Como o Brasil pode ganhar duas bolsas de energia

Brix e BBCE negociam energia com entrega física, mas já têm planos para contratos financeiros

Em poucos anos, o Brasil pode ganhar duas novas bolsas. Duas bem específicas, é verdade. As plataformas de negociação de energia Brix e Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE) têm planos ambiciosos para o mercado no Brasil e, se tudo correr como planejado, o passo natural é que ambas migrem para o status de bolsa de valores em alguns anos, permitindo a negociação de contratos financeiros com base em índices de preços de energia.

Enquanto isso não acontece, as empresas têm uma missão: profissionalizar e dar liquidez para o mercado de energia. Por meio da colocação eletrônica das ofertas de compra e venda, elas tornam mais eficiente e transparente um mercado que antes tinha seus negócios feitos por telefone.
 
Conheça os planos de cada uma para cumprir essa missão no Brasil e entenda como elas podem se tornar bolsas de valores.
 
Brix

A Brix, que tem entre os sócios o empresário Eike Batista, chegou primeiro ao mercado e já começa a colher resultados. A empresa ainda trabalha apenas com a negociação de contratos com entrega física, mas já deu um importante passo para que contratos financeiros sejam negociados e criou dois índices: o Índice BRIX Energia Elétrica e, mais recentemente, o Índice Brix Incentivada 50%, que tem como base o preço do tipo de energia que tem 50% de desconto na Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de Transmissão (TUST).

A criação de índices financeiros é fundamental para que a negociação com liquidação financeira possa acontecer, já que esses indicadores é que servirão de base para contratos negociados.

Marcelo Mello, CEO da Brix, explica que o plano da empresa prevê três fases. Num primeiro momento, a ideia é fazer apenas a negociação física de energia. Em segundo lugar, a missão é criar índices e buscar com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizações necessárias para lançar contratos financeiros. Por último, estrear uma clearing house para tirar os riscos de crédito das contrapartes e virar oficialmente uma bolsa de valores.
 
“Já começamos a conversar com a CVM em novembro e, em dezembro, contratamos o escritório [de advocacia] Pinheiro Neto para dar suporte nesse trabalho”, afirma o executivo. “Essa etapa está bem avançada e acredito que até o final desse ano devemos estar autorizados pela CVM a lançar contratos com liquidação financeira”, adiantou o executivo.
 
A negociação seria aberta apenas para bancos e corretoras, com os quais a Brix já mantém conversas para medir qual seria a demanda.
Embora não tenha estimado um prazo exato para que isso aconteça, o executivo disse que o plano inicial era completar as três fases dentro de três a cinco anos, mas que tudo têm andado mais rápido do que o esperado. “Tenho uma expectativa forte de que vamos colocar a clearing house antes do tempo inicial proposto”, disse.
 
Na fase atual, de liquidação física, a Brix já registra mais de 2 milhões de MWh negociados em 1.800 transações. Atualmente, 90 empresas utilizam a plataforma. “Nossa expectativa é chegar ao final do ano com 150 participantes”, diz Mello.

Embora o mercado ainda esteja se desenvolvendo, a Brix já encara o desafio de ter um concorrente. No início de março, o BBCE começou a operar oficialmente, com contratos de energia convencional e incentivada para entrega física em todo o Brasil.

Como vantagem competitiva, Mello destaca a parceria com a Intercontinental Exchange (ICE), que negocia o contrato Brent (petróleo) e tem cinco clearing houses.
 
Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia

O BBCE começou depois, mas não com planos menos ambiciosos do que os da Brix. A plataforma tem hoje 13 empresas acessando o sistema e outras 10 esperando para poder operar. “Esperamos ter pelo menos 100 empresas acessando o sistema até o final do ano”, diz Flávio Cotellessa, presidente do BBCE.
 
A empresa também não descarta a possibilidade de lançar contratos financeiros, mas quer cumprir alguns passos antes. Entre as metas traçadas, não está apenas a de atrair empresas para negociar, mas também de aumentar o quadro de sócios, que começou com 13 deles. A ideia é ter 60 sócios até o final do ano. “Eles poderão comprar cotas de 200 mil reais, valor que será investido na BBCE”, explica Cotellessa.
 
Atrair os sócios e aumentar as negociações é o primeiro passo para que a companhia possa criar índices como os que a Brix já tem, que podem no futuro servir de base para contratos com liquidação apenas financeira. “Para virar uma bolsa, é importantíssimo ter liquidez”, afirma Cotellessa. A expectativa do executivo é que em abril o volume já seja suficiente para que seja lançado um índice com base no mercado spot de energia, ou seja, mercado com entrega para o curto prazo.
 
Para crescer, a empresa conta com dois serviços iniciais. O primeiro é o balcão de compra e venda propriamente dito, onde as partes negociam os produtos. O segundo é a formalização de contratos de energia, onde as negociações são oficializadas. A expectativa é que 80% do faturamento anual venha do mercado de balcão e 20% dos serviços de formalização de contratos.
 
Como vantagem competitiva contra o concorrente Brix, o executivo também cita a tecnologia, mas de um outro ponto de vista. “Temos uma plataforma feita do mercado para o mercado e podemos colocar as melhores ferramentas de acordo com a demanda”, diz Cotellessa, citando a flexibilidade de seu sistema para atender os participantes.

(Lilian Sobral | Exame)

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