Como a Rossi quer mais do que dobrar de tamanho em dois anos

São Paulo – Os brasileiros nunca compraram tantos imóveis como hoje. A facilidade de crédito, os juros baixos e programas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida são os grandes responsáveis por manter aquecido o consumo no setor. Tanto movimento faz com que as construtoras e incorporadoras brasileiras também se mexam para atender a alta demanda. A paulista Rossi, por exemplo, já colhe os resultados desse crescimento. Só no primeiro trimestre do ano, a empresa lançou 22 empreendimentos no primeiro trimestre que representam vendas potenciais de 722 milhões de reais, um salto de 350% em relação ao mesmo período do ano anterior.

"Queremos crescer 125% em lançamentos nos próximos dois anos", disse à EXAME.com o vice-presidente financeiro da Rossi Cássio Audi. Para alcançar essa meta, a construtora e incorporadora investirá em parcerias com empresas menores. Nesta semana, a Rossi anunciou uma joint-venture com a mato-grossense GMS, que marca a estreia da empresa paulista na região. A estratégia visa fortalecer a posição da Rossi no mercado frente a gigantes como PDG Agre e Cyrela. "Queremos estar presente em diversas cidades do país com produtos para todas as faixas de renda", repetiu Audi, diversas vezes, como um mantra. Os detalhes, é claro, são mantidos em segredo, mas nesta entrevista ele indica as direções dos negócios da Rossi para os próximos anos.

EXAME – Há 880,8 milhões de reais no caixa da Rossi, 316% acima do valor registrado no primeiro trimestre. Como isso será investido?
Audi – A maior parte dos recursos será utilizada para aquisição de terrenos. Cerca de 55% do capital que conseguimos com a oferta de ações do ano passado será direcionada para isso. A localização dos terrenos ainda será avaliada. Pode ser através de parcerias ou não. Estamos analisando.

EXAME – A fusão entre a PDG e a Agre altera a estratégia da construtora?
Audi – Não. É um setor que cresce bastante e cada empresa tem uma estratégia para fazer frente a essa demanda. O anúncio de nossa mais recente joint-venture com a GMS reforça que manteremos nossa estratégia de parcerias e de diversificação de cidades e renda.

EXAME – Por que a Rossi resolveu fazer a parceria com a imobiliária mato-grossense GMS?
Audi – Nossa estratégia é diversificar as cidades onde estamos presentes. A joint-venture com a GMS marca nossa entrada no mercado do Mato Grosso. Seria muito arriscado entrar numa região que não conhecemos muito bem, por isso firmamos a parceria com a GMS. Ela traz 500 milhões de reais em vendas nos próximos dois anos. Foi boa oportunidade, por ter um ótimo banco de terrenos na região e também contribuir com a mão-de-obra. No ano passado, também firmamos uma parceria com a Capital Construtora, de Manaus. De lá, esperamos vendas de até 2 bilhões de reais nos próximos dois anos.

EXAME – A participação fica dividida em 30% para a GMS e 70% para a Rossi. Pretendem aumentar esse valor?
Audi – Ele pode crescer, mas não está em nossos planos agora. Se tudo correr dentro do esperado, pretendemos explorar outras alternativas com a companhia.

 

EXAME – Haverá mais parcerias com construtoras menores?
Audi – Nós temos conversado com alguns construtores médios e pequenos que, eventualmente, podem se associar a nós. As joint-ventures nos tomam pouco caixa, por isso são interessantes também. Nós somos parceiros de 83 construtores no Brasil, e esse número pode aumentar. Temos uma cultura colaborativa. Mas também podemos entrar sozinhos em algum mercado que acharmos que valha a pena.

EXAME – A diversificação regional da Rossi é também uma resposta ao mercado competitivo de São Paulo?
Audi – A diversificação geográfica é uma estratégia para diminuir riscos. Na nossa visão, a centralização em grandes cidades é problemática por conta da competição. Estamos presentes em 73 cidades e queremos chegar a até 123. Há muito onde crescer.

EXAME – Onde, por exemplo?
Audi – Projetos em novas cidades ainda estão em estudo.

EXAME – O que faz uma cidade ser interessante para a Rossi investir?
Audi – Não posso dar detalhes, mas um fator que levamos em consideração é o número de habitantes. As cidades têm de ter, no mínimo, 200.000 pessoas.

EXAME – O segmento de baixa renda é prioridade para a construtora?
Audi – Por conta das boas condições de mercado e com o projeto Minha Casa Minha Vida, temos aumentado a exposição em baixa renda. No ano passado, por exemplo, 48% dos lançamentos foram para esse segmento ? a maioria para o programa do governo. Há uma demanda muito forte há vários anos, então vamos continuar investindo nisso. Do nosso plano, os lançamentos de baixa renda devem representar entre 50% e 55% neste ano e em 2011. Temos também o Vila Flora, em Sumaré, Votorantim e Hortolândia (cidades próximas à Campinas, em São Paulo, que é um novo pólo imobiliário). Cada conjunto tem cerca de 3.500 unidades. O de Sumaré está 100% entregue, e as vendas dos outros estão indo muito bem. A outra metade vai estar bem distribuída nas outras faixas de renda.

EXAME – A Rossi lançou, no ano passado, o Central Parque, um bairro planejado de alto padrão no Rio Grande do Sul. Esse tipo de empreendimento poderá ser feito em outras cidades?
Audi – Identificamos que existe mercado para projetos como esse no sul. Por enquanto, não sabemos de outros. Lançamos a parte de casas e vendemos praticamente tudo do Central Parque.

EXAME – O investidor americano Sam Zell anunciou recentemente que deseja aumentar sua participação no mercado imobiliário do país. Seria uma associação interessante para a Rossi?
Audi – É algo positivo. Se ele julgar interessante se associar a uma empresa com esses planos, será ótimo. Como empresa de capital aberto, não temos preferência por um investidor ou outro.

EXAME – A Tecnisa e a Cury passaram a aceitar pagamento parcelado dos imóveis em cartões. A Rossi estuda essa possibilidade?
Audi – Estamos avaliando. Sempre estudamos diversas formas de pagamento. Para os imóveis do segmento econômico, talvez não seja tão interessante, porque está ligado ao financiamento da Caixa. Mas se houver a necessidade de investir nessa tecnologia para as outras faixas de renda, não haverá problema.

(Marcio Orsolini | Portal Exame)

 

 

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