Empresa de compartilhamento de escritório planeja franquias no Brasil

Quando quatro executivos resolvem abandonar subitamente suas carreiras de sucesso, sem nenhum motivo aparente, é porque alguma coisa diferente eles estão inventando. Claudio Bisurgi tinha sob sua responsabilidade toda a rede de postos de combustíveis da petrolífera argentina YPF. Marcelo Cora era sócio-diretor da Accenture e prestava consultoria a multinacionais latinas como a Petrobras. Florencia Faivich terminava o quinto ano na chefia do setor de novas bebidas da Coca-Cola. Juan Pablo Russo havia criado peças publicitárias bastante conhecidas.

"Todos éramos apaixonados pelos nossos trabalhos, mas tínhamos a impressão de já ter satisfeito nossas ambições corporativas", diz Bisurgi. Decidiram investir US$ 250 mil em Palermo Soho, bairro que dita a moda em Buenos Aires, embora ouvissem de amigos e familiares que estavam meio loucos.

A ideia, que tomou forma em 2009, parecia simples. Eles notaram que era cada vez mais comum ver gente levando notebooks para bares e cafés, e pedindo bebidas e petiscos a conta-gotas – só para enrolar o garçom e não enfrentar constrangimento pelo uso gratuito da rede de internet wi-fi, serviço comum no comércio portenho.

Ora, por que não inverter o raciocínio? Foi assim que surgiu a Urban Station, uma espécie de escritório compartilhado entre vários desconhecidos. Em qualquer hora da manhã ou da tarde, pode-se ver argentinos, estrangeiros, engravatados, descolados, jovens e nem tão jovens trabalhando como se estivessem em seus escritórios.

As instalações da primeira unidade da Urban Station têm 220 metros quadrados, mesas individuais e compartilhadas com fartura de tomadas, salas de reunião e um auditório. Os serviços incluem carregadores de celular, faz, internet banda larga com velocidade de 10 Mbps, artigos de papelaria, impressoras, fotocopiadoras e até motoboy.

Os clientes pagam por hora – o equivalente a R$ 6 – e têm direito a café, chá, água, frutas, torradas, e "medias lunas", os deliciosos croissants argentinos de massa doce. Um cardápio à parte dá algumas opções de refeições leves, como saladas e sanduíches.

"Não queríamos parecer um escritório", diz Florencia Faivich. Para Marcelo Cora, seu sócio, as mudanças no mundo corporativo e a busca por qualidade de vida levam muitos profissionais a trabalhar em casa, "mas muitas vezes a casa não é um bom lugar para se trabalhar".

Para os clientes habituais, que podem comprar pacotes mensais, um pagamento adicional de 150 pesos (cerca de R$ 60) lhes permite usar o endereço da Urban Station como próprio, com o recebimento de encomendas e a transmissão de recados telefônicos. É quase como se fosse mesmo um escritório, com toda a rede de contatos típica desses ambientes. "Temos clientes que já começaram a fazer negócios entre si", diz Florencia.

O público que passou a frequentar a Urban Station surpreendeu seus fundadores. Inclui professores de idiomas que aproveitam o espaço para dar aulas, agências de publicidade que fazem ali as pré-produções e até executivos de recursos humanos que escolhem o local para entrevistar candidatos a empregos. O tempo médio de permanência é de pouco mais de duas horas e 80% dos frequentadores têm entre 25 e 45 anos.

A aceitação foi tão grande que, em menos de dois anos, a Urban Station abriu sua segunda unidade em abril. Fica bem no centro de Buenos Aires, tem 320 metros quadrados e recebeu investimentos de US$ 200 mil.

Os sócios pretendem dar um salto muito maior. Têm um plano de negócios para, em um horizonte de cinco anos, montar uma rede de 45 pontos, incluindo o interior da Argentina e cidades do exterior. "Sim, definitivamente temos interesse no Brasil", adianta Florencia Faivich. Um grupo suíço está desenvolvendo um sistema de franquias para a Urban Station. "Já recebemos consultas de interessados em São Paulo e no Rio", comenta Bisurgi, que vai logo avisando: "Não negamos um café a ninguém, mas somos bastante exigentes para avançar nas negociações".

(Daniel Rittner | Valor)

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