, as empresas ou entidades que têm créditos em sobra – ou seja, que mitigaram as suas emissões de alguma forma-, vendem esses ativos para aquelas que poluem mais do que poderiam. A partir desses "pacotes", são criados produtos financeiros de mercado à vista ("spot") e derivativos como contratos futuros, a termo ou de opção, por exemplo.

Ivan Wedekin, diretor de commodities da BM&FBovespa, explica que ainda não há um preço padrão com flutuação diária para os contratos de carbono no país hoje: estabelecê-los deve ser o primeiro fruto da parceria. "Temos dois desafios: estruturar os produtos e fazê-los decolar", disse Guilherme Fagundes, gerente de produtos ambientais da BM&FBovespa. Atualmente, a maior parte das transações desses ativos em bolsa acontece na Europa – estima-se que por lá tenha sido movimentado US$ 100 bilhões em 2010, sendo Londres o principal polo dos negócios.
 
Mas o momento não é dos melhores para o segmento no mercado externo. O preço da commodity no mercado internacional está em seu patamar histórico de baixa – "o que é esperado em momentos de declínio econômico", explica Roberto Campos, do Santander. Para se ter uma ideia, um contrato de crédito de carbono negociado no mercado europeu à vista valia € 21,69 em março de 2008. No fim de abril deste ano, o mesmo contrato era negociado a € 7,46 – desvalorização de 65,6%.
 
A BM&FBovespa terá como concorrente direta a BVRio, bolsa só de ativos verdes, e cuja intenção é operar a sua primeira transação durante a cúpula ambiental Rio+20. Além de contratos de carbono, a BVRio permitirá transações de ativos florestais, de mecanismos de logística reversa e de efluentes industriais, mas o foco da bolsa carioca será o mercado de carbono.
 
Segundo o presidente da entidade, Pedro Moura Costa, os primeiros contratos de carbono originados por empresas com sede no Estado do Rio poderão ser negociados na bolsa em janeiro do ano que vem. "Ainda estamos conversando com a indústria local para determinar a característica desses contratos, mas estamos em um estágio bem avançado", disse Moura. Segundo ele, ainda falta fechar parceria com uma outra bolsa para oferecer a plataforma tecnológica em que acontecerão as transações.
 
A BM&FBovespa diz que focará, a princípio, somente a estruturação de produtos financeiros de crédito de carbono e que não estuda, por enquanto, outros tipos de ativos verdes.

(Filipe Pacheco | Valor)
 

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