Casa & Vídeo volta a ter fôlego para competir

Carvalho, presidente e principal sócio da Casa & Vídeo: dívida de R$ 300 milhões renegociada, mais espaço nas lojas e cartão 
Uma das mais populares varejistas do Rio de Janeiro saiu do fundo do poço. Pelo menos é o que garante o novo presidente e principal sócio da Casa & Vídeo, Fábio Carvalho. Fundada em 1988 por Luigi Fernando Milone, a rede com mais de 70 pontos de venda esteve prestes a fechar as portas no início do ano passado, pouco depois que uma operação da Polícia Federal prendeu parte da diretora, acusada de importação ilegal. Demitiu metade dos 6 mil funcionários, ficou sem mercadoria e chegou a vender só à vista para não ter o pagamento de cartão retido pelos bancos. Agora, a empresa anuncia cinco novas lojas no mercado fluminense e faturamento de R$ 1,3 bilhão para 2010, bem próximo das vendas no período pré-crise.

"Voltamos a operar com bancos, contratamos a auditoria da Ernst & Young e os serviços do Domingos & Pinho Contadores", diz Carvalho, que é advogado, tem 32 anos e entrou no negócio pela Alvarez & Marsal, consultoria contratada pela Casa & Vídeo para auxiliar a empresa na reestruturação. Acabou se tornando sócio da varejista, como parte do plano da rede para recuperar a credibilidade no mercado. "A Casa & Vídeo já não tinha crédito junto a fornecedores, seus clientes não encontravam os produtos nas lojas, o aluguel dos pontos estava atrasado e a marca corria o risco de desaparecer", lembra Carvalho. "Eram os quatro pilares do varejo que estavam sob risco". Foi com esse argumento que conseguiu convencer a Mobilitá – empresa de Luigi Milone, que controlava a Casa & Vídeo – a ceder.

A julgar pelo momento vivido pela varejista, não havia mesmo muita saída. Quando decidiu pela recuperação judicial – aceita pela Justiça em fevereiro -, a rede faturava 35% do que vendia até novembro de 2008, quando foi deflagrada a operação "Negócio da China" pela PF. O episódio ocorreu pouco depois da crise financeira mundial, que já havia arrochado o crédito para todas as empresas. A Casa & Vídeo, então com uma rede de 71 lojas, que já havia fechado 7, estava prestes a cerrar as portas.

Em setembro, o plano de recuperação judicial foi aceito pelos credores. Uma nova estrutura foi formada para que a varejista continuasse atuando. Em novembro, as 61 lojas do mercado fluminense passaram para uma nova empresa, a Casa & Vídeo Rio de Janeiro. As outras 9 lojas (uma em Minas Gerais e 8 no Espírito Santo), continuam pertencendo à Lar & Lazer, outra empresa de Milone, que também paga royalties à Mobilitá pelo uso do nome Casa & Vídeo. É a Mobilitá que está em recuperação.

A Casa & Vídeo Rio de Janeiro passou a ser 100% controlada por um fundo de investimentos, gerido pelo banco Mellon, sendo que 66% das cotas desse fundo pertencem a Carvalho – que traz no currículo a participação no plano que passou a Varig (outra empresa em recuperação judicial) para as mãos da Gol. O restante das cotas do fundo estão com cinco fornecedores da Casa & Vídeo Rio de Janeiro. A nova empresa paga royalties pelo uso da marca Casa & Vídeo à Mobilitá, de Luigi, que não participa mais do negócio, diz Carvalho.

Agora, a Casa & Vídeo Rio de Janeiro tem dívidas de R$ 300 milhões, que foram renegociadas com os credores para início de pagamento em julho de 2012, por um período de dez anos. Até lá, Carvalho se esforça para rearrumar a casa. Está reorganizando o espaço das suas lojas para aumentar a área de vendas, já que o tamanho do mix e do estoque diminuiu. Apesar de não vender mais itens como TVs de LCD, estratégicos em ano de Copa, a empresa garante que chegará perto do faturamento de R$ 1,6 bilhão de antes da crise.

Carvalho planeja ainda começar em junho a oferta do cartão da loja, um serviço que nunca existiu. O crédito será dado pela própria varejista, que quer testar um modelo próprio antes de fechar parceria com bancos. O executivo diz ter reserva de R$ 10 milhões para início da oferta do cartão. Ele pagou R$ 20 milhões pela empresa (metade com recursos próprios, segundo ele, outra metade com a ajuda de "investidores que gostam de risco"). E não pensa em vender. Pelo menos, não no curtíssimo prazo. "Não quero trabalhar com o objetivo de vender, porque assim você perde o foco do negócio".

(Daniele Madureira | Valor)
 

 

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