Gerdau acelera investimentos em mineração e porto

Ao mesmo tempo em que faz negociações com potenciais parceiros para explorar comercialmente parte das reservas próprias de minério de ferro, o grupo Gerdau anunciou investimentos de R$ 838 milhões para aumentar a produção da matéria-prima das atuais 6,5 milhões para 11,5 milhões de toneladas por ano até 2014. Até lá, a expansão vai gerar um excedente de 5 milhões de toneladas anuais para venda, mas o grupo já planeja construir um terminal portuário próprio em Sepetiba (RJ) capaz de embarcar até 70 milhões de toneladas por ano.
 
As reservas da Gerdau nas minas de Miguel Burnier, Várzea do Lopes e Gongo Soco, em Minas Gerais, somam 2,9 bilhões de toneladas e o objetivo do grupo é suprir com minério próprio 100% da demanda de 6,5 milhões de toneladas anuais da Açominas ainda em 2012. O que for produzido além deste volume será comercializado, disse ontem o diretor-presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter, durante teleconferência para comentar os resultados do primeiro trimestre.
 
Johannpeter não fez previsões sobre quando deverá definir o futuro parceiro da Gerdau na exploração das reservas minerais, mas disse que o processo está se afunilando. "Agora estamos na parte das visitas", afirmou. Segundo ele, os investimentos de R$ 838 milhões no segmento até 2014 incluem uma segunda unidade de tratamento da matéria-prima em Miguel Burnier e um sistema de logística (uma estrada, um terminal ferroviário ainda em definição e uma correia transportadora de nove quilômetros para levar o material até Ouro Branco).
 
Já o vice-presidente executivo de finanças, controladoria e relações com investimentos do grupo, Osvaldo Schirmer, explicou terminal portuário próprio previsto para Sepetiba terá capacidade total para movimentar 80 milhões de toneladas por ano, incluindo a importação de 10 milhões de toneladas de carvão mineral para abastecer as usinas do Sudeste. O investimento e o prazo estimados para o projeto não foram informados, mas o executivo explicou que o terminal será implantado em duas etapas.
 
A alta dos custos das matérias-primas, incluindo minério de ferro, carvão mineral e sucata, foi uma das razões apontadas pelo grupo para a queda das margens no primeiro trimestre. Apesar da alta de 10% na receita consolidada líquida ante igual período de 2011, para R$ 9,2 bilhões, a margem bruta da empresa recuou de 14% para 12%, enquanto o lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) caiu 8,5%, para R$ 1 bilhão. O lucro líquido consolidado diminuiu 3%, para R$ 397 milhões.
 
Conforme Johannpeter, o desempenho foi afetado ainda pela "desindustrialização" da cadeia do aço na América Latina e no Brasil, onde o grande volume de chuva em Minas Gerais também afetou a produção, as entregas e o suprimento de matérias-primas da Açominas. Outro motivo foi a queda de 6% na venda de aços especiais, para 698 mil toneladas, devido à retração de consumo na Europa e à antecipação dos pedidos para o quarto trimestre de 2011 no Brasil. No total, as vendas consolidadas da Gerdau permaneceram estáveis em 4,7 milhões de toneladas de aço, enquanto a produção aumentou 4%, para 4,9 milhões de toneladas.
 
Com isso, embora o executivo veja "perspectivas positivas" para o setor a partir do segundo semestre de 2012 e também em 2013, com base nas projeções de consumo global de aço da World Steel Association, os analistas ficaram frustrados com o resultado do trimestre. Em nota, o banco Barclays disse que o Ebitda do grupo ficou 7% abaixo das suas expectativas. "Consideramos o resultado da Gerdau uma decepção modesta", relatou a instituição.
 
O analista Marcos Assumpção, do Itaú BBA, comentou, em nota, que os resultados foram afetados por uma menor diluição dos custos fixos. Ele chamou a atenção para a queda de 7% na produção no Brasil, ante o trimestre imediatamente anterior (para 1,751 milhão de toneladas) em função das chuvas em Minas Gerais. Para Rafael Weber, da Geração Futuro, os acionistas da Gerdau "estão em situação de desconfiança e apreensão" porque tanto dos dados da produção industrial quanto da venda de veículos no Brasil vieram abaixo do esperado em março.
 
Para a corretora Concórdia o desempenho da Gerdau no trimestre também ficou "aquém das expectativas", sobretudo porque esperava margens melhores na América do Norte, onde as vendas cresceram 7% ante o primeiro trimestre de 2011, para 1,752 milhão de toneladas (já a margem bruta na região caiu de 12% para 11%). Mesmo assim, a corretora acredita em perspectivas "melhores" para o grupo, especialmente por conta dos investimentos em infraestrutura na América Latina, do setor da construção civil no Brasil e da retomada do mercado automotivo nos Estados Unidos.

(Sérgio Ruck Bueno e Daniela Meibak | Valor)

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