Espanhóis fazem acordo de venda da OHL Brasil

Em uma operação de troca de ativos, o grupo espanhol Obrascon Huarte Lain (OHL) fechou acordo com a também espanhola Abertis Infraestructura para vender a subsidiária OHL Brasil, companhia especializada em concessões rodoviárias. O acordo foi divulgado ontem pela OHL Brasil por meio de fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
 
A OHL Concesiones deve ser cindida e essa parte passará a ser propriedade da Abertis, o que inclui a controlada Partícipes en Brasil – que detém 60% da OHL Brasil. Outros 22,5% da empresa brasileira são negociados em bolsa. Em outras palavras, o controlador indireto da OHL Brasil passaria a ser a Abertis. A OHL também irá transferir à Abertis passivos de € 530 milhões. Em troca, a OHL ficará com 10% da Abertis.
 
O contrato prevê ainda a venda da OHL Chile, em operação independente – que pode alcançar € 200 milhões, segundo agências.
 
A OHL Brasil "continuará como companhia aberta e seguirá com sua estratégia de desenvolvimento (…)", segundo texto assinado por Alessandro Levy, diretor de relações com o investidor da OHL Brasil. As operações "estão pendentes de diversos requisitos e trâmites habituais neste tipo de processos, entre eles a negociação dos contratos definitivos".
 
"Seria um negócio transformador para a companhia, assim como iria adicionar uma rede de rodovias nos estáveis e maduros mercados do Brasil e do Chile", disse o presidente da Abertis, Salvador Alemany, em relatório sobre resultados trimestrais da companhia, divulgados ontem. Já o diretor-geral da Abertis, Francisco Reynés, disse que o negócio transformaria a empresa em líder de concessões rodoviárias. "O negócio daria a liderança global no setor de rodovias, tanto em quilômetros administrados, mais de 7.500, como em faturamento e Ebitda." Na Espanha, a Abertis já comprou uma participação na Hispasat, companhia de satélites, e é candidata à concessão de aeroportos.
 
O acordo para a venda ocorre cinco anos depois da OHL Brasil ter sido a grande vencedora dos leilões de rodovias do governo Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu à iniciativa privada em 2007 sete rodovias federais, sendo que cinco delas foram arrematadas pela companhia – por exemplo, trechos da Fernão Dias e da Régis Bittencourt. A companhia entra agora em momento mais intenso de investimentos nas rodovias brasileiras – estão programados a partir deste ano desembolsos que alcançam R$ 3,3 bilhões até 2015.
 
Por ter sido a grande vencedora do modelo de concessão da era Lula (que dava ênfase a baixas tarifas), a OHL Brasil despertou a ira de grandes grupos nacionais e é frequentemente criticada por supostos atrasos em obras, embora ainda tenha cerca de um ano para entregá-las, de acordo com o edital de concessão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Para os concorrentes, a OHL Brasil foi tão agressiva nos preços oferecidos ao governo que, após ganhar os leilões, não teria dinheiro para fazer as obras. Hoje, no entanto, o tráfego e a receita coincidem com o calculado na época pela companhia, segundo seus executivos.
 
Em recente entrevista ao Valor, o presidente da OHL Brasil, José Carlos Ferreira de Oliveira Filho, descartou qualquer alteração nas operações brasileiras por conta da crise na Espanha. "[A operação] é independente. Na Espanha, as empresas que tiveram visão e conseguiram se internacionalizar melhoraram", disse naquela época.

(Fábio Pupo | Valor)

 

 

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