Com aquisição e parcerias, Aspen busca crescer no país

Em tempos de Copa do Mundo, Durban entrou no noticiário brasileiro por sediar o jogo entre Brasil e Portugal, que terminou num frustrante zero a zero, na semana passada. Mas Durban tem mais do que um estádio de futebol monumental, um porto importante e belas praias. Lá está a Aspen Pharma, que colocou os pés no Brasil há dois anos e planeja crescer tirando proveito das similaridades existentes entre os dois países.

Numa rápida entrevista ao Valor, no dia do jogo de Brasil e Portugal, Stephen Saad, diretor-presidente do grupo, elencou as razões para investir no país do futebol. "A maior vantagem é que o Brasil é muito parecido com a África do Sul em termos de clima, em termos desse mix entre pessoas ricas e pobres e a economia está crescendo. (…) Há mais pessoas com mais renda e também mais pessoas que nunca tiveram tratamento, mas que precisam de tratamento agora", afirmou.

Há semelhanças, acrescentou, até nas enfermidades que afetam as populações dos dois países. "Muitas pessoas têm as mesmas doenças na África do Sul e no Brasil e que você não vê na Europa; muitas pessoas vivem em favelas na África no Sul e no Brasil".

A farmacêutica sul-africana, que é a maior fabricante de medicamentos do continente africano e do Hemisfério Sul, chegou ao Brasil em junho de 2008 depois de comprar 51% da Cellofarm, que desde 2002 estava nas mãos da indiana Strides Arcolet. Em junho do ano passado, a Aspen adquiriu, da companhia indiana, os 49% restantes da Cellofarm, que atua sobretudo com genéricos. O valor do negócio foi US$ 100 milhões.

Com nove complexos industriais na África do Sul, Quênia, Tanzânia, Brasil (que pertencia à Cellofarm em Vitória), México e Alemanha, e receita de US$ 1,1 bilhão no ano passado, a Aspen fabrica genéricos, os chamados OTCs (medicamentos vendidos fora do balcão) e também itens com marcas. Produz, por exemplo, medicamentos para a farmacêutica GlaxoSmithKline e outras multinacionais.

Num país com elevados níveis de contaminação pelo vírus HIV, um dos carros-chefes da Aspen na África do Sul são os antirretrovirais. Esses são uns dos medicamentos que a empresa fornece ao governo sul-africano, além de antibióticos, analgésicos e remédios contra hipertensão e tuberculose. "Conseguimos derrubar o preço dos antirretrovirais em 90% em comparação com o das multinacionais. Agora, o governo pode tratar as pessoas doentes", disse Saad.

O executivo, que fundou com outros três sócios a farmacêutica em 1997, quer replicar o modelo de operação da Aspen no Brasil. Por isso busca parcerias com companhias locais para produzir medicamentos. A Aspen, hoje listada na bolsa sul-africana – a JSE Securities Exchange -, também quer investir na compra de fábricas em território brasileiro para expandir a produção.

Uma das possibilidades é adquirir fábricas de multinacionais que estão concentrando a produção em menos unidades, observou o diretor-financeiro da subsidiária da Aspen no Brasil, Evandro Paiva, que também estava em Durban na semana passada.

De acordo com Saad, o foco da Aspen é avançar no Hemisfério Sul, por isso a empresa fez uma oferta para comprar a australiana Sigma, que atua na produção e distribuição de medicamentos (genéricos, de marca e OTCs) e tem um faturamento de U$ 2,5 bilhões. Atualmente, a Aspen faz due dilligence na Sigma e espera a resposta dos acionistas para sua proposta de compra de US$ 1,3 bilhão.

A maior parte da receita da Sigma vem da distribuição de produtos – US$ 2 bilhões -, mas como o foco da Aspen é a produção de medicamentos, a sul-africana ainda está avaliando se, concretizada a aquisição, irá manter ou vender a área de distribuição.

Com crescimento anual de 40% nas receitas nos últimos anos, a expectativa da Aspen é faturar US$ 1,5 bilhão em 2010. O aumento sobre 2009 deve vir principalmente da operação no Brasil e dos negócios na América Latina, segundo Saad.

Segundo ele, a performance positiva da empresa desde os primeiros anos se deveu à busca por novos mercados. "Primeiro trabalhamos forte na África do Sul para virar um grande player. Então passamos a usar a capacidade que tínhamos aqui para produzir para outros países", disse.

(Alda do Amaral Rocha | Valor)

 

 

 

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