Debêntures têm mais ofertas que ações no ano

A venda de debêntures está ultrapassando as ofertas de ações pela primeira vez desde 2008. A tendência é reflexo das dúvidas sobre o rumo da economia global, que vêm derrubando a Bovespa. As empresas brasileiras venderam R$ 44,9 bilhões em debêntures no ano até agosto, em comparação aos R$ 17,4 bilhões em ações no mesmo período, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários. Lojas Americanas e Tecnisa anunciaram planos de vender debêntures nos últimos meses.

As companhias estão se voltando para o investidor de renda fixa com a queda de 18% do Ibovespa no ano, a maior entre as economias emergentes do BRIC. Os mercados de ações de países em desenvolvimento acumulam queda de 14,1%, em média, no mesmo período, segundo dados compilados pela Bloomberg. Felipe Claret, superintendente de Registro de Valores Mobiliários da CVM, diz que "a vida continua, o Brasil continua funcionando, a atividade econômica está acontecendo, as empresas precisam financiar a produção." As debêntures com melhores notas pelas agências de classificação de risco tiveram um rendimento de 1% em agosto, mais do que os Certificados de Depósito Interfinanceiro, o CDI, segundo dados da Anbima.

OFERTAS

Lojas Americanas planeja captar R$ 500 milhões em debêntures com prazo de sete anos, segundo comunicado ao mercado de 12 de setembro.

A Tecnisa quer vender R$ 300 milhões em debêntures. As perdas provocadas pelo mercado de ações a fundos de hedge e fundos multiestratégias alertaram investidores para alocar mais dinheiro em fundos de renda fixa para aumentar seus retornos, disse Fernando Hadba, que ajuda a administrar R$ 4 bilhões como chefe de renda fixa da BRZ Investimentos. As ofertas de debêntures responderam por 44% do financiamento das empresas este ano até agosto, contra 39% em igual período do ano passado, segundo a Anbima. As ofertas de ações representaram 22,1% do financiamento das empresas, uma queda em relação aos 32,8% de um ano atrás. "Não é que o mercado de dívida corporativa tenha explodido, o mercado de ações fechou", disse Hadba. A queda do Ibovespa este ano se compara à perda de 18,3% do Sensex, na Índia, de 9% do Xangai Composto e de 9,6% para o Micex russo.

O aprofundamento da crise da dívida européia também está estimulando empresas a atrasar suas vendas de dívida, disse Ricardo Araujo, gestor de renda fixa do Itaú Asset Management. As emissões de debêntures somaram R$ 3,3 bilhões em agosto. No mesmo mês do ano passado, foram R$ 3,9 bilhões, segundo dados da CVM. "As empresas estão simplesmente esperando um pouco por um ambiente de mercado um pouco melhor", disse o analista. "O mercado quer menos risco, prefere um instrumento de renda fixa a ações, que, para a empresa, fica muito caro", disse Alberto Kiraly, vice-presidente da Anbima e principal executivo da unidade de banco de investimento do Banco Votorantim. "Se a empresa fizer um IPO hoje, terá um valuation menor do que seis meses atrás, provavelmente, e isso se traduz em custo para quem vende ações."

(Jornal do Commercio – Felipe Frisch E Gabrielle Coppola da Bloomberg News)

+ posts

Share this post