Brasil tem espaço para outras Bolsas de Valores, diz CVM

O Brasil tem espaço para a implantação de outras Bolsas de Valores, abrindo concorrência com a BM&Bovespa, que desde 2002 exerce o monopólio na negociação de ações, segundo estudo encomendado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) à consultoria Oxera.
 
O estudo foi contratado após duas Bolsas americanas –Direct Edge e Bats (Better Alternative Trading System)– terem anunciado a intenção de se instalar no país.
 
Na análise, a Oxera considerou as taxas de negociação e de pós-negociação (depósito, liquidação de operações, compensação e controle de risco) da Bovespa “superiores às que seriam em um mercado competitivo”, indicando que a entrada de novas Bolsas poderiam reduzir o custo para os investidores.
 
Procurada, a BM&Bovespa não quis se comentar.

“Em princípio, há espaço suficiente para que múltiplas plataformas de negociação possam competir de modo eficiente”, concluiu o estudo da Oxera, que será agora objeto de discussão entre a CVM e agentes do mercado.
 
Após a consulta pública, a própria comissão decide se dará permissão ou não a novas empresas que queiram entrar no mercado.
 
Nos EUA, a Direct Edge e a Bats mexeram com o equilíbrio entre a Bolsa de Nova York e a Nasdaq, oferecendo tecnologia de ponta e preço baixo nas transações.
 
Especializadas em negociar blocos gigantes de ações, as duas Bolsas estão de olho em um dos poucos mercados acionários em crescimento no mundo e que já fatura mais de R$ 1 bilhão por ano só com transação de ações –49% das receitas da BM&Bovespa.
 
Por trás das duas estrangeiras, estão alguns dos maiores bancos, corretoras e fundos de investimento de presença global, que conhecem muito bem o Brasil.
 
A Direct Edge tem entre os acionistas o banco Goldman Sachs, a corretora Citadel e os gestores da Knight Capital. Já a Bats é controlada pelos bancos Morgan Stanley, Credit Suisse, Bank of America/Merrill Lynch e Citigroup.
 
As duas ganharam mercado nos EUA ao permitir negociações mais baratas entre os gigantes do mercado.
 
Em favor dos “dois entrantes”, está a abertura do mercado à concorrência. Contra as duas pesa o fato da pouca transparência em seus sistemas de negociação.
 
ENTRAVES

O principal desafio de eventuais novas Bolsas será o trabalho posterior às negociações, que diz respeito à custódia e à liquidação das operações. A BM&Bovespa já disse que não pretende compartilhar esse serviço.
 
Uma fonte na CVM no entanto disse à Folha que é possível, em um primeiro momento, a liquidação e a custódia serem feitas em bancos.
 
Se houver decisão favorável da CVM, a Direct Edge pretende iniciar suas operações no final deste ano. O presidente da empresa, William O”Brien, comemorou o estudo da Oxera, interpretado como “sinal verde”. A Bats, que tem o apoio dos sócios da corretora brasileira Claritas, não comentou.
 
(Denise Luna e Toni Sciarretta | Folha)

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