Consultorias ampliam equipe e aquisições estão em estudo

Existe uma conta que não fecha na subsidiária brasileira da consultoria Deloitte Touche Tohmatsu, em São Paulo. Se fosse preciso colocar, ao mesmo tempo, todos os funcionários da empresa na sede, na zona sul da capital, faltariam cadeiras e mesas. "Já estamos estudando projetos criados em outras filiais, como os escritórios virtuais nos Estados Unidos, para que não tenhamos que mudar para um espaço maior a cada três ou quatro anos", diz Ricardo Balkins, sócio da área de consultoria da companhia, que planeja contratar 200 pessoas até maio de 2011. O quadro atual é de mil funcionários.

Uma das ideias é alugar salas de escritório em vários bairros de São Paulo, de maneira que o consultor possa trabalhar em diferentes locais, a depender da região e do cliente que visitará a cada dia.

O setor de consultorias vive um período de aquecimento nos negócios. Empresas estão contratando funcionários das mais variadas áreas – de empreiteiras a laboratórios farmacêuticos – para atender projetos de clientes em setores que, até então, recorriam menos a esses serviços. É uma reação a um novo cenário: o país será aquele que deve contribuir de forma mais forte para a expansão das consultorias na América Latina.

No Brasil, o faturamento do setor deve crescer o equivalente a US$ 720 milhões até 2013, segundo a Kennedy
Pesquisa recente da Kennedy Consulting Research & Advisory mostra que o Brasil vai contribuir com US$ 720 milhões do total de US$ 1,67 bilhão a ser adicionado como nova receita em serviços de consultoria na América Latina no período de 2010 a 2013. Equivale a 43% da soma total.

No Brasil, o valor faturado pelas empresas de consultoria em 2009 teria ficado "abaixo de US$ 1 bilhão", segundo a Kennedy. Em 2009, o mercado global de consultoria totalizou US$ 172 bilhões, com a América do Norte respondendo por US$ 79,1 bilhões, China, US$ 3,1 bilhões e Índia, US$ 1,1 bilhão, de acordo com dados da Kennedy.

Para dar conta dessa demanda e não perder novos negócios, as grandes consultorias analisam, neste momento, a ampliação de suas estruturas por meio da aquisição de firmas de médio porte. Especialistas acreditam que haverá um processo de consolidação do mercado local a curto prazo.

"Devo me encontrar nesta semana com uma consultoria que atua na área de serviços financeiros e reestruturação de empresas. Se tudo avançar, fechamos ", diz Denise Debiase, vice-presidente da FTI Consulting para a região Ibero-Americana, que inclui América Latina e Espanha. "Avaliamos outro ativo no ano passado, uma consultoria especializada em energia, mas não era o negócio ideal para nós", afirma. "Estamos de olho, pois o mercado anda se movimentando de forma muito rápida".

Da mesma forma, a Deloitte admite que não descarta aquisições ou fusões no país, diz Balkins. Ele afirma que a meta é se expandir de forma orgânica, mas a exigência dos clientes por pacotes completos de serviços, em várias áreas da economia, exige que ela ofereça atendimento mais amplo, como em saneamento e área de etanol e cana. "Nesse caso, o dono da consultoria não quer vender. É o negócio da vida dele, sem contar que o maior valor da empresa é, muitas vezes, o próprio dono, que conhece as pessoas certas do mercado. Aí, optamos pela tercerirização do serviço", diz o executivo

As estrangeiras KPMG e Deloitte têm interesse em novos ativos brasileiros na área de auditoria. As duas já sondaram neste ano o comando da BDO Trevisan, de olho no braço de negócios da Trevisan, empresa adquirido pela BDO em 2004. O Valor apurou que não há avanços em relação a negociações com as interessadas, mas o recado dado é que, quando a BDO quiser, basta informá-las. KPMG e Deloitte negam a informação.

Na prática, o segmento de consultorias vive uma fase positiva desde meados de 2009, quando projetos de empresas locais começaram a deixar as gavetas, passado o pior da crise financeira. O que é menos visível, entretanto, são as ações tomadas por essas companhias para dar conta da demanda.

O grupo americano Hay Group precisou ampliar o escritório da filial no Itaim, zona sul de São Paulo, em mais um andar e aumentou o número de funcionários em cerca de 18% em 2010. "Trouxemos profissionais de países europeus, como da Espanha, pela facilidade da língua, para trabalhar em São Paulo. Também estamos terceirizando alguns serviços, e fechamos acordos com empregados que se desligaram de companhias da área e trabalham de forma autônoma", afirmou Jean-Marc Laouchez, presidente da consultoria no país.

Segundo ele,. há um aumento de demanda por parte tanto de grandes clientes como de médio porte, de áreas como varejo, agronegócio e automobilismo.

De acordo com Denise Debiasi, da FTI Consulting, cresce também a demanda por serviços na área de construção e de comunicação estratégica, como gerencimento de crises, serviço ofertado por agências de comunicação no Brasil. "Estamos investindo US$ 3 milhões na cobertura de novas áreas. Vamos aplicar os recursos em contratações e no nosso novo escritório", diz. A empresa acaba de mudar para um escritório com uma área quatro vezes maior. "Estamos criando uma equipe com quatro pessoas para atender clientes na área de construção e em comunicação, serão outras duas pessoas. Para a demanda atual, detectei que precisamos de 45 novos contratados", diz a executiva.

Atualmente, a área de consultoria tem dado mais dinheiro que as empresas de auditoria e de serviços tributários ou financeiros. O balanço de resultados da Deloitte, a maior empresa de consultoria do mundo, destaca esse desempenho, ao mesmo tempo em que atribui a forte expansão das consultorias à performance dos mercados emergentes, como Brasil, China e Índia.

Enquanto a receita com serviços de auditoria na Deloitte tiveram retração de 1% nos 12 meses terminados em maio de 2010 no mundo, os negócios ligados a consultoria cresceram 15%.

(Adriana Mattos | Valor)

 

 

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