A estreia de novas empresas na Bovespa pode ganhar fôlego nos próximos meses, apoiada em juros menores, arrefecimento da crise europeia, retomada da economia mundial e incentivo do governo para o mercado de capitais, após um ciclo de atividade fraca que culminou no pior resultado de uma década em 2012.
Embora escaldados por seguidas frustrações das expectativas otimistas de começo de ano, especialistas avaliam que há algumas evidências de que, desta vez, a história será diferente. Nada que se compare ao recorde de 64 ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) de 2007 no mercado brasileiro, mas certamente superior às minúsculas três operações do ano passado.
E não é só devido a grifes como BB Seguridade, Smiles, Atacadão e Telefônica Latinoamérica, nomes já mencionados no mercado e cujas operações tenderiam a movimentar, cada uma, cifras superiores a um bilhão de dólares.
“Há um otimismo mais concreto agora”, disse à Reuters o diretor executivo de produtos e clientes da BM&FBovespa, Marcelo Maziero, para quem o juro no piso histórico está forçando a convergência de interesses de empresas e de investidores.
Para o executivo, a principal novidade é a formação de um ambiente propício para deslanchar as operações de empresas de médio porte.
Grandes investidores como fundos de pensão mostram-se dispostos a correr mais riscos para conseguir rentabilidade superior à taxa básica de juro Selic, de 7,25 por cento ao ano.
A nova fase de expansão do mercado doméstico tende a ter os grandes fundos institucionais do país como substitutos dos estrangeiros como maior fonte de demanda por ações. No período 2003-2008, mais de dois terços do montante vendido em ofertas públicas de estreantes na Bovespa foram, em média, para o investidor estrangeiro.
Do lado dos emissores, as empresas candidatas a acessar a bolsa parecem mais flexíveis na precificação das operações, especialmente após a maioria das ofertas dos últimos dois anos ter vindo com valor por ação abaixo do estimado.
“O ‘gap’ de preço está se fechando, porque os emissores estão reavaliando suas posições”, disse o responsável pela área de banco de Investimentos do Itaú BBA, Jean-Marc Etlin.
Intermediários financeiros –bancos de investimento, corretoras e escritórios de advocacia– também começam a mostrar interesse por operações de porte inferior à casa das centenas de milhões de dólares, condição antes tida como essencial para o sucesso de um IPO.
APOIO DO GOVERNO
As medidas tomadas pelo governo federal nos últimos meses, incluindo o estabelecimento de prazo para os fundos abertos de previdência reduzirem a exposição a títulos de dívida atrelados à Selic, e os estímulos tributários para as chamadas debêntures de infraestrutura tendem a reverberar no mercado acionário.
“Há um cenário favorável se formando para a expansão do uso de instrumentos de renda fixa corporativa, que vai ter impacto positivo também para fusões e para o mercado de ofertas de ações”, disse o chefe da área de fusões e aquisições do Bradesco BBI, Alessandro Farkuh.
Por fim, um empurrãozinho do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) parece estar a caminho. Com presença no capital de mais de 130 empresas, o BNDESPar –braço de participações do banco de fomento– aceitou investir em várias das companhias desde que elas abrissem o capital num prazo de cinco a sete anos.
Nos últimos meses, algumas delas pediram registro de companhia aberta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como a fabricante de softwares Linx, a produtora de papel cartão Ibema e a Nortec Química. A Sênior Solution, já listada no segmento Bovespa Mais, pediu registro para oferta de ações.
O segmento de acesso ao mercado acionário Bovespa Mais, criado em 2006 e que tem apenas outras duas empresas, a Nutriplant e a Desenvix Energias Renováveis, pode ganhar fôlego com um movimento curioso: o de migração de empresas listadas no mercado tradicional, mas sem liquidez. O processo deve ser inaugurado pela fabricante de insulina Biomm, que já aprovou a migração em maio passado.
Segundo Maziero, da BM&FBovespa, várias companhias se mostraram interessadas em seguir o mesmo caminho, melhorando a estrutura interna de governança para se adaptar aos padrões mais exigentes do mercado do que quando chegaram à bolsa.
“É um recomeço de empresas que, embora listadas, querem se remodelar para ser do mercado de verdade”, disse o diretor da BM&FBovespa.
(Estadão)