Depois de uma escalada sem precedentes, valor das moradias começa a cair

O ritmo galopante da alta dos preços de imóveis, observado em várias cidades do país nos últimos anos, está com os dias contados. A persistência da crise econômica mundial, que deve reduzir a expansão do país, e o elevado nível de endividamento das famílias estão contendo os reajustes ou mesmo derrubando o valor do metro quadrado em áreas até então supervalorizadas. O motivo é um só: mesmo com a renda ainda em alta, os consumidores estão tendo dificuldades para encaixar o valor das prestações em um orçamento já apertado.

Até 2010, o aumento médio dos preços dos imóveis girava em torno de 25% no país, chegando a 40% no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo (USP) mostram que, de janeiro a julho deste ano, a valorização de casas e apartamentos caiu para 17%. Em Brasília, a correção acumulada atingiu 11,5%. Em Salvador, foi de apenas 2,9%, taxa inferior ao Índice Nacional da Construção Civil (INCC), que serve de parâmetro para o setor.

No DF, tanto as áreas de classe média quanto as destinadas a públicos de alta renda, há valores em queda. Em outubro do ano passado, o metro quadrado de um apartamento em Taguatinga custava, em média, R$ 4.104. Em julho de 2011, havia caído para R$ 3.565, ou seja, um recuo de 13%. No Noroeste, bairro que está sendo construído e será habitado pelas classes A e B, o metro quadrado ficou 1,7% mais barato entre agosto de 2010 e julho deste ano, ao ceder de R$ 9.575 para R$ 9.425.

Tal movimento já era esperado, admite o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. No seu entender, nos grandes centros urbanos, onde a corrida por imóveis foi mais acentuada, os preços do metro quadro já atingiram o teto. “O momento, agora, é de acomodação. As correções necessárias já foram feitas”, diz. A menor valorização, acrescentou o empresário, é visível, sobretudo, em Brasília, Rio e São Paulo. E, certamente, fará bem ao mercado.

Desaceleração

Para Eduardo Aroreira, diretor-financeiro da Apex Engenharia e da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), o que se verá, daqui por diante, é um sistema mais sadio, no qual as famílias serão mais criteriosas na hora de comprar a casa ou o apartamento dos sonhos. “Com certeza, ainda será um ótimo negócio trocar o aluguel pelo imóvel próprio. Mas os potenciais compradores terão a preocupação de selecionar as melhores opções disponíveis e avaliar se realmente as prestações caberão no orçamento doméstico”, afirma.

Com os consumidores mais arredios, a desaceleração nas vendas foi evidente. Praticamente todas as construtoras e incorporadoras com ações listadas em bolsas de valores mostraram isso nos balanços do segundo trimestre do ano. Em teleconferência com os investidores, o presidente da PDG Realty, Zeca Grabowsky, reconheceu o ímpeto menor dos brasileiros em irem às compras de imóveis. Mas, a seu ver, o nível de faturamento se mantém confortável. “A velocidade das vendas pode diminuir nos próximos trimestres, mas será em um ritmo saudável.” O arrefecimento, acredita ele, será reforçado pela manutenção dos juros em patamares altos, como forma de o Banco Central controlar a inflação, o que influirá negativamente sobre a procura por financiamentos de imóveis.

(Gabriel Caprioli e Vânia Cristino l Correio Braziliense)

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