Com apoio de fundos, Invepar faz lance de R$ 16 bilhões

Vencedora do leilão do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, com uma única tacada e um valor surpreendente – R$ 16,2 bilhões pela outorga -, a Invepar – Investimentos e Participações em Infraestrutura SA terá missão dupla: garantir retorno para o pesado aporte e para os investimentos ao longo da concessão de 20 anos. Vai operar um terminal onde passam 160 mil pessoas por dia. Controlado pelos fundos de pensão Previ (majoritária, com 38% do capital), Petros, Funcef e pela empreiteira OAS (minoritária, com 19,4%), o consórcio deu lance três vezes maior do que a soma de seus ativos no país – de R$ 4 bilhões, conforme o relatório anual de 2010.
 
Para vencer o leilão, a estratégia da empresa foi apresentar um lance inicial que tirasse os concorrentes logo de cara do jogo. Responsável pela terceira maior oferta na BM&FBovespa, de R$ 12 bilhões, o consórcio liderado pela OHL Brasil jogou a toalha logo que viu a proposta da Invepar. "Chegamos ao nosso limite", disse o presidente do grupo, José Carlos Oliveira Filho. O lance da Invepar, em parceria com a sul-africana Airports Company South Africa (ACSA), teve um ágio de 373% em relação ao preço mínimo inicial fixado pelo governo.
 
Com estrutura de holding, a Invepar tem sob seu guarda-chuva seis empresas operacionais: Linha Amarela, Raposo Tavares, Metrô Rio, 25% da CRT, Bahia Norte e Litoral Norte. A empresa está num momento de diversificação dos negócios, para aumentar seu faturamento, que foi de R$ 1,1 bilhão no ano passado.
 
Para conseguir dar retorno aos investidores, a empresa planeja aumentar as receitas não tarifárias, como a construção de um grande estacionamento no aeroporto e a renegociação de contrato com os varejistas, além de melhor aproveitamento do espaço comercial. Outro plano da Invepar, que começa a administrar Cumbica em maio, é de abrir seu capital no prazo de 12 a 24 meses. De acordo com a Infraero, a administração do aeroporto no ano passado gerou uma receita de R$ 770,5 milhões à estatal.

"Queremos fazer do aeroporto uma verdadeira porta de entrada do país. Nossa expectativa é de retorno e forte crescimento de receita nos próximos 20 anos", afirmou, ao Valor, o presidente executivo da Invepar, Gustavo Rocha. Em 2011, cerca de 29 milhões de passageiros passaram por Cumbica segundo a Infraero. A estimativa da nova administradora é que o número pule para 50 milhões em 2020. Para conseguir retorno sobre o investimento de R$ 16,2 bilhões, Rocha se mostrou confiante na flexibilidade que a iniciativa privada tem em conseguir aumentar a receita. "O operador privado consegue melhor funding e é mais livre para controlar seus gastos", disse.
 
O valor da outorga da concessão será pago ao longo dos 20 anos, com R$ 800 milhões anuais. A homologação do negócio e a assinatura do contrato estão previstas para maio, mas o pagamento da primeira parcela só vai ocorrer ao final de 12 meses desde a transferência da operação.

Além do valor de outorga, a Invepar está obrigada por contrato a investir R$ 4,6 bilhões na ampliação da capacidade do aeroporto. A exigência foi feita pelo governo visando o as competições esportivas em 2014 e 2016. Por isso, a empresa vai focar os investimentos nos próximos anos na construção do terminal 3.
 
Rocha acredita que a Invepar fez o maior negócio de infraestrutura do país na área de transporte e vai conseguir pagá-lo com os resultados do próprio negócio. "Este setor está começando agora a se desenvolver no Brasil e está dentro da nossa estratégia. Queremos ser um dos principais players dessa área", afirmou. "Vamos investir em modernização de free shopping, praças de alimentação, desenvolvimento imobiliário e na parte de carga. No momento, a prioridade é preparar o aeroporto para a Copa".

Até chegar ao lance que inibiu qualquer oferta maior quando o leilão passou para lances viva-voz, a Invepar afirmou ter feito um estudo de oito meses, que envolveu cerca de cem pessoas e contou com a participação de austríacos e espanhóis, sobre a taxa de retorno do investimento. "Estávamos apostando neste negócio há muito tempo, foi muito trabalho e muito estudo e o foco era Guarulhos", disse Marco Geovanne, diretor de participações da Previ.
 
Segundo informou, a ACSA foi quem preparou os aeroportos da África do Sul para a Copa de 2010. "Eles têm experiência e vão trabalhar nisso conosco", afirmou, lembrando que a companhia administra aeroportos que transportam 50 milhões de passageiros por ano no país africano, além de outros 20 milhões em Mumbai, na Índia.
 
Após o terminal 3, em construção, o novo operador de Cumbica deverá iniciar o quarto um outro terminal, além de novo pátio para as aeronaves e um terminal de carga também até 2016. Com cerca de 4.500 funcionários, a Invepar vai incorporar cerca de dois mil empregados da Infraero.

(Rodrigo Pedroso e Vera Saavedra Durão | Valor)

 

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